Os 80 anos de FHC

Coluna Econômica

O que penso do governo FHC escrevi ao longo dos seus oito anos e, depois, no meu livro “Os Cabeças de Planilha”.

Primeiro, os defeitos.

Era um presidente sem gana de transformação, que deixou o cavalo do novo mercado de consumo passar encilhado à sua frente e não percebeu. Sua erudição passava ao largo da compreensão dos processos transformadores de país.

Não compreendia porque não tinha vontade. Sua única visão era a do controle do Estado – embora por vias democráticas. Foi isso que o levou a permitir a combinação juros elevados x câmbio apreciado que matou a imensa oportunidade do pós-Real de fazer aflorar o exército de novos consumidores.

Abominava qualquer forma de aproximação com o povo, a mera demonstração de solidariedade pelos sacrifícios impostos ao país pelos erros cambiais.

A dívida pública criada no primeiro governo – devido aos juros exorbitantes – foi das mais nefastas decisões de política econômica da história do país. Permitiu que a dívida saltasse de menos de 20% para mais de 50% do PIB sem acrescentar um ativo novo ao país.

***

JamaJamais se interessou por temas ligados à gestão, inovação e a tantas bandeiras que, desenvolvidas no país a partir dos anos 80, caíram no seu colo no primeiro governo.

Comprazia-se apenas em seguir a cartilha neoliberal, o financismo politizado de Pedro Malan e Gustavo Franco. Não se tratava de um projeto para o país, mas de um modelo de transformação política, no qual o poder financeiro foi transferido para grupos de banqueiros de investimento – tipo Daniel Dantas – a partir dos quais se pretendia o controle político do país, seguindo a cartilha posta em prática por Rui Barbosa, e que acabou resultando no “Encilhamento” – o movimento especulativo que quase destruiu a nascente República.

***

Esse movimento comprometeu 12 anos de país, os dois primeiros governos FHC e o primeiro governo Lula – por responsabilidade de Lula, não de FHC.

***

Do lado positivo, FHC trouxe a receita de estabilidade política que o impediu, inclusive, de ser deposto pela virulenta campanha da mídia – escudada nas “denúncias” de Antônio Carlos Magalhães – após a maxidesvalorização do câmbio em 1999.

Reside aí sua contribuição à construção do país. Celebrei essa competência política no artigo “Uma obra de arte política” – que acabou fechando a segunda edição de sua biografia política, escrita por um brazilianista.

Definiu algumas áreas de governo passíveis de barganha política com aliados. Montou aliança pesada com um grande partido – o DEM -, que lhe garantiu a maioria para sobreviver às sucessivas tentativas de CPI e de impeachment, a partir do segundo governo.

***

O grande erro político inicial de Lula foi não ter seguido a receita, preferindo amparar-se em uma constelação de partidos menores. No segundo governo recorreu à fórmula FHC, construindo uma aliança com o PMDB.

***

Mesmo assim, com todas as oportunidades perdidas, FHC entra para a história por ter construído as bases de uma estabilidade política que permitiu a consolidação da democracia no país. 

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador