Os testes de estresse dos bancos europeus trarão calma ou medo?
Os decisores políticos da União Europeia gostariam de pensar que suas medidas de emergência nas últimas semanas acalmaram as preocupações do mercado sobre as instáveis finanças públicas nos países mais vulneráveis da zona do euro. Mas os investidores ainda estão nervosos, graças às mesquinhas ansiedades sobre as dívidas ruins mantidas em instituições financeiras da Europa. O mercado teme que os bancos que estão escondendo suas perdas também dificultam os empréstimos interbancários, asfixiando o crédito e o crescimento econômico.
Numa tentativa de tranquilizar os investidores, a União Europeia irá publicar na sexta-feira os resultados do chamado teste de estresse dos bancos. Estes muito aguardados testes abrem as contas dos bancos, examinam as dívidas ruins e verificam se eles têm capital suficiente para absorver uma nova crise financeira. Eles devem revelar se o setor bancário da Europa realmente está solvente e, se houver bolsões de fraqueza de capital, forçarão os investidores ou governos a preencher as lacunas.
Os testes oferecem a promessa de restaurar a confiança nos bancos da Europa e impulsionar a economia como um todo – os reguladores da União Europeia apontam que quando os EUA publicaram os testes de estresse de seus bancos públicos em 2009, o movimento ajudou a deter o pânico de Wall Street. Mas os testes também carregam um risco: se tratados desajeitadamente, ao invés de dissipar ansiedades, poderiam simplesmente semear mais medo.
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Catalães e/ ou espanhóis – Xavier Vidal-Folch
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Negócios de Estado no Chile
20% dos norte-americanos foram atingidos por grandes perdas econômicas
Catalães e/ ou espanhóis
Xavier Vidal-Folch
No âmbito do debate político bate uma realidade econômica em mudança. Discreta, mas inexoravelmente, vão caindo em desuso alguns princípios e mitos econômicos que serviram durante décadas para bloquear os laços entre a Catalunha e a Espanha. Um deles é o atraso econômico da Espanha. Atraso que a Catalunha industrial, arauta da modernização produtiva, teve que resgatar (no início do século XX). “Não havia indústria em nenhum outro lugar na Espanha”, pelo que a tarefa dos catalães deveria ser a de “acordar com seu impulso e exemplo as forças latentes de todo o povo espanhol”, escreveu em “La nacionalitat catalana”, em 1906, o fundador do catalanismo contemporâneo, Enric Prat de la Riba. Ou, como postulou o filósofo Unamuno, era preciso “catalanizar a Espanha”.
O atraso espanhol foi bem pesquisado e documentado, ou seja, sem retórica, por um proeminente filho espiritual do historiador Vicens Vives, o historiador econômico Jordi Nadal, em um texto essencial: ‘O fracasso da Revolução Industrial na Espanha, 1814-1913’ (Ariel, 1975). Nadal conta a “história desta frustração”, o fracasso de um país que lutou sem sucesso para estar entre os “primogênitos” europeus na vanguarda da modernidade. Surgiu apenas um setor significativo em termos internacionalmente competitivos, o têxtil algodoeiro; e após o impulso, a indústria pesada no Norte.
Bem, a industrialização de Madri (e outras regiões) nos anos sessenta, a liberalização econômica desde a Transição (para a democracia) e todo o regresso da Espanha à Europa em 1986 com a consequente internacionalização empresarial (sobretudo na América Latina) liquidaram a marca do fracasso. Pode haver atrasos em países mais avançados. E de fato eles existem, irritantes, e até mesmo perigosos: em nível de industrialização e terceirização, no acúmulo de políticas públicas, nas listas de desenvolvimento e pesquisa. Mas não há nenhum atraso generalizado na Espanha. A convergência com a União Europeia (UE) deixou este país (embora agora temporariamente vacilante) na média do PIB per capita europeu.
Muitos seguidores de Prat de la Riba ainda não haviam se conscientizado dessa façanha histórica. Assim, no imaginário catalão ainda há uma percepção arqueológica de uma Espanha antiga que já não é real. E, portanto, sobrevive o imperativo categórico resultante: a de converter a Catalunha em uma ferramenta necessária à modernização… que já ocorreu. Atenção: a atualização do discurso econômico catalão também diz respeito àqueles que não o compartilham, pois a alegação de ter a missão de “modernizar” o conjunto era, obviamente, um compromisso comum: o todo. Em sentido oposto, novos dados econômicos provam a obsolescência do mito de que a dependência do comércio catalão em relação à Espanha é esmagadora. Ou o senso comum que, sem o mercado espanhol, a indústria catalã seria paralisada. O que terminou com uma severa advertência de que com coisas séria não se brinca: vade retro, veleidades separatistas.
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Paris e Berlim se unem na disciplina fiscal
Paris e Berlim tentaram de alguma forma resolver na quarta-feira suas diferenças sobre a governança da zona euro, com uma chamada conjunta de suspensão do direito de voto dos membros que repetidamente barraram as iminentes novas regras de disciplina fiscal. No entanto, em um claro sinal de que as profundas diferenças entre os dois países líderes da zona do euro ainda não foram resolvidas, os ministros das Finanças francês e alemão que se reuniram em Paris disseram que as sanções deveriam ser concebidas como um acordo político e juridicamente não vinculados. Isso poderia tornar as sanções difíceis de se impor.
O convite veio quando Wolfgang Schäuble se tornou o primeiro ministro das Finanças alemão a assistir a uma reunião do gabinete francês, em um gesto altamente simbólico que visa a restauração de um relacionamento repleto de tensão nos últimos meses. Os dois lados têm estado profundamente divididos sobre assuntos como a resposta da Europa à crise grega e as medidas que deveriam ser postas em prática para evitar futuras emergências.
Mas na quarta-feira, Schäuble disse que a declaração marcou um progresso real nas relações franco-alemãs. “Queremos fechar acordos de medidas que podem ser rapidamente implantadas”, disse. “Temos certeza de que medidas como o corte do déficit e regras mais duras para o Pacto de Estabilidade e Crescimento [que regem a moeda comum] vão nos permitir restabelecer a confiança… na estabilidade da Europa e do euro.”
A Alemanha tem insistido em sanções políticas e financeiras efetivas, bem como um processo ordenado de insolvência para os Estados-Membros em falência, que ajudaria a deter o desperdício fiscal, mas implicaria igualmente na alteração ao Tratado da União Europeia de Lisboa, que delineou os processos decisórios. A França e muitos outros Estados membros da UE se opõem a qualquer revisão do tratado, enquanto Paris também teme que tal procedimento possa estimular a especulação perigosa.
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Negócios de Estado no Chile
Era inevitável que o governo de Sebastián Piñera, Presidente do Chile, seria definido pela sua resposta ao terremoto que abalou o país semanas antes de sua posse, no início deste ano. Ele declarou então que faria um “governo de reconstrução”. Mais de quatro meses, é evidente que o terremoto não varreu a necessidade de profundas mudanças políticas – um desafio a que Piñera ainda não ultrapassou. Trágico como os desastres naturais que o Chile sofreu (o terremoto de magnitude 8,8 e o tsunami que atingiu o país em 27 de fevereiro mataram pelo menos 486 pessoas), o toque de finados teria sido muito maior em um país menos bem preparado. A economia demonstrou a sua resiliência, recuperando-se rapidamente: em maio, a produção foi de 7,1% maior do que a de um ano antes.
Piñera não pode levar o crédito pela capacidade de auto-recuperação da economia. Como ele mesmo admite, deve ser julgado pelos resultados das ações de sua própria administração. Até agora, ele tem pouco a mostrar pelo seu jeito hiperativo de governar. Seu plano de US$ 8,4 bilhões para financiar a parte de reconstrução do estado sofreu um recente revés, quando os legisladores votaram contra a proposta de aumentar os impostos de mineração.
Mas a reconstrução é o menor dos desafios de Piñera. Ele é o primeiro líder de direita do Chile desde a ditadura de Augusto Pinochet. Num país de profundo tribalismo político, venceu de raspão com a promessa de mudança da esclerosada coalizão de centro-esquerda Concertação, que tinha perdido a capacidade de inspirar, apesar de duas décadas de monumentais conquistas econômicas e sociais.
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20% dos norte-americanos foram atingidos por grandes perdas econômicas
Um novo estudo divulgado na quarta-feira estima que 20% dos norte-americanos sofreram uma perda econômica significativa no ano passado – o mais alto nível nos últimos 25 anos. O novo Índice de Segurança Econômica (ISE) analisa a interação de três variáveis chave que têm incidência direta sobre a segurança econômica pessoal: a perda de renda, despesas médicas e dívidas. O índice, que monitora os dados desde 1985, mostra que a insegurança econômica tem aumentado em todos os grupos, não apenas entre as famílias de baixa renda e aquelas sem muita instrução.
O índice foi calculado pelo cientista político de Yale Jacob Hacker e sua equipe de pesquisadores, e o projeto foi financiado pela Fundação Rockefeller. O ISE define pessoas como economicamente inseguras quando sua situação encontra dois critérios. Primeiro, quando no prazo de um ano, perderam 25% ou mais do seu rendimento disponível bruto. A renda bruta disponível é o dinheiro que sobra depois de pagar as despesas médicas e dívidas. Segundo, eles não têm o suficiente em um fundo de emergência ou outras reservas líquidas para fazer a diferença.
Hacker nota que normalmente pode levar de seis a oito anos para restaurar a renda disponível ao seu nível anterior. Entretanto, uma pesquisa citada por Hacker constatou que 48% dos norte-americanos disseram no ano passado que só tinha recursos suficientes para aguentar dois meses, antes de experimentar qualquer dificuldade econômica.
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