O panorama da economia nacional visto da ponte, por Luis Nassif

houve explosão nos preços do algodão, do material plástico (inclusive reciclados) e de papelão. Para conseguir algodão, há uma caça a produtores sem condições de exportar, por razões burocráticas. Quem pode, exporta.

Há uma falta de informação generalizada sobre a situação do abastecimento de insumos na indústria. Disseminam-se situações de falta de matéria prima, aumento descontrolado dos preços, especialmente dos comercializáveis, a formação de bolhas de estoques.

Vamos a um retrato de uma pequena cidade do sul de Minas, onde me encontro.

Nos salões de beleza, o conselho é para estocar material de beleza, porque irá faltar nos próximos meses. Na limpeza da piscina, o especialista recomenda estocar cloro, porque pode faltar.

Na fábrica de toalhas, as vendas ainda estão aquecidas. Mas houve explosão nos preços do algodão, do material plástico (inclusive reciclados) e de papelão. Para conseguir algodão, há uma caça a produtores sem condições de exportar, por razões burocráticas. Quem pode, exporta.

Até agora, tem-se um mercado aquecido para produtos de menor valor, em geral garantidos pela renda básica aprovada pelo Congresso. Para 2021, tem-se o seguinte quadro:

1. Fim da renda básica.

2. Pressão sobre preços ao produtor, especialmente de produtos influenciados pelo dólar. Este ano o IGP-M, que reflete as variações cambiais, aumentou mais de 20%.

3. Explosão do desemprego, com o fim da renda básica despejando no mercado de trabalho milhões de pessoas sem acesso a emprego.

4. Atraso na vacinação, postergando a normalização da economia.

5. Queda drástica na arrecadação fiscal da União, estados e municípios, com a queda do nível de atividade e a sujeição irracional da Economia à Lei do Teto. Este ano, uma das razões do aumento do déficit público foi, justamente, a queda da receita, decorrente da recessão.

6. Um presidente da República cada vez mais perdido e propenso a aventuras irracionais.

7. Uma oposição que não se entende, na qual todas as partes defendem o pacto, mas nenhuma abre mão de ser o protagonista mais relevante.

8. Um Supremo Tribunal Federal que só se ada foi pmove quando é diretamente ameaçado por Bolsonaro. Basta Bolsonaro refrear a fala para ganhar enorme espaço na destruição de todas as políticas públicas, sem reação do  STF.

E Bolsonaro continua recorrendo à escatologia para desviar as discussões dos temas essenciais. Desviou o tema do fracasso enorme da sua política de vacinação com declarações ironizando a tortura de Dilma Rousseff. Conseguiu, ao mesmo tempo, diluir o tema da vacina e contentar sua base de seguidores.

A política de vacinação tem sido um amplo fracasso. 

O Ministério da Saúde já deveria ter seu plano de vacinação acertado com estados e municípios. Já deveria ter adquirido seringas e outros equipamentos necessários. Finalmente, já deveria ter acertado a compra de vacinas, mesmo condicionando o fechamento do negócio à aprovação da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Até agora, nada foi providenciado. A temeridade de colocar um general jejuno em saúde à frente da pasta certamente custou milhares de vidas a mais, exterminadas ou prejudicadas pela doença.

Mas o país padece de uma insensibilidade crônica em relação aos seus. Continua permitindo todas as estripulias a Bolsonaro, desde que garanta a continuidade do grande negócio do desmonte do Estado.

Luis Nassif

8 Comentários

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  1. “…nenhuma abre mão de ser o protagonista mais relevante”

    “Protagonista” de quê, meu deuxxx?!

    As boçalidades de mercado fazem a cabeça de 2/3 do Congresso; o boçalnaro REPRESENTA 1/3 do eleitorado que engoliu doutrinação meritocrática e antissocial ao longo de décadas.

    Poucos entenderam o “cambio” do boçalão ao abraçar a cartilha neoliberal: “era o que tinha” de discurso econômico antipetista; ele viu o cavalo selado e montou. Até anteontem ele vociferava contra as privatizaçoes de estatais criadas pelos militares e outras mais.

    A coalizao pela desigualdade continua firme e forte. Estão se estranhando na chamada “pauta moral” e nas relações internacionais, “e olhe lá”. Como o Mourão bem disse, o 00 é somente “mais fisico”. Ou seja, são feitos da mesma lama, do mesmo barro, só o tempo de cozimento que difere. Ali Kamel, FH, Lara Resende, veio da Havan, Caiado….tudo a mesma sopa.

    …Duas gerações pra reverter isso aí, “taok”?

    E olhe lá! Com cagação de tese é que nao vai ser.

  2. E provavelmente não teremos o “Festival de Música das Montanhas”. Arrume uma turma e vá tocar.
    E nesse panorama econômico, vá entender o comportamento da bolsa. Abraços e Feliz 2021.

  3. Existe uma disfuncionalidade na economia, atualmente, mas que pelo visto ninguem está se apercebendo.

    A taxa de juros excessivamente baixa, atualmente negativa em torno de 3% ( selic a 2% e uma inflação corrente em torno de 5%). O correto, atualmente, seria uma selic de 6 a 8%, o que levaria a uma taxa real de juros de 2%.

    Essa taxa, ridiculamente baixa, está impactando os ativos reais, imóveis e ações principalmente e causando uma espécie de bolha, ou pré-bolha.

    Essa situação não pode perdurar por muito tempo, não tem como.

    Ou a selic vai subir, impactando assim a dívida pública e aumentando ainda mais todos os juros por ela balizados ou a inflação vai cair, voltando a corrente, próxima a zero, e isso só será possível se a economia voltar a não crescer nada este ano, que é algo que parece que não irá acontecer, até pela queda grande que houve ano passado.

    Enfim, a meu ver é uma grande disfuncionalidade, e de dificil solução e que me parece que ninguem está enxergando.

    Vamos aguardar para ver como esse fator será resolvido este ano.

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