O futebol europeu endividado

Por sergio

Do Valor

Times da Europa têm dívidas de 5,5 bilhões de euros

Assis Moreira, de Genebra
05/03/2010

Os principais clubes de futebol da Europa acumulam dívida líquida de € 5,5 bilhões, numa situação explosiva que levará a Federação Internacional de Futebol (FIFA) a discutir os riscos financeiros dos times europeus em reunião no dia 18 em Zurique.

Quase € 3 bilhões são devidos aos bancos por apenas 20 equipes, incluindo justamente as que mais faturam como o Real Madrid, Manchester United e Milan, pelo que se conclui de dados da Federação Europeia de Futebol (Uefa). Pelo menos 47% dos times europeus não são capazes de cobrir seus custos e 23% dos grandes continuam a sofrer perdas de mais de 20% de renda. Segundo a Uefa, de cada € 5 mil de faturamento, a maioria dos times gasta em média € 6 mil.

Uma parte da explicação está na folha de salários. Segundo a consultoria Deloitte, na temporada de 2008 o total dos salários na Primeira Liga inglesa ficou próximo de € 1,5 bilhão. Um jogador médio ganhar € 100 mil por semana já parece coisa superada.

Sem surpresa, o grosso do endividamento dos clubes europeus se concentra nos clubes da Primeira Liga da Inglaterra, com € 3,6 bilhões. Somente o Chelsea e o Manchester United acumulariam dívidas que somariam € 1,9 bilhão, de acordo com diferentes fontes.

Na Espanha, o débito líquido é estimado pela Uefa em € 1 bilhão no caso dos principais clubes. O Real Madrid, que tornou-se o primeiro clube de esporte coletivo a faturar mais de € 400 milhões por ano, globalmente, tem sozinho uma dívida bruta próxima de € 700 milhões, que sua diretoria considera “administrável”.

O Real Madrid encareceu o mercado com as contratações milionárias que totalizaram € 219 milhões para o campeonato deste ano, incluindo as aquisições do português Cristiano Ronaldo e do brasileiro Kaká.

O endividamento líquido dos principais times italianos é de aproximadamente € 500 milhões. Mas outras fontes estimam que apenas o débito bruto do Milan, time do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, ficaria próximo de € 400 milhões.

Os clubes europeus faturam muito, mas o endividamento os ameaça. As cifras na verdade se chocam com conclusões da consultoria Deloitte, de que o futebol se tornou um “negócio altamente desenvolvido”. A empresa acaba de publicar um estudo intitulado “Money League”, enfocando o faturamento dos 20 principais clubes europeus, que são, na prática, os mais ricos do mundo.

Segundo a Deloitte, o faturamento conjunto dos 20 maiores clubes passou de € 3,9 bilhões (R$ 9,5 bilhões) na temporada 2008/2009, numa ligeira alta em relação à temporada passada, com os negócios no futebol “resistindo” diante da recessão global que cortou empregos e salários.

O Real Madrid conseguiu se manter pelo quinto ano consecutivo na liderança de ganhos dos clubes de futebol, mas sobretudo superou a barreira dos € 400 milhões. O Barcelona, vencedor de todas as competições de que participou, não fica atrás. Ficou em segundo, confirmando o predomínio do futebol espanhol na cena internacional.

O Manchester United perdeu a segunda posição por causa da degringolada de 21% no valor da libra esterlina no ano passado. O quarto foi o Bayern de Munique e o quinto, o Chelsea de Londres que é controlado por um bilionário russo.

A principal fatia do faturamento dos clubes vem dos acordos de transmissão dos jogos. Esse negócio rendeu € 1,6 bilhão, representando 42% do ganho total gerado pelos 20 maiores times. As transmissões de TV são também o negócio mais seguro para as equipes, com contratos de médio prazo.

Os negócios comerciais, incluindo propaganda na camisa, venda de material esportivo etc, renderam outros 32%. A bilheteria gerou a parte menor, com € 1 bilhão (sem crescimento), fazendo 26% do total ganho na temporada.

A maior parte do faturamento do Real Madrid veio dos direitos de TV (€ 161 milhões), que supera o faturamento global individual dos times a partir da 11ª colocação entre os 20 maiores.

O Barcelona faturou € 2,4 milhões de euros a menos nesse segmento. No rendimento commercial, o Real Madrid leva enorme vantagem sobre o Barcelona, já que o clube catalão tradicionalmente recusa publicidade em sua camiseta. Na verdade, tem uma parceria com a Unicef, pela qual na verdade o clube é que dá uma contribuição financeira à agência de proteção das crianças.

Ao mesmo tempo em que são os mais endividados, os clubes ingleses têm contratos bilionários de transmissão de TV. O campeonato teve seus direitos de TV negociados em meio à maior crise economica global dos últimos tempos, mas obteve alta de 4%, para € 2 bilhões, para as transmissões domésticas entre 2010/2011. Foi o único a negociar tambem contratos para transmissões fora da Inglaterra. O pacote seria de € 1,3 bilhão, 70% a mais do que o acordo precedente.

Luis Nassif

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