Os erros reiterados de Paulo Guedes, e a volta da inflação, por Luis Nassif

A alta da Selic atrairá dólares, que derrubará o câmbio, causando uma dupla perda contábil na dívida pública. Com IOF, a apreciação do real viria acompanhado de uma fonte de receita fiscal. Com a Selic, haverá uma dupla perda fiscal, decorrente dos juros e da apreciação cambial.

Foto: Reprodução

Não espere nenhuma ação de Paulo Guedes visando recuperar a economia, apesar de suas promessas. Falta-lhe conhecimento mínimo sobre a estrutura de funcionamento da economia, assim como as relações de influência entre os diversos setores.

Tanto ele quanto o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não conseguem se debruçar sobre problemas reais e buscar soluções. Apegam-se aos manuais ortodoxos, sem a menor capacidade de análise empírica da economia. É como se a teoria fosse uma entidade independente da realidade.

Por exemplo, permitiu a desvalorização expressiva do Real.

Haveria muitas alternativas para segurar a desvalorização:

  1. Introdução de um IOF (Imposto Sobre Operações Financeiras), penalizando a saída.
  2. Atuação pró-ativa no mercado, valendo-se das reservas cambiais.

Nada fez. A desvalorização promoveu uma dupla pressão sobre preços de commodities e alimentos. À desvalorização cambial (aumentando os preços em reais) somou-se um aumento expressivo nas cotações internacionais, puxadas pela demanda da China. Essa dupla pressão explodiu os preços dos chamados produtos comercializáveis – aqueles que seguem as cotações internacionais, com influência grande na inflaão..

Mais uma vez, haveria alternativas para impedir os repasses aos preços internos:

  1. Imposto de exportação sobre os principais commodities.
  2. Fixação de cotas de exportação, para impedir o desabastecimento.
  3. Uso de estoques reguladores.

Nada foi feito.

Agora, os índices de inflação foram pressionados, muito mais no IGP (Índice Geral de Preços), mas também no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado), todo um movimento de alta, que poderia ter sido evitado com ferramentas convencionais. Como consequência do aumento da inflação, haverá um aumento na taxa Selic, atrapalhando ainda mais a recuperação da economia.

Por outro lado, a alta da Selic atrairá dólares. O aumento da entrada de dólares derrubará o câmbio. Derrubando o câmbio, haverá uma dupla perda contábil na dívida pública – por conta do aumento de juros e da apreciação do real. Com IOF, a apreciação do real viria acompanhado de uma fonte de receita fiscal. Com a Selic, haverá uma dupla perda fiscal, decorrente dos juros e da apreciação cambial.

Poderá reduzir a pressão inflacionária, à custa de um  prolongamento da recessão e de um aumento do custo da dívida pública.

Os resultados do IPCA

Confira abaixo.

Em fevereiro, o IPCA foi de 0,883%.Desse total, 0,455% foi do subgrupo de Transportes, puxado pelas altas dos combustíveis.

Quando se analisa o IPCA em 12 meses, o índice total foi de 5,87%. Desse total, 3,25% corresponderam às altas nos alimentos – puxadas pelo câmbio e pelas cotações internacionais. Transportes vem em segundo lugar, com 0,75%.

O importante é analisar o peso dos aumentos no índice final. Ou seja, alguns índices podem sofrer maiores aumentos, mas podem ter peso menor no orçamento familiar. Por isso, a melhor maneira de analisar os aumentos é calculando os impactos efetivos nas altas.

Confirma o subgrupo Transportes. No total, aumentou 0,455%. Desse total, 0,420% foi efeito combustível. O baixo impacto dos Veículos Próprios (0,045%) se deveu à redução do uso, em função do isolamento social.

Outro setor impactado foi o de Alimentos. No ano, dos 5,87% de alta, 2,8% se deveram aos Alimentos. Desse total, 0,68% foram efeitoda alta da Carne, 0,63% dos Cereais, leguminosas e Oleaginosas.

No ano, a alta dos alimentos foi de 17,13% Os 2,80% representam o peso da alta no ínice geral de preços. Desse total, a Carne 11,75% foi representado pelas Carnes.

Luis Nassif

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