Os malabaristas e as aposentadorias

É inacreditável o malabarismo a que alguns economistas recorrem para mostrar os “malefícios” da aposentadoria no Brasil.

No ano passado, o IBGE divulgou pesquisa mostrando que a maioria dos aposentados é arrimo de família. Sua aposentadoria garante alguma estabilidade fundamental para que as crianças da família possam estudar.

Para rebater essa tese lógica, os economistas Maurício Cortez Reis e José Márcio Camargo prepararam para o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) o “TEXTO PARA DISCUSSÃO N° 1262”, intitulado “Rendimentos Domiciliares Com Aposentadoria e Pensões e as Decisões dos Jovens Quanto à Educação e à Participação na Força de Trabalho”.

Segundo a sinopse, a intenção do trabalho seria demonstrar que “os elevados (!) valores desses benefícios, ao aumentarem a renda domiciliar per capita, podem influenciar as decisões dos jovens moradores dos domicílios quanto a trabalhar e estudar. (…) Os resultados também indicam que essa redução na participação está associada a um aumento na proporção de jovens estudando. Entretanto, as evidências também indicam que rendimentos com aposentadorias e pensões aumentam a probabilidade de que os jovens não estejam estudando nem participando do mercado de trabalho”.

Juntam números daqui, tabelas dali, e quais são as conclusões?

1. As evidências mostram que, apesar do elevado retorno à escolaridade no Brasil, existe uma proporção considerável de jovens fora da escola. Os resultados estimados neste artigo sugerem que parte desse efeito se deve à presença de restrição de liquidez (N. do B.: falta de dinheiro).

2. Quando a renda do domicílio aumenta, vários desses jovens procuram investir em educação. Para os indivíduos que atribuem um valor elevado ao lazer (N. do B: os vagabundos) ou têm uma alta taxa de desconto, (…) é possível que a renda domiciliar com aposentadorias e pensões ofereça um incentivo para a redução da taxa de participação”(N. do B.: fiquem na vagabundagem), diminuindo o nível de produção.

3. Os resultados indicam, porém, que aposentadorias e pensões têm impactos mais acentuados sobre a probabilidade de os jovens freqüentarem a escola do que sobre a probabilidade de não participarem do mercado de trabalho nem estudarem.

Ou seja, a aposentadoria estimulando a vagabundagem é uma possibilidade.

A aposentadoria estimulando a escolaridade é uma certeza.

No entanto, suposição e conclusão são colocadas no mesmo nível na hora das conclusões. E a conclusão é diametralmente oposta ao enunciado na sinopse do trabalho. Mantém-se o enunciado escorado na suposição. Ou seja, supõe-se no enunciado; e supõe-se na conclusão. Craques do malabarismo!

Adaptando das velhas equações: CNQD (Como Não Queríamos Demonstrar).

Luis Nassif

15 Comentários

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  1. O estudo está certo Nassif. E
    O estudo está certo Nassif. E não é de hoje. No passado os coronéis também enfrentaram problemas graves com os negrinhos indolentes.
    Com o perdão da palavra… Vagabunda é uma parte relevante da nossa elite, que anda sugando trabalhador, agricultor e empresário que quer trabalhar, produzir e gerar riqueza. Esta elite de pedigree que adora um bom e prolongado momento de “lazer”, tem representante com nome e cargo conhecidos: Chama-se HENRIQUE MEIRELLES, o PRESIDENTE do BANCO CENTRAL do BRASIL!

  2. Nassif,
    isso aí parece que é
    Nassif,
    isso aí parece que é apenas a reapresentação no século XXI da teoria do XVIII conhecida como “fator Wakefield” (nome do teórico inglês), que assegurava com 100% de certeza que enquanto não se tomasse do camponês até o último pequeno lote de terra que ainda possuísse, este não se disporia ao dignificante trabalho assalariado, dada sua natureza inferior que o atava à vagabundagem, pois se contentava a viver com muito pouco, com “qualquer coisa”. Assim, Wakefield recomendava o uso da força para tomar o que restava de terras nas mãos do campesinato, para acabar com esta vadiagem.
    Abrçs.

  3. É a mesma lógica de FHC.O
    É a mesma lógica de FHC.O problema da previdencia é que as velhinhos estão vivendo demais.ASSIM NÃO PODE, ASSIM NÃO DÁ!!!!

  4. Uma canelada aqui, outra lá é
    Uma canelada aqui, outra lá é do jogo, mas essa tese é o cúmulo da caricatura preconceituosa. Cartão vermelho!

  5. Até parece que o Brasil é um
    Até parece que o Brasil é um pais onde tem pleno emprego. Se assim fosse poderiam falar uma asneira dessas. Que o jovem prefere viver às espensas das pensões e aposentadorias à trabalhar.

  6. Fica até díficil comentar: “
    Fica até díficil comentar: ” Os vagabundos querem mesmo é estudar.”
    É isso ? Como dois economistas criam uma pérola dessas ? Vou perguntar para o Macaco Simão o que quer dizer IPEA…

  7. Nassif, eu acho que os
    Nassif, eu acho que os malabaristas estão corretos. O Sr. e o Ministro da Previdência que são uns desinformados e enganam a população com “truques contábeis”…..

    Agora falando sério (se é que dá para falar sério sobre um “estudo” nada sério). Por que esses srs. que faem esses estudos não divulgam também o interesse ou o ponto de vista de quem estão defendendo? Ainda que equivocados (não acredito nesse termo, pois o que temos visto é um festival de mau-caratismo mesmo), pelo menos todos saberiam abertamente a quem interessa tais estudos…

    esse pessoal vive em qual mundo? se 350 paus é um rendimento elevado….se recebem esse valor por tais estudos, concordo que seria um valor elevado. Mas uma aposentadoria de 350 reais é uma afronta. Mal dá para comprar remedios (que grande parte dos mais idosos necessita)…

    Ainda que não propuseram a expatriação de pobres para o aumento da renda média…

  8. Nassif, nasci no interior do
    Nassif, nasci no interior do RS e trabalhei na roça até os 21 anos. Só pude sair porque fui estudar em internato franciscano. Recordo até hoje os primeiros meios-salários mínimos que os aposentados rurais do lugarejo recebiam. Movimentou a economia local, além de ter sido motivo de fixação das pessoas no campo. Não era muito, para a Previdência, mais foi a salvação para muito colono envelhecido pelo cabo da enxada. Tenho certeza que a aposentadoria rural tem custo muito inferior ao PROER.

  9. Nassif,

    O que a gente mais
    Nassif,

    O que a gente mais vê e rico na televisão pedindo paz, fazendo caminhada pela paz, etc.
    É bala perdida matando um aqui, outro acolá, é apartamento sendo alvejado por bala perdida, etc.
    Mas não foi a elite que criou esse monstro que aí está?
    Elite no Brasil vive dos bonos do tesouro nacional, por isso não podem abaixar os juros.
    Com isso o mar de pobres em volta da ilha de ricos é imenso.
    Uma hora dessas o mar vai inundar a ilha e seus moradores vão morrer afogados.

  10. Nassif,

    Quando eles dizem
    Nassif,

    Quando eles dizem que tem 12% de desemprego, eles estão contando o setor informal.
    Queria ver estes economistas de plantão, como diz o Joelmir, perder o emprego e passar para a informalidade dura e crua, será que eles ainda fariam uma materia como essa que você postou.
    Todas as pessoas que conheço que estão nessa, só estão até conseguir um emprego.
    São milhares de coitados vendendo picolé, doces, e outras coisas nas portas das fábricas, nas praças, nos pontos de ônibus, e tudo considerado como economia informal. Tenho parentes nesta vida, mal dá pra comprar o que comer.
    Olhando pra esse lado, o desemprego no Brasil bate à casa dos 40% tranquilamente.
    Como disse um que postou aí abaixo, só falta no Brasil instalar campos de concentração para exterminar: desempregado, aposentado, miseráveis e pobres em geral.

  11. Nassif,
    sou advogado, e em
    Nassif,
    sou advogado, e em razão do ofício tenho contato com parcela significativa da polulação mais pobre (clientes da assistência judiciária).
    O que se vê no dia a dia destas pessoas é o aposentado ajudando a despesas escolares dos netos, pagando PENSÃO ALIMENTÍCIA para os netos, quando os pais destes estão desempregados.
    Não tenha dúvida de que a aposentadoria dos avós (ainda que magérrima) acaba ajudando na subsistência dos filhos e netos.
    Até já vi o menor deixar de trabalhar para estudar porque algum aposentado está ajudando nas despesas (este foi o meu caso, quando fiz a faculdade!), mas nunca soube de jovem largando os estudos para gastar a aposentadoria dos avós.
    Se tal fato existe, é tão periférico que não justifica a uma conclusão como estes mal-intencionados chegaram.
    É picaretagem pura.

  12. Nassif,
    Poísé, esse problema
    Nassif,
    Poísé, esse problema é de séculos, primeiro eram os índios indolentes que se recusavam a ganhar dinheiro e gerar lucro, só queriam saber de subsistir e veja que absurdo, em harmonia com a natureza. Depois tiveram que importar negros, mas mesmo assim não adiantou muito, eles eram indolentes e preguiçosos, nem o chicote resolvia, agora, por fim, a culpa é dos aposentados e suas pensões que desvirtuam os seus netos à vagabundagem. hahahaha.
    Eu sinceramente achoq a culpa é da internet que faz blogueiros e leitores perderem seu tempo papeando ao invés de trabalharem… Nassif a culpa é toda sua, minha e de vc aí q tah lendo isso.

  13. Curto e grosso: esse pessoal
    Curto e grosso: esse pessoal não conhece um pobre seuqer! Aí fica criando estas hipóteses estaparfúrdias… como se pobre soubesse como “expropriar” o estado! Pobre ganha gorjeta, quem “expropria” foi quem se deu ao luxo de estudar e refletir sobre suas diversas formas… sempre um bom investimento!

    Ruben

  14. Eu não tinha pensado na
    Eu não tinha pensado na possibilidade de gerar vagabundos; realmente de acordo com a Constituição de 1988 dá e sobra, pois suporta: moradia;vestuário;família;médicos; dentistas; e quem sabe um carrinho. Não devemos considerar médicos, isso o governo gentilmente oferece de graça, \FILA DO MORRA BRASIL\; de acordo com a estatísticas os \PÉ NA COVA\ estão vivendo mais. Coitadinho do caixa dois.

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