Os negócios brasileiros na África

Da Folha

Brasil é tímido em negócios na África

Lula inicia 11ª visita ao continente, onde abriu 16 embaixadas, mas parcela na exportação passou de 4,7% a 5,6% em 7 anos

Comércio é concentrado em 6 países; europeus e especialmente chineses exploram mercado com financiamento elevado

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

O presidente Lula inicia amanhã sua 11ª viagem à África, arrematando ofensiva diplomática que incluiu a abertura de 16 embaixadas e chegará a 26 países visitados.

Mas, embora tenha aumentado nos últimos anos, a presença econômica do Brasil no continente de 53 países continua muito concentrada em seis parceiros, incluindo grandes produtores de petróleo e minérios, como África do Sul, Nigéria e Angola.

A economia africana crescia a 6% anuais até 2008, antes da crise, graças à demanda por matérias-primas. Neste ano, voltará a crescer mais do que as de Europa e EUA.

Em 2008, o comércio da região com países em desenvolvimento, China à frente, superou pela primeira vez as trocas com a Europa.

O Brasil integra esse movimento, importando commodities -o petróleo nigeriano provoca o deficit com a África- e exportando manufaturados (70% das vendas).

Entre 2002 e 2008, as trocas do país com o continente subiram 409%, mais do que o comércio total (245%).

No entanto, seis países -Angola, África do Sul, Argélia, Nigéria, Marrocos e Egito- recebem quase 70% das exportações brasileiras. Os primeiros cinco são também os que têm o Brasil entre os dez maiores parceiros, ante 26 que incluem a China nessa lista, e 22, a Índia.

MENOR PESO

A maioria das novas embaixadas está em países de menor peso econômico, e o governo as considera um investimento econômico e político de longo prazo.

As vendas para esses 16 destinos cresceram 499% de 2002 a 2008, sobre bases muito baixas, mas ainda representam só 7,2% das exportações para a região.

São só 13 os países hoje alcançados pelos seis maiores investidores do país na África -Petrobras, Vale, Marcopolo, Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez.

As obras de infraestrutura, grande filão do continente, continuam dominadas por grupos europeus. Os chineses, no entanto, já tomaram 21% desse mercado.

O fenômeno sublinha um ponto fraco brasileiro, a dificuldade de financiamento.

Enquanto os empréstimos de Pequim a governos africanos, para a contratação de empresas chinesas, chegam a US$ 30 bilhões desde 2000, só em 2007 o BNDES começou a financiar exportações para a África -US$ 1,54 bilhão até agora.

CETICISMO

Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington e que preside o Conselho de Comércio Exterior da Fiesp, é cético sobre os ganhos da diplomacia africana.

Ele acredita que a variação no comércio seguiu o ciclo econômico e aponta que a participação da região no comércio exterior brasileiro não subiu tanto -era de 4,7% em 2002, chegou a 7% em 2008 e está em 5,6%.

Além do câmbio desfavorável, as exportações enfrentam problemas logísticos -há falta de linhas diretas de transporte aéreo e marítimo.

A penetração dos produtos nacionais pode ser dificultada ainda por um projeto recém-iniciado pela China, que implantará zonas especiais de produção e comércio, com incentivos fiscais, em seis países africanos.

A ideia é abrigar, em parceria com empresários locais, pequenas e médias empresas chinesas cujos produtos hoje não entram nos países ricos. As zonas funcionarão como plataforma de exportação para os vizinhos e para a OCDE (grupo de 31 nações industrializadas). 

Luis Nassif

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