Erros de gestão cometidos por empresários viram discussão entre especialistas

Jornal GGN – Num primeiro momento, foram apenas investidores qualificados, com poupança superior a R$ 300 mil, por ser um projeto de alto risco financeiro. Depois, pessoas físicas com menos patrimônio e objetivos mesmo que modestos na bolsa de valores também fizeram suas apostas. No entanto, um grave erro de gestão empresarial e uma série de equívocos estratégicos transformou em pesadelo o sonho de enriquecimento de quem depositou suas fichas na OGX, petroleira do grupo EBX de propriedade do empresário Eike Batista. E, moral da história, todo esse dinheiro pode virar pó, caso seus conselheiros não consigam reverter a situação financeira grave que a companhia atravessa.

“Precisamos separar o mundo das empresas de capital fechado das de aberto, elas são bem diferentes. No fechado: o acionista é majoritário, não precisa dar satisfações ao mercado, não é cobrado sobre eficiência, estabelece suas próprias metas e estratégias. No aberto, essas decisões saem da mão do empresário, passa a ter demanda dos investidores, e os mercados, por sua vez, estão sempre cobrando explicações e resultados. Essa é a principal diferença”, explica Claudio Gonçalves, professor de MBA em gestão de riscos da Trevisan Escola de Negócios.

Para ele, comprar ações é também comprar uma parte da empresa. E arcar com os riscos que um tropeço de gestão pode acarretar, mesmo podendo comprar ou vendê-las no momento em que se julgar oportuno. “Alguns empresários erram por seu excesso de otimismo com um projeto que não saiu do papel ou não sai do chamado business plan. Uma empresa sólida é aquela que primeiro abre, constrói faturamento e cultura interna, cria histórico de lucro por um dois anos e então sai para o mercado para arrecadar mais dinheiro para seus futuros projetos mais ambiciosos. Se este processo não for respeitado, dificilmente consegue-se entregar o que promete e as consequências do mercado para isso são brutais”.

O professor afirma que, muitas vezes, um momento de mercado cheio de liquidez pode encher os olhos de empresários, dando-lhe uma visão turva do que pode acontecer no futuro, bem como os dos bancos de investimento que, empolgados com a possibilidade de mais um “fee” interessante e gordo, acabam não avaliando com cuidado os riscos da previsão de vendas e lucros. “Numa empresa de capital fechado que abra o IPO, pode ocorrer o seguinte vacilo: o empresário, o chairman não se entregue o que promete. Por isso, nestes casos, transparência é indispensável e fundamental neste processo”.

O economista e professor universitário Dalton Viestri vai mais além nesta reflexão: decisões que precisam ser tomadas rapidamente acabam precipitadas em empresas grandes demais. “Muitos donos de empresas ou administradores no topo não podem perder oportunidade, pois enxergam que o negócio está efervescente e precisam ser ágeis, não fazendo assim a leitura adequada do mercado. A resposta dada pode ser equivocada”, avalia.

Viestri conta que a questão da leitura de mercado é uma grande briga nas grandes instituições. “Em Harvard, por exemplo, se fala muito disso: o empresário reclama que paga uma enorme quantia para funcionários e colaboradores fazerem um curso lá, e eles não conseguem sequer prever um problema econômico que o país vai passar, uma queda do setor, etc. Uma reclamação geral das grandes empresas. Mas sabemos que não é só disso que se faz uma grande corporação, que precisa ter um líder de visão, e não somente ousado”.

Para ele, as questões que levaram a OGX à atual situação não foram somente provindas da ousadia de seu líder. “Embora este impulso imprima sua característica dentro da empresa e até contamine as pessoas que ele escolheu pra estarem ao lado dele, estas mesmas pessoas podem não estar preparadas para dividir essas decisões sem nenhum risco. Os empresários mais jovens têm dificuldades de decodificarem o mercado com antecedência, mesmo tendo aporte pra contratar bons profissionais. Mas também com eles houve falhas na questão do timing pra fechar alguns negócios e tomar decisões. O mercado foi “agredido” pelo Grupo EBX, por exemplo, que conseguiu parceiros e apostadores apenas com um plano de negócios. Porém, na hora de dar a resposta que o mercado precisou, ele não conseguiu. Houve um erro estratégico nos momentos de reagir ou recuar. E agora está sofrendo com as perdas. Errou na leitura, inexperiência. Lidar com obrigações burocráticas do sistema, planejamento mais adequado que o tamanho do negócio exigir”, conclui.

O especialista falou que a ousadia renovada a cada novo gestor nas grandes empresas tem sido uma tendência. No entanto, citou um caso de sucesso recente, o Grupo Ultra. “A cada mudança de presidente, vinha um ainda mais ousado, conforme acompanhei de perto. Mas houve a entrega do prometido. Resultado: na década de 90, chegaram a um faturamento de US$ 7 bi. Na virada dos 2000, US$ 27 bi. Agora, bateram na cada de US$ 35 bi. Qual a receita? Um board bastante atuante, os ex-presidentes estão lá, decisões são discutidas pelo por eles. Houve a criação de uma cultura. Tomar a decisão sozinho, sem pessoas preparadas no suporte, aumenta as chances de erro. Governança corporativa é fundamental”, completa.

Redação

5 Comentários

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  1. Se a OGX tivesse entregado o

    Se a OGX tivesse entregado o dobro do que prometera, os mesmos especialistas estariam tecendo comentários de como um líder otimista faz bem a uma empresa. É assim mesmo. Perdeu quem quis especular. Bem feito.

  2. Erros de gestao cometidos por empresarios viram discussao entre

    Revista veja 2252.capa Enriquecer é glorioso:Eike Xiaoping: texto: a nova leva de milionarios brasileiros tem eike batista como idolo,trabalho muito,compete honestamente,orgulha-se de gerar empregos e não se envergonha da riqueza.Opiniao de um ignorante como eu:”CONTO DO PACO”.Fui representante de duas malharias sinônimos de camisetas durante toda minha vida.Sulfabril pediu auto-falencia em 98.Cia Hering com seus 136 anos,patrimôneo cultural brasileiro produz “porcaria” na China deixando seus franqueados sem produtos durante os picos de vendes(datas comerciais),Pratica a ‘teoria da escassês,o mercado demanda 100 produzem 70 como faziam durante a “Economia protegida” pelo governo,quando programavamos pedidos para entrega em seis meses ou mais,sempre com cota-freio,o logista nao tinha opçao de escolha ,tinha que engolir a cota.Em sintese,já tivemos concessionarios para consertar liquidificador Walita.O Brasil precisa importar jornalista,economista,administrador e donos de empresas,senao os ignorantes como eu entram em depressao ao ver o pais energisado e tanta asneira sendo ensinada,debatidas e adotadas.Os brasileiros estao loucos para aprender ,mas o cartel midiatico continua socio,parceiro cumplice dos ladroes de sempre,politicos e empresarios.Nao conseguem viver do precinnho da capa de seus jornais porque ninguem consome tanta estupidez.A tv estao sendo apagadas recheadas com pastores milagreiros,padres celebridades e outros bichos vendendo violencia para conseguir alguma audiência porca.

    1. O efeito nefasto do Dólar

      O dinheiro fraudulento lima riqueza para os cofres do seu dono toda vez que é usado, esta riqueza é utilizada primordialmente para a perpetuação no poder.

      A falha é que todos no Mundo, a exceção dos Donos do Dólar, são tributados sem representação.

      Tributar assim costuma dar encrenca desde tempos imemoriais e que com a população da Terra beirando os oito biliões cheira a catástrofe sem precedentes.

      Na minha humilde opinião, não existe saída fácil para o reequilíbrio e a harmonização entre as partes divergentes nesta questão.

      A história indica que a guerra sempre foi usada para isto, o acordo de Brento Woods nasceu do fim do conflito de 1940.

      Vivemos em tempos interessantes.

  3. Sulfabril pediu “auto”-falência

    O que se deve colocar em pratos limpos é o fato de que na vergonhosa falência tida como “AUTO”-falência é que nenhum chinês foi processado e sentenciado a 6 anos e 3 meses de privação de  liberdade em um processo penal em que respondeu por CRIME FALIMENTAR e sim foi o ex- dono da SULFABRIL que só não foi preso porque demorou muuuuito tempo o tal processo que, quando chegou na esfera julgadora superior, em grrrrrau recurssssaaaallll…..foi reconhecida a tal de prescrição da punibilidade V. proc. Nº008020037179  TJSC.   E, foi há 15 anos e 3meses  dado continuidade de operar a fábrica para que fossem empregados C/ salários menores do que vinham recebendo até então e assim mantendo os empregos de 700 trabalhadores mas….deixando 2.500 ex-trabalhadores até hoje esperando seus direitos alimentares……e mais ,graças à uma magistrada de valor é que no ano passado começou a fase de leiloar as diversas unidades da Sulfabril o que conseguiu em parte pois falta a principal fábrica e valor das marcas que não tiveram interessados depois de 8 tentativas….. e hoje pode ser decidido o encerremento da única fa´brica que ainda produz pois a massa-falida sequer tem valores p/ depositar FGTS e salários…..devendo ainda mais de 25milhões de impostos? O mais surpreendente é o fato de que todos sabem que os valores arrecadados + os valores pretendidos nos próximos leilões não permitem o pgto. de todos os milhares de credores e, sequer foi pedido na justiça o bloqueio dos vários bens dos sócios para que sejam dados em garantia de serem não só 3.200 trabalhadores como os demais credores. O M.Público conseguiu uma sentença no ano passado (proc. 008090070000)depois de mais de 14 anos em que foram desconsideradas as personalidades jurídicas dos sócios da Sulfabril e….de 3os. para quem indevidamente foram desviados bens da empresa pouco antes de ser pedida esta tal vegonha de “auto”falência e então só tenta buscar o valor destes imóveis  quando está perfeitamente possível o uso do art. 50 do Código Civil para que sejam os bens dos sócios responsabilizados pela dívida mas…..embora solicitado, como também aos sindicatos, nada disso é feito então…..vamos para quantos anos mais(vários ex-trabalhadores nestes anos todos já faleceram…..esperando……

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