Do Blog de Rui Daher no Terra Magazine
O caso dos gastos de Abílio Diniz com segurança pessoal faz pensar
Rui Daher
Quando o empresário Abílio Diniz, herdeiro e presidente do conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar, peitou seus sócios franceses do Casino, talvez não imaginasse a que ponto levaria a sua valentia, nem o quanto estava vulnerável.
O caso é conhecido. Passando por dificuldades financeiras, o grupo brasileiro, em dois momentos, recebeu vultosos aportes dos franceses. Como contrapartida, assinou documento que assegurava ao Casino o comando da empresa, em 2012.
Provavelmente arrependido, antes da data estipulada, Diniz tentou colocar outro francês no negócio, o Carrefour.
Não deu certo. O Casino, através de seu CEO, Jean-Charles Naouri, entesou e não admitiu a diluição do grupo com a entrada de outro varejista francês, no caso, seu maior concorrente. Acreditava numa manobra de Diniz para manter o controle.
Pois bem, nesta semana folhas e telas cotidianas nativas informavam que os novos controladores, em assembleia, decidiram limitar a R$ 1,3 milhão por ano os gastos com a segurança pessoal de cada beneficiário.
A medida tornou-se efetiva a partir de 1º de janeiro de 2013 e desde então deve sair do bolso de Abílio Diniz a diferença para os R$ 30 milhões, que se estima serem os gastos com a segurança pessoal dele e de seus familiares.
Lembremos que Abílio passou por uma situação traumática, em 1989, quando sequestrado por um grupo guerrilheiro chileno.
Não apenas a conta passou a arder no bolso do empresário, mas também o acesso livre de seus seguranças às dependências da empresa foi negado.
Esse é mais um episódio em que os que chegaram e os que saíram se enfrentam. Aos que veem isso de fora, impossível não pensar em vendetta da brava.
Abílio diz estranhar a mudança abrupta sobre uma situação que ocorria “havia décadas”, a empresa pagar suas despesas com segurança pessoal.
Segundo ele, um compromisso com etapas para a transição fora firmado, em dezembro do ano passado, com limite até 28/02. Agora, ameaça acionar judicial e criminalmente os diretores que lhe encaminharam a notificação, caso algo aconteça a ele ou seus familiares.
O outro lado conta que decidiu mandar a peça intimatória ao ver que Diniz não se mexia para cumprir o trato: pagar a diferença e retirar de lá a sua guarda pessoal.
É difícil entrar no mérito dos motivos que fazem pessoas, como Abílio Diniz, gastarem fortunas com segurança. Talvez, se achem indispensáveis para a empresa, para a cultura, seja lá o que for.
Cada um sabe o medo que tem, para usar de expressão educada. Ainda mais, vendo como anda a violência por aqui.
Um dos motivos é, sem dúvida, a exposição à mídia, uma via com duas mãos. Para se tornarem celebridades, muitos precisam dela; outros dela fazem questão pela vaidade; outros com ela se incomodam, mas não têm como evitá-la.
Quem deve estranhar tudo isso mesmo, ainda mais depois de saber que o pagamento da segurança rolava “há décadas”, são os acionistas minoritários do Grupo.
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