O modelo furado do BC para medir os efeitos econômicos do coronavirus

Onde está o erro de lógica do BC, muito bem identificado por Conti: o comportamento da população, em caso de tragédia sanitária de grandes proporções.

Poucas vezes na história recente houve uma inundação maior de modelagens estatísticas e de cenários econômicos, do que os estudos estimando o desempenho do PIB com o coronavirus.

O grande desafio é que a lógica deve preceder as contas. Ou seja, tenho que entender, de maneira clara, os principais fatores de influência, as correlações entre eles para, a partir desse desenho, montar as formulações estatísticas. E, em momento de quebra de todas as séries históricas – como é o caso atual da pandemia – não há maneiras de criar modelagens estatísticas confiáveis,

São muitas as variáveis em jogo.

Uma delas, é tempo de permanência da pandemia e, por consequência, o tempo de isolamento social – e seus impactos sobre a atividade produtiva. Esse indicador depende de dados de alastramento da infecção, morbidade, descoberta (ou não) de vacinas etc. Outra, é o desenvolvimento da economia global e seus impactos sobre o comércio exterior.

Há, ainda, inúmeras interrogações sobre a eficácia das políticas públicas tanto no combate da pandemia como na recuperação da economia.

Foi recorrendo à lógica que o economista Thomas Conti, do Insper, identificou um erro crasso de lógica nos modelos econômicos do Banco Central – que servem de radar para o mercado.

Confira o gráfico abaixo:

Segundo essa leitura, quanto mais elevada for a curva da coronavirus, mais rápido será o fim do coronavirus e, consequentemente, mais rápida será a recuperação da economia: pura lógica bolsonariana. Se deixar tudo solto, enterrem-se os que morrerem e a economia será salva mais cedo.

Onde está o erro de lógica do BC, muito bem identificado por Conti: o comportamento da população, em caso de tragédia sanitária de grandes proporções.

“A partir de um certo nível de óbitos por dia e de uma dada velocidade de crescimento desse número, a resiliência social à tragédia simplesmente quebra. Pode ser a imagem de comboios funerários como na Itália; médicos de um dos melhores sistemas de saúde do mundo usando sacos de lixo como proteção como na Espanha; um aeroporto sendo convertido em necrotério como no Reino Unido; valas comuns e 800 corpos jogados dentro de casas para serem retirados em um dia em Nova York… as pessoas não aguentam. Se fosse um dia disso, seria mais fácil. Mas depois de ver isso uma vez e imaginar que amanhã será pior, e depois de amanhã ainda pior, dia após dia durante semanas é avassalador. A demanda social se torna clara: alguém só faça isso parar, por favor”.

Ou seja, o pavor levará a um lockdown (parada total) completo, como está ocorrendo na Itália, Espanha e Reino Unido e, agora, nos Estados Unidos.

O oposto ao lockdownsendógeno é o lockdown exógeno, medidas de isolamento adotadas como política pública deliberada de prevenção da curva de contágio, e não reação ao medo do público.

A partir dessa mudança na lógica, Conti redefine as linhas do gráfico levando em conta algumas métricas de corte – número de leitos e capacidade funerária.

Em favor dessa tese está a realidade, de que todos os países que aceitaram a curva de contágio não-controlada, tiveram que recuar muito antes de atingir o pico de contágio descontrolado.

Além disso, os modelos epidemiológicos constataram que, quanto maior o número de infectados, menos eficaz será o isolamento. Ou seja, nem um isolamento forte conseguia conter o colapso do sistema, retornando a um padrão sustentável rapidamente.

O segundo tempo do jogo seria o isolamento total, assistindo diariamente a um filme de terror nos noticiários televisivos. Estudos da Universidade de Oxford constataram que a maioria dos casos de isolamento mais fortes apareceram depois da explosão do coronavirus, não antes dela.

O imenso prejuízo do Lockdown Endógeno
Luis Nassif

6 Comentários

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  1. São diversos os fatores e eu não me atrevo a palpitar no todo, só em partes ..sei POR EXEMPLO que turismo, como agencias, transportes rodoviários e aéreos, hotelaria, restaurantes, serão seriamente afetados ..bens duráveis serão ou não, dependendo do tempo e das linhas de financiamento, dos efeitos sobre os empregos pós impactos, como com automóveis e construção civil ..doutra feita, com super mercado, alimentação, bebida, limpeza, serviços públicos (agua, energia, telefonia, cabo, net), farmácia, química, serviços públicos civis e militares, aposentados e pensionistas, aqui os efeitos serão BEM MENORES, claro tb que tem outros como o agronegócio, papel e celulose, siderurgias, commodities que dependerão da recuperação estrangeira
    ..EMBRULHANDO isso tudo e mais um pouco teremos o efeito no sistema financeiro e o EFEITO DOS ESTOQUES que restarem, enfim, difícil prever, ainda mais com um governo desses que, deduzimos, MINIMALISTAS e anticíclicos, se mantidos, tem tudo pra ajudar a água a ferver, OU NÃO, caso mudem de posição e resolvam ser mais proativos,produtivos, COM BNDES, Petrobrás, Correios, BB, CAIXA e tudo.

    EM TEMPO, hj temos cerca de 2 mil mortes notificadas, os cartórios de SP e RJ falam em bem mais ..cemitérios dizem que em SP 30 são enterrados com suspeitas sem laudo todo dia. NÃO é difícil dizer que já batemos em 4 mil mortes no Brasil ..e se isso corresponde a 1% de letalidade como dizem os cientistas, já ESTIVERAM CONTAMINADOS (e hj seriam bem mais) 400 mil brasileiros que geraram estes cadáveres ..daí se vê o tamanho da encrenca

  2. Prezado Nassif, acho que ocorreram outras pandemias, peste negra, e ou mais recentes a gripe espanhola, acho que temos sim outros dados.

    Concordo com você, os modelos quase nunca levam em consideração o sentimento de preservação da vida. Quase sempre, de forma discutível, é o comportamento do agente econômico, diante de alternativas supostas objetivas. Resumindo a curva do banco central é o governo bolsonaro na sua essência, puro chute para justificar uma insuportável preguiça e omissão. Já está claro que o interesse do público não é o mesmo do interesse dos bancos e o banco central, em todos os governos, se omitiu diante do descalabro dos juros.

    Não vejo possibilidade de recuperação econômica, empreendorismo etc etc com os “spreads” de 25%a.a. esta sim é a verdadeira pandemia da economia que vem sendo mantida a anos. O banco central nunca achatou esta curva.

  3. Há um trabalho feito por economistas do FED de NY com o sugestivo nome “Pandemics Depress the Economy, Public Health Interventions Do Not: Evidence from the 1918 Flu” em que eles analisam a reposta econômica derivada da resposta epidemiológica ao nível de CIDADES norte-americanas.
    Em 1918 como a mobilidade entre as cidades era baixa o estudo verificou que as cidades que adotaram medidas de isolamento mais cedo, diminuindo a letalidade foram as cidades que reagiram mais rápido economicamente, ou seja, exatamente ao contrário do que propõe o IMBECIL do Banco Central brasileiro, é uma evidência empírica que fecha extremamente bem com o modelo teórico do Dr, Thomas Conti.

  4. Nassif,a sua afirmação q quanto maior o número de infectados menos eficaz será o isolamento me fez acender a luz vermelha, aliás o diferencial de Dória foi q se antecipou ao q estava por vir e com isso evitou o PLANEJAMENTO q alguns (quem?)tinham pra SP(quebrou as pernas deles(atrapalhou)!)

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