Os planos de Obama

Por Klinger Portella, da Agência Dinheiro Vivo

O dia 20 de janeiro de 2009 marca a posse do primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América. O democrata Barack Obama, 47, ex-senador pelo estado de Illinois, bateu o republicano John McCain nas eleições de novembro passado e assume com a responsabilidade de guiar a maior economia do mundo em sua pior crise desde a Grande Depressão da década de 1930.

Obama assume em um momento de grandes expectativas sobre suas ações na economia do país. Os detalhes do seu plano de estímulo econômico agradaram economistas que pedem um aumento do investimento público na infra-estrutura e nos gastos sociais, além do corte de impostos.

Embora não tenha apresentado detalhes de seus planos no discurso de posse – que durou cerca de 20 minutos, diante de uma platéia de 2 milhões de pessoas -, Obama reconheceu as dificuldades econômicas dos Estados Unidos e entoou, arrancando aplausos da multidão: “estamos prontos para liderar mais uma vez”.

Defendendo a manutenção dos “ideais” dos antepassados norte-americanos, o novo presidente apontou as dificuldades enfrentadas pela economia local. “Nossa economia está enfraquecida, como conseqüência da ganância de uns e nosso fracasso para preparar a nação para uma nova era. Foram casas perdidas, empregos perdidos e empresas dilaceradas.”

Obama destacou, ainda, os problemas de confiança, que são “menos mensuráveis”. “A sensação de perda da confiança no nosso país e o medo de que um declínio americano seja inevitável e a próxima geração menos ambiciosa”.

“Nossos desafios não serão enfrentados facilmente em pouco tempo, mas saiba disso, América: eles serão enfrentados”, completou Obama em seu discurso.

O presidente dos Estados Unidos confirmou a intensificação de investimentos públicos em infra-estrutura e disse que o estado da economia “exige ação rápida e corajosa”. Obama também assegurou maior regulação do mercado. “Essa crise nos lembra que, sem um olho que observa o mercado, ele pode se descontrolar, e uma nação não prospera se beneficiar apenas os prósperos.”

O pacote

Há duas semanas da cerimônia de posse, Barack Obama iniciou as discussões com o Congresso para a aprovação de um pacote de até US$ 825 bilhões para estimular a economia norte-americana nos próximos dois anos. Desse montante, US$ 275 bilhões viriam em redução e impostos e o restante, em investimento público.

Apesar de contar com a aprovação de economistas, o plano não deve ter efeito imediato. Isso porque, a isenção de impostos não é garantia de que os consumidores devolverão o dinheiro à economia, reativando o consumo. Do ponto de vista de investimentos, a liberação da verba para obras e a conclusão dos trabalhos fazem com que os efeitos do pacote sejam postergados.

Na imprensa e na opinião publica mundial, espera-se que a troca de presidentes também seja marcada por uma guinada na postura dos Estados Unidos em relação a diversos assuntos. Espera-se, por exemplo, que o governo norte-americano se torne mais sensível aos apelos para redução da suas emissões de carbono e amplie o incentivo ao desenvolvimento de formas de energia sustentável. Também é aguardado o fechamento da prisão de Guantánamo, em Cuba, que entidades ligadas à defesa dos direitos humanos acusam de desrespeitar direitos básicos de seus prisioneiros.

Pelo fluxo de crédito

O presidente eleito dos Estados Unidos irá exigir que os bancos que receberam apoio público intensifiquem a concessão de empréstimos, segundo informações de importantes conselheiros de Barack Obama – que prometeu fazer da retomada do fluxo de crédito uma prioridade para a nova administração.

Em entrevista à emissora de televisão ABC na véspera da posse, o estrategista sênior de Obama declarou que “ele (Obama) tem uma forte mensagem para os banqueiros”. “Queremos ver o crédito fluir novamente. Não queremos que eles se sentem em qualquer dinheiro recebido do contribuinte”, afirmou David Axelrod.

Já o diretor do Conselho Econômico Nacional, Laurence Summers, disse que os bancos que receberam injeção pública de capital devem aumentar seu nível de concessão.

Segundo o jornal britânico Financial Times, os comentários aparecem em meio às especulações de que Obama poderia anunciar planos para criar uma espécie de “banco agregador” dos ativos tóxicos que comprometem o andamento do sistema bancário a poucos dias da posse.

Já de acordo com o jornal norte-americano The New York Times, o pacote de recuperação econômica no valor de US$ 825 bilhões, e que começa a tomar forma no Congresso, irá incluir bilhões de dólares para a energia renovável e uma rede nacional de eletricidade para distribuí-la, impostos mais baixos para os cidadãos e a modernização de prontuários médicos e de escolas.

A Câmara e o Senado têm colocado sua estampa sobre o produto – afiando os custos de algumas propostas como a rede elétrica e a rejeição de alguns, como a intenção de Obama em dar US$ 3 mil de créditos para cada novo contrato de arrendamento.

Embora esteja destinado aos próximos dois anos, o plano de recuperação de US$ 825 bilhões é quase do tamanho do orçamento anual para setores como segurança social e cuidados médicos.

Como comparativo, Bill Clinton iniciou seu mandato em 1993 com apenas US$ 16 bilhões para estimular a economia – sendo que o Congresso controlado por democratas conscientes do déficit lhe recusaram a liberação do valor.

Luis Nassif

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Creio que o momento é
    Creio que o momento é providencial. A recuperação norteamericana me parece algo óbvio (questão de tempo). Paralelamente veremos duas transformações muito mais profundas na sociedade americana: a superação do racismo (Obama fez com que ser negro seja chique – graças à Deus) e a volta dos olhares do povo americano para o seu próprio eu, com a percepção de que eles não são os donos do mundo, não podem tudo. O mundo irá ganhar muito com isso.
    Para o mundo, está ficando claro que não é fácil dominar um país através de armas (basta olhar para o Iraque) e que dinheiro, por maior que seja a quantia acumulada) acaba.
    PS. Tenho duas apresentações em Power Point produzidos por um colega de Brasilia que mostra um resumo muito interessante das origens do Obama. Se alguém tiver interesse, é só me enviar um e-mail.
    [email protected]

  2. Obama tem um grande desafio
    Obama tem um grande desafio pela frente. É ótimo perceber a lucidez que ele tem em relação ao crédito, pois caso o credito não seja liberado, a moeda não circula, fica concentra nos bancos e as pessoas continuam inadimplentes. Muita Sorte para Obama!

    econoideias.blogspot.com

  3. Klinger Portella, peço que
    Klinger Portella, peço que disponibilize para a sociedade o TCC feito por ocasião de sua formatura no qual aborda a tragédia do Osasco Plaza Shopping, caso por sinal que possui várias semelhanças com o ocorrido com a Igreja Renascer.
    Atenciosamente,
    Bernardo

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador