Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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O futuro da agropecuária brasileira, por Rui Daher

por Rui Daher

na CartaCapital

Na semana passada, as Andanças Capitais chegaram ao Rio Grande do Sul. Lá constatei, num mesmo espaço, nosso mote Paulinho da Viola: a agropecuária vista assim do alto ou com a lupa.

Foi na 39ª Expointer 2016, exposição realizada em Esteio, cidade a 25 km de Porto Alegre. Mais voltada aos animais do que às plantinhas, ela ganhou enorme dimensão quando se tornou internacional, a partir de 1972.

O estado do extremo sul é produtor agrícola importante, o quarto em valor bruto de produção, atrás apenas de São Paulo, Mato Grosso e Paraná, segundo o IBGE.

Em 2014, representou 12% do total nacional, plantou 8,5 milhões de hectares, produziu quase 30 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas, gerando R$ 23 bilhões. Nas serras gaúchas é alta a produção de frutíferas, carnes e agroindústrias.

Cenário físico, cultural e humano de um país diversificado em climas, relevos, aquisições naturais e gentes, complexo e pobre nas interações econômicas, porém, simples na convivência de etnias. O gaúcho Darcy Ribeiro foi quem melhor entendeu o quanto isso é bom para formar uma nação.

Da boina do colono ao chapéu de couro ou palha dos caboclos e sertanejos; das moças vestidas polacas, lituanas, russas, italianas, alemãs até as chitas e rendas paulistas, mineiras ou nordestinas; dos sambas, catiras, baiões e maracatus às milongas e chimarritas. A diversidade cultural invoca a biodiversidade em flora e fauna.

Já provou chuleta, costelão, arroz carreteiro, polenta bruscolada, queijo maturado em vinho, cucas? Não? “Então, vem comigo”, homenagem explícita que faço ao jornalista Goulart de Andrade, recém-falecido.

O Parque de Exposições Assis Brasil tem área de 141 hectares. O dobro da média das propriedades agrícolas brasileiras (68 ha), segundo o Censo 2006 do IBGE. Extensas áreas para exposição, leilões, práticas e guardas de rebanhos bovinos, equinos, ovinos e todos os demais, hoje em dia substituídos nas tração e mobilidade por enormes gafanhotos, polpudos besouros, ETs incríveis, marcas Deere, Holland, Ferguson. Certeza de que esses senhores estrangeiros, da mesma forma que os colonos pampeiros que me ofereceram chimarrão, não devem ter-se arrependido de vir para o Brasil.

Na área, 45,3 mil m² são de pavilhões cobertos; 70 mil m² espaço de arenas para apresentação dos animais, auditórios para leilões e palestras, centros de julgamentos, 10 mil vagas para estacionamento, internet, postos médicos, restaurantes e agências bancárias.

Diferente das muitas feiras e exposições que conheci, onde stands removíveis são montados especificamente para aquele fim, em Esteio, boa parte dos expositores usa casas lá construídas há muito tempo, estruturas fixas, bem arquitetadas. Houve momentos em que me senti em Wichita, na companhia de John Wayne.  

Nessas casas, comidas animais, remédios veterinários, equipamentos para tirar leite, acessórios em geral, miscelânea pecuária. Sim, uma tabacaria me forneceu um “puro” e um bar me serviu uma “artesanal”.

Nesse cenário, pouco diferente do que muitos devem conhecer, pus-me a pensar nos caminhos futuros da agropecuária brasileira em mundo político, econômico e social que progride (?) destruindo bases de sistemas produtivos e trabalhadores em seus ritos fundamentais para beneficiar os sistemas financeiros nacionais e internacionais.

Tal despertador tocou no exato momento em que deixei o pavilhão da agricultura familiar e uma apresentação da Emater/RS sobre sustentabilidade.

No pavilhão, mais do que a lida agrária, seus produtos finais. Não contei, mas deveriam ser mais de 200 stands, cada um com não mais de 10 m². Salames, copas, ervas, selas, arreios, doces, artesanatos.

Para aí chegar, a agricultura familiar usou mãos, terra, enxadas, insumos, novamente mãos, igrejas, comunidades, festas, apreensões, esperanças, descréditos e ignorantes intolerantes. Nem todos venceram, mas continuarão na vanguarda de nossa sobrevivência.

Em suma, agregaram valor e entraram no agronegócio.

Discordam? Se espantam? A se manterem as tendências econômicas expostas pela volta ao modelo neoliberal, expostas pelo governo golpista, a agropecuária brasileira, em dez anos, estará no mesmo estágio de hoje.

Se não mudar de ideia, volto ao assunto.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

6 Comentários

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  1. O Mineiro Darcy Ribeiro…..O

    O Mineiro Darcy Ribeiro…..O Grande antropólogo autor do livro o POVO BRASILEIRO….Ielaiador do CIEPS, da Universidade de Brasilia, e muito mais…eparceiro de Leonel Brizola  

    1. Verdade, Cezar

      obrigado e desculpe-me; às vezes, mesmo que vc já tenha lido quase tudo do autor, cite-o com frequência, a biografia sempre é bom consultar. Mais uma vez, os leitores que me desculpem. Abraços 

  2. o futuro….

    Caro sr. Rui, primeiramente parabéns pelas fotos. A agropecuária, o agronegócio é feito por brasileiros. É a primeira das riquezas que plantamos no nosso solo. O estado mais agrícola que temos é São Paulo (e não damos conta disto). Riqueza, desenvolvimento, condições sociais pujantes é o resultado de tal pratica soberana e nacional. Onde o agronegócio e a agropecuária são mais desenvolvidos, estados ou regiões, as condições sociais são mais prosperas. São lugares que o progresso economico carrega junto o progresso social. Deixemos de lado a região sul. Onde chegou o agronegócio no interior da BA, MT, MS, GO, TO, Vale do São Francisco, mesmo regiões de RO, RR ou mesmo MA e PI , todos indicadores sociais evoluiram. Mas um certo preconceito ideológico tupiniquim insiste em não enxergar o óbvio.  Algo que não vejo contastado pela mídia ou especialistas do setor é a influência da expansão da agropecuaria exercida por gaúchos, catarinenses e paranaenses (graças a Deus), e como o sr. mesmo menciona, toda a gama de povos, conhecimento, cultura que é carregado com esta migração cujo adjetivo não pode ser menos que “maravilhoso”. Não é apenas a expansão agricola. É um alto nível social, ideolóigico, politico, educacional, estruturação familiar, nacionalismo, conhecimento técnico e outras centenas de condições sociais que permitem o avanço onde esta gente se instala. Parabéns brasileiros. Quem sabe um dia a maior parte do Brasil se pareça mais com o RS ou SC, e então teremos “EXPOINTER’S” por todo o país. Abs.     

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