Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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O mítico ‘investidor’ em Davos, por Andre Araujo

O mítico ‘investidor’ em Davos

por Andre Araujo

A mídia econômica brasileira, como sempre, corre em estrada de terra atrás de carroças. O FORUM ECONÔMICO MUNDIAL DE DAVOS é apenas um NEGÓCIO, um evento comercial como se fosse uma LIDE mundial do João Doria. O Forum já teve seus dias de glória como porta-voz do globalismo financeiro, hoje está em franco descenso, perdeu importância pela própria dinâmica da economia mundial, nesta fase com tendência anti-globalista, em um ciclo de conflitos comerciais e geopolíticos de difícil solução, como o Brexit e o trumpismo.

Aquilo que a mídia econômica brasileira chama de “INVESTIDOR” de Davos é apenas uma ficção, Há dois tipos de investidores estrangeiros que interessam aos paises emergentes: as multinacionais da economia real que investem em subsidiárias ou parcerias e o executivo de fundos de investimento e de administradoras de recursos de terceiros que compram títulos, ações ou papeis de renda fixa, o chamado investidor financeiro.

Nenhum deles vai tomar uma decisão por causa de uma palestra em Davos ou em qualquer outro lugar. O mundo real é muito mais complexo.

Vou citar um exemplo. Um fundo de pensão do Canada, que acompanhei como consultor local no seu primeiro investimento no Brasil, há 8 anos. Para fazer UM investimento relacionado ao agronegócio levaram DEZOITO meses. Nove equipes de cinco pessoas cada vieram ao Brasil, percorreram o interior do Estado de São Paulo de ponta a ponta, ficaram dias em Institutos de Economia Agrícola (muito elogiados por eles), entrevistas em Brasilia com orgãos do Governo (a ANTAQ foi elogiadíssima pelo nível do atendimento), tiraram milhares de fotos, um trabalho de pesquisa com um nivel de detalhe extraordinário.

Depois disso fizeram o primeiro investimento no Brasil. Hoje têm aqui cerca de dois bilhões de dolares e abriram um escritório próprio em São Paulo.

Segundo informação deles, os maiores fundos de investimento, incluindo de pensões, soberanos, wealth management, têm robustos departamentos de análises com especialistas em setores. Ninguém vai atrás de discursos e promessas para investir, tampouco pessoal que realmente decide vai se informar em Davos ou nesse tipo de evento, onde o que mais tem é lobista, broker e vendedor de serviços financeiros.

Já no caso da economia produtiva, a análise é ainda mais completa. Quando, por exemplo, uma Johnson&Johnson vai construir nova fábrica, o processo de definição leva, em média, tres a quatro anos. Começa em pesquisa de mercado, depois na estimação do custo do ativo fixo, pesquisam cada motor e cada bomba, depois vem a análise do funding, do custo do capital, tudo isso é definido por equipe especializada. Nenhum discurso político tem lugar nessa análise e mesmo questões de macro-economia não são tão fundamentais. Multinacionais de porte investiram no Brasil em tempos de alta inflação e moratória cambial, o fator mais importante é a existencia de mercado, para ter uma fatia de mercado arriscam perder dinheiro por um tempo, uma fatia de mercado vale muito por si só, o grosso do investimento em fábricas no Brasil foi feitoõ em tempos de alta inflação, déficit público e risco cambial elevado.

A midia econmica “mainstream” dos Sardenbergs & Tecos tem dado ênfase catastrófica à Reforma da Previdência, “sem a qual o Brasil qubra”. Se isso fosse verdade, todo investimento estrangeiro no Brasil ESTARIA FUGINDO e não está. A Reforma da Previdência NÃO está assegurada e pode sair uma reforma muito abaixo das expectativas mas o Brasil não acaba, como não acabou com inflação de 80% ao mês.

Falta realismo na mídia econômica mas é evidente que a razão é a pobreza intelectual, o desconhecimento da História, da História Econômica e da História do Pensamento Econômico. Países não quebram, não acabam e não desaparecem, é preciso sempre relativizar a economia, como dizia Keynes.

Não ouvi na mídia brasileira nenhuma análise crítica sobre Davos. Os comentaristas repetem chavões sobre a importância de Davos sem nenhum tipo de aprofundamento, não se sabe se é por completa ignorância ou por má fé, ou pode ser por uma combinação do dois.

Depois dizem que o Paulo Guedes foi muito bem em Davos mas sem nenhum tipo de detalhamento de como ou porque, simples achismo.

Um jornalismo econômico de coluna social, quem falou com quem, como foi o almoço, nada além disso.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

4 Comentários

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  1. Enquanto resistirem tanto

    Enquanto resistirem tanto para aceitar que esse pessoal não faz jornalismo, e sim propaganda e militancia politica e ideologica, vão ficar nessa angustia, nesse desconforto em relação à midia comercial nativa.

  2. André, grato por compartilhar

    André, grato por compartilhar de sua experiência sobre investimentos. Sempre tive dificuldade em entender como esse ente “investidor” age. Por certo, como você expôs, não age orientado por um discurso raso e ridículo como o do nosso presidente.

     

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