Os caminhos do desenvolvimento – 1

Coluna Econômica

As primeiras economias hegemônicas do mundo se constituíram através do comércio. Especializaram-se em produtos de valor agregado, dominaram a navegação, criaram empresas, dominaram conceitos de contabilidade e puseram-se à conquista do mundo.

Constituíram colônias para fornecer matérias primas e tentaram incrementar suas próprias manufaturas.

Holandeses, espanhóis, franceses, ingleses, em todos esses casos as estratégias econômicas e políticas eram montadas por  Estados nacionais.

Era o chamado “mercantilismo” que, com o tempo, adquiriu novas facetas e novas denominações: desenvolvimentismo, economia política etc.

Antes do longo período de predominância da Inglaterra, alguns centros econômicos se consolidaram. E formou-se uma nova classe global, a do grande capital, responsável pelas primeiras experiências de articulação econômica global, acima dos países-Estado.

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A economia, como ciência e como ferramenta política, forma-se em torno desses dois polos.

Os internacionalistas, do grande capital, em cima dos ensinamentos de Adam Smith e de Ricardo – economista que defendia as vantagens comparativas, segundo as quais cada país deveria se conformar em desenvolver apenas os produtos em que fossem competitivos, em um modelo de especialização do trabalho em nível global.

Já os segundo grupo, o da economia política, foi moldado pelos ensinamentos do economista Friedrick List que, na primeira metade do século 19, demonstrou que os países passam por estágios de desenvolvimento que exigem, cada qual, políticas próprias. Nos primeiros estágios, há a necessidade da proteção do Estado, do estímulo às exportações, da proteção da indústria. Só depois de completado o ciclo, com indústrias competitivas internacionalmente, o Estado pode prescindir da proteção comercial e defender a liberalização. Ao defender a liberalização comercial para países fracos – ensinava List – o que se pretendia era a perpetuação das diferenças entre ricos e pobres.

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No fundo, a formação capitalista se deu em torno desses modelos. Numa ponta, a chamada economia real, as redes econômicas ligadas à produção, à indústria ou aos serviços. Nas outra, o grande capital, trabalhando fundamentalmente em cima da diferença de preços, quase como uma reedição do espírito do comerciante pré-revolução industrial. Na junção de ambos, as grandes multinacionais combinando o poder de produção com o poder financeiro.

Para o especulador clássico, seu ofício consiste em comprar barato e vender caro.

Tem enorme utilidade em períodos de grandes transformações estruturais, em revoluções tecnológicas ou em aberturas econômicas. Há a necessidade de uma realocação da poupança de setores que perderam o dinamismo para os novos setores dinâmicos. É um desafio impossível para o empresário tradicional.

Nesses momentos, o grande capital cumpre um papel único, de realocar a poupança para os novos setores, de fazer a ponte com as inovações globais e de acelerar a reestruturação. Especializa-se, também, em adquirir empresas em dificuldades, reestruturá-las e revendê-las com lucro – mas recuperadas.

Enquadrado, é imprescindível.

O comando do capital – 1

Quando submetido a visões estratégicas de Estado, o grande capital tem papel essencial. Em meados da década de 1960, o grande economista Ignácio Rangel apostava que a formação do grande capital brasileiro seria peça fundamental para o período pós-substituição das importações. O problema surge com a inversão de valores, ao submeter a política econômica aos interesses preferenciais do grande capital.

O comando do capital – 2

O problema surge quando o grande capital assume as rédeas da economia – como ocorreu com o Brasil desde a gestão Marcílio Marques Moreira, governo Collor, até Antonio Palocci, governo Lula, passando por Pedro Malan, no governo FHC. O bordão da lição de casa foi preponderante. O único objetivo de política econômica era assegurar a capacidade do Estado pagar taxas de juros escorchantes.

O comando do capital – 3

Quando assume as rédeas da economia, o grande capital perde os limites. O objetivo passa a ser a maximização dos lucros. Para tanto, seus porta-vozes – Ministros da Fazenda, presidentes de Bancos Centrais – tratam de desregulamentar a economia, permitir a criação de ferramentas especulativas cada vez mais ousadas, cortes expressivos em qualquer despesa públicas, mesmo as essenciais.

O comando do capital – 4

No Brasil, o predomínio do grande capital  – no longo período Marcílio-Henrique Meirelles – resultou em episódios que mataram diversas janelas de oportunidade que se abriam para a economia. Na partida do Real, a apreciação cambial – visando manipular operações no mercado futuro de juros – que abortou o salto de crescimento que poderia advir com a entrada de novos consumidores no mercado.

O comando do capital – 5

Depois, um enorme período com taxas de juros injustificáveis, que arrebentaram as contas públicas, mataram os investimentos públicos, paralisaram a administração. Obras fundamentais de infra-estrutura, energia, gastos essenciais com educação, saúde, políticas sociais, tudo foi deixado de lado para garantir o pagamento de juros que não eram praticados em nenhum país organizado do planeta.

O comando do capital – 6

Taxas de juros atraíam capitais especulativos de todo lado, provocando uma apreciação no câmbio que atrasou por décadas o desenvolvimento industrial brasileiro. Em dois momentos Lula poderia ter escapado dessa armadilha: quando assumiu, com o câmbio em nível elevado; e na crise de 2008, quando o câmbio também se desgarrou. Não aproveitou. Agora o país corre atrás de 20 anos de prejuízos.

Luis Nassif

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