Coluna Econômica – 15/06/2010
A economia tem correlações muitas vezes difíceis de entender, eventos aqui que influenciam setores ali, gerando influências acolá.
Vou tentar montar uma explicação esquemática sobre a crise.
Sempre que existe muita moeda ou muito crédito em circulação, cria-se uma situação propícia para “bolhas de preços” – isto é, alta de preços de ativos (ações, títulos da dívida de países, commodities) muito acima do normal.
Essas altas, se continuadas por períodos longos, provoca o chamado efeito-manada. O investidor compra algo não por seu valor intrínseco, mas por acreditar que poderá passar para frente por um valor maior.
Cria-se a “bolha”, a alta artificial, que pode durar algum tempo ou muitos anos. Quando estoura, há o fenômeno da “deflação” – isto é, da queda violenta de preços. E aí escangalha com as garantias bancárias. É um efeito-cascata terrível, já que alguns ativos servem de garantia para outros ativos. Cria-se um buraco entre o dinheiro emprestado e as garantias, exigindo a intervenção dos Bancos Centrais, para impedir uma quebradeira generalizada. Foi isso o que ocorreu no ano passado.
Até então tinha-se uma crise financeira, que acabou tendo desdobramentos na economia real quando afetou o crédito das empresas. Recomposto o crédito, a economia mundial poderia voltar a funcionar. Isso não ocorreu devido a novos fatores.
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P aPara salvar o sistema financeiro, os Bancos Centrais mundiais precisaram emitir títulos de dívida em proporção muito grande. Mais que isso, enquanto as economias nacionais cresciam, aumentava-se a dívida pública sempre supondo que o crescimento da economia mantivesse as condições de solvência da dívida.
Quando houve quedas do PIB, ocorreram dois fenômenos complexos. De um lado, o crescimento da dívida e do déficit público tornaram-se incompatíveis com o novo PIB. De outro, veio à tona a parte mais perigosa do jogo especulativo: os pesados empréstimos concedidos a estados nacionais, hoje à beira da quebra.
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Criou-se então a armadilha. Estados Unidos e países europeus enfrentam o problema do déficit fiscal e da estagnação econômica.
Para combater a estagnação, precisam manter políticas de incentivos fiscais e juros baixos. Mas, fazendo isso, aprofundam o déficit fiscal. Com o aumento do déficit, aumenta a percepção de risco, provocando uma desvalororização nos títulos nacionais.
Por outro lado, se os países implementam políticas fiscais agressivas, matam a recuperação da economia, provocam conflitos sociais.
Mais ainda. Os Estados Unidos e a Europa sempre foram clientes preferenciais para produtos da China, Japão e Ásia em geral. Implementando políticas fiscais agressivas, cai o ritmo da economia, reduzindo as importações.
Sem o mercado interno como alavanca, os países passam a experimentar desvalorizações de suas moedas, para melhorar sua competitividade no mercado internacional. Fazendo isso, recria-se a mesma corrida suicida pós crise de 29.
E países que deixaram suas moedas se valorizarem de forma imprudente – o Brasil na frente de todos – pagam a conta mais adiante.
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