Piora de cenário leva dólar a se aproximar de R$ 2,50

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Jornal GGN – A cotação do dólar encerrou as negociações do último dia 16 a R$ 2,392, o maior patamar registrado desde março de 2009. Tanto as declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega – considerando os valores atuais do dólar como adequados para a indústria -, como o avanço das moedas ligadas a commodities afetaram as negociações no dia, mas os ganhos tem sido vistos com alguma frequência.

O gráfico ao lado mostra que valor médio do dólar no mercado brasileiro ganhou mais força a partir do mês de maio, época em que surgiram os primeiros debates sobre a retirada de incentivos dos Estados Unidos por conta dos sinais mais consistentes de recuperação. Para operadores do mercado cambial, o fato de a moeda estar “fora de conjuntura” e as incertezas quanto o pacote de incentivos dos Estados Unidos e a política monetária brasileira afetam a liquidez do mercado doméstico.

“Não é que o dólar esteja caro, ele estava subvalorizado”, afirma Fernando Bergallo, gerente de câmbio da TOV Corretora. “O dólar a R$ 1,90, R$ 2, estava fora da realidade pois ele estava fora de conjuntura. E com essa composição de baixo crescimento e inflação alta, não é um cenário atrativo para o investimento”. E como o que define o preço do ativo é a oferta dele no mercado, Bergallo afirma que o fluxo de capital em circulação é reduzido devido a um cenário que desestimula o crescimento do país.

O fim da recompra de títulos do Federal Reserve – no valor de US$ 85 bilhões por mês – aliado a um provável inicio do ciclo de alta dos juros nos Estados Unidos são outros pontos que integram o radar de acompanhamento no mercado de câmbio. “Existem vários indícios de recuperação da economia. Com os juros subindo e o Fed tirando dinheiro do mercado, é aritmética pura”.

O gerente de câmbio da TOV Corretora também credita aos juros reduzidos uma parte da queda de fluxo de capital no país. “Enquanto a taxa de juros não voltar para a casa dos dois dígitos, o país não entra no radar de fundos de investimento que poderiam migrar para cá”.

Para conter a alta do dólar, seria necessário trazer a moeda de volta ao pais – para Bergallo, isso só seria possível no curto prazo via alta dos juros. “De medida concreta, seria necessário criar um ambiente para o investimento, mas isso demora por conta dos gargalos de infraestrutura e todas as questões conhecidas. Nada que se resolva no curto ou médio prazo”, explica o representante da TOV Corretora. “Não sei se uma mudança no governo poderia sinalizar algo favorável. Por duas vezes em seis meses, se viu uma onda forte de boatos com a saída de Mantega. Agora, no curto prazo, não tem nada que o governo possa fazer”.

Quanto aos leilões de swap cambial realizados pela autoridade monetária – e que tem sido realizados com alguma frequência nas últimas semanas -, Fernando Bergallo afirma que eles tem um efeito apenas pontual. “O leilão não pode reverter o fluxo, o que determina são os fundamentos econômicos. O leilão corrige a liquidez”.

Outro ponto lembrado pelo analista é que o mercado tem por característica antecipar-se aos fatos. Ou seja: os efeitos do corte de estímulos nos Estados Unidos, que pode começar em setembro ou outro, já foram digeridos pelo mercado. “Os dólares vão sair em setembro, mas os efeitos já foram antecipados. O que tinha de acontecer, aconteceu. Não acreditamos muito nas previsões de R$ 2,60, isso me parece exagerado. Essa alta é muito antecipando o que vai acontecer no futuro. Tem pouco espaço para subir, não esperamos mais que R$ 2,45 no teto”, diz Bergallo.

Dólar não deve cair nos próximos dias

Para Roberto Pradas, operador de câmbio da Fair Corretora, a cotação do dólar não deve cair nos próximos dias, e é muito provável que a cotação chegue a bater a marca de R$ 2,50. “Pelo o que vemos no mercado, não tem nada que se possa fazer. Ainda podemos ver uma volatilidade de cinco pontos, mas voltar para a casa de R$ 2,10 nos próximos dias é difícil”.

O operador também credita à especulação a volatilidade registrada pela moeda nos últimos dias. Por considerar a mão do BC “fraca” nos últimos dias, Pradas acredita que os agentes aproveitaram as negociações para especular com a moeda.

Para Pradas, independente de ser apenas um ciclo de especulação, “se o Brasil não mudar a forma de tentar segurar a alta do dólar, não sei que limite pode chegar. O que a gente vê e conversa com bancos é uma ideia de alta acima de R$ 2,50, mas já ouvi até em R$ 2,70. Isso também vai depender dos Estados Unidos”.

Diante disso, cresce no mercado a possibilidade de uso de formas mais agressivas para conter o ritmo de alta, como os chamados leilões de linha, que nada mais é que a venda de dólares com compromisso de recompra futura. “A intervenção no mercado pronto também é uma alternativa, mas acho mais difícil. Mas (leilão) em linha já seria uma sinalização mais agressiva, pois da forma que está hoje (com os leilões de swap) está muito batida”, acredita o operador.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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