Os cortes no orçamento

Coluna Econômica 14/05/2010

As novas estimativas do PIB para 2010 bateram nos 8,5%, segundo avaliações de mercado. De um lado, traz euforia, pelo ritmo chinês; de outro, provoca preocupações, devido aos efeitos sobre preços.

O indicador a ser acompanhado é o do consumo das famílias. Até março, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontava boa aceleração em relação a março do ano passado.

Mas há pontos a se considerar. Um dos pontos centrais da cadeia produtiva, “Veículos, motos, partes e peças” registrou aumento 20,7% no trimestre encerrado em março. Ocorre que em março encerrou a isenção de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), introduzida no início da crise mundial. Com isso registrou-se uma antecipação de vendas de carros. Portanto, a tendência será uma desaceleração nos meses seguintes.

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Outro ponto que estimulou a aceleração do PIB foi a recomposição de estoques.

A economia funciona mais ou menos assim:

1. Suponha que as vendas estejam correndo a 100 por mês. As empresas vendem 100 e mantém um estoque de, digamos, 200 para garantir a produção de dois meses. Com os estoques alinhados com o ritmo de vendas, a cada mês adquirem 100 em novas compras, mantendo os 200 de estoque.

2. Antes da grande crise, a economia estava muito acelerada e as empresas estocando especulativamente. Então, digamos que os estoques estivessem em 300.

3. Aí a economia estanca e passa a correr, digamos, a 50 por mês. Os estoques estão em 300. Logo, o nível de estoques passa a representar quatro meses de venda. Os estoques têm que cair para níveis de 100 – correspondentes a dois meses do novo ritmo de vendas. Até baixar de 300 para 100, a 50 por mês, as empresas interrompem as compras provocando um baque na economia mais que proporcional à queda das vendas para o consumidor final. Por isso a queda da produção (e do PIB) é maior do que a queda do consumo das famílias.

4. As empresas deixam de comprar de seus fornecedores até que os estoques caiam para 100. Ficam alguns meses sem comprar nada.

5. Ai volta-se para o ritmo pré-crise, de 100 por mês. Os estoques estão em 100 ou em menos. As empresas precisam recompor dois meses de estoques. Então além dos 100 adquiridos mensalmente, fazem compras adicionais de 200, até recompor o nível de estoques. Nesse período, as compras passam a ser de 150 ou 200 no mês – o dobro do ritmo anterior à crise.

6. Depois de recompostos os estoques, as compras voltam ao ritmo de 100 por mês.

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Nesse momento, as duas ferramentas macroeconômicas de que o governo dispõe são os juros manobrados pelo Banco Central, ou o orçamento, manobrado pela Fazenda.

Ao acenar com corte de R$ 10 bi nas despesas, o Ministro do Planejamento Paulo Bernardo pretende esvaziar as pressões do BC por aumento de juros.

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Os cortes deverão obedecer à lógica instituída no governo Lula: não se mexe na agenda social e em nada que afete consumo de massa e infraestrutura. Portanto, serão preservadas as verbas para educação, saúde, Ministério do Desenvolvimento Social e para as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Luis Nassif

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