Queda do dólar em outubro diminui prejuízo do governo com ações cambiais

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Da Agência Brasil

O recuo de 2,6% do dólar em outubro, a primeira queda depois de três meses seguidos de alta, deu um pequeno alívio às contas públicas. Nas três primeiras semanas deste mês, o Banco Central (BC) registrou ganhos de R$ 11,4 bilhões com as operações de swap cambial, que equivalem à venda de dólares no mercado futuro.

O lucro, no entanto, é pequeno diante do prejuízo que o BC acumula em 2015 para segurar a cotação do dólar. Até setembro, a autoridade monetária tinha perdido R$ 112,9 bilhões com as operações de swap. Com o desempenho até 23 de outubro, segundo os dados mais recentes disponíveis, o prejuízo caiu para R$ 101,5 bilhões no ano.

O valor refere-se aos resultados líquidos das operações de swap do Banco Central e é divulgado semanalmente pela autoridade monetária. O montante foi incorporado aos juros da dívida pública, que até setembro tinham somado R$ 510,6 bilhões no acumulado em 12 meses, equivalente a 8,89% do Produto Interno Bruto (soma das riquezas produzidas no país).

Desde maio de 2013, quando os Estados Unidos começaram a reduzir as injeções de dólares na economia mundial, o BC tem vendido dólares no mercado futuro para segurar a cotação da moeda norte-americana. Em agosto daquele ano, o programa tornou-se permanente, com o BC ofertando diariamente contratos de swap.

A política durou até março deste ano, quando o Banco Central parou de ofertar novos lotes de contratos. Até agosto, a autoridade monetária passou a rolar (renovar) 70% dos papéis em circulação. Em setembro, o BC passou a renovar integralmente os papéis em circulação por causa da disparada do dólar.

O Banco Central mantém um estoque expressivo de operações de swap, saindo de uma posição zerada no início de 2013 para uma exposição líquida em torno de R$ 400 bilhões atualmente. O lucro de R$ 11,4 bilhões nas três primeiras semanas de outubro é resultado da diferença entre a queda média do dólar e a variação dos juros DI, taxas cobradas em transações entre bancos, com valor próximo ao da Selic (juros básicos da economia).

Quando o dólar sobe, o BC tem prejuízo com as operações de swap. Nos dias em que a cotação cai, o órgão tem lucro. Os resultados são transferidos para os juros da dívida pública, aliviando as contas públicas quando os contratos de swap são favoráveis à autoridade monetária e precisando ser cobertos com as emissões de títulos públicos pelo Tesouro Nacional quando acontece o oposto.

Entenda as operações de swap

Criado em 2001, o swap cambial é uma ferramenta que permite ao Banco Central intervir no câmbio sem comprometer as reservas internacionais. O BC vende contratos de troca de rendimento no mercado futuro. Apesar de serem em reais, as operações são atreladas à variação do dólar.

No swap cambial, a autoridade monetária aposta que o dólar subirá mais que a taxa DI. Os investidores apostam o contrário. No fim dos contratos, ocorre uma troca de rendimentos (swap) entre as duas partes. Quando o dólar sobe, o BC tem prejuízo proporcional ao número de contratos em vigor. Quando a cotação cai, os investidores deixam de lucrar.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

2 Comentários

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  1. PARA QUE SERVEM AS RESERVAS DO PAÍS?

    Até hoje não entendi para que acumular reservas internacionais se não for para utilizá-las quando a situação aperta. Ora, as reservas rendem coisa mínima, quando o novo prazo concedido pelos credores é obtido com juros absurdos. É um política contraditória, pois o País está perdendo muito mais do que ganha. 

    Por que não pagar os compromissos de curto prazo, previsto em cada ano? E se os credores quiserem, por que não oferecer juros mais baixos e dentro da nossa realidade para a renovação dos contratos? Ora, se não quiserem,  que as reservas sejam utilizadas, brecando, por aí, a infernal exploração, a cobrança de juros extorsivos e abusivos.

    Temos recursos nas reservas para que?

    Enfeite?

    Garantia?

    Ora, por que não utilizar parte desta garantia, evitando crescimento cada vez maior da dívida externa?

  2. swap cambial não dá prejuizo

    temos lido frequentemente neste espaço esta expressão: “prejuizo do BC com swap cambial”. Acho isto inadequado e merecedor de uma análise econômica, já que muitas vezes se atribui a este chamado prejuizo consequencias sobre a divida publica que não existem. Vou tentar contribuir com meu entendimento de como funciona o swap. Gostaria que os especialistas me corrigissem se eu estiver errado. Para entender os reflexos das transações, vamos simplificar a situação do balanço financeiro do país da seguinte forma:

    Situação inicial, considerando 4 hipóteses de câmbio:

               R$/US$         3,00   2,00   3,45   4,00

    Ativos           300    200    345    400     correspondente a reservas em moeda de US$ 100

    Passivo       -345   -345   -345   -345    R$ 300 em dívidas com títulos denominados em Reais pagando Selic de 15%

    Balanço         -45   -145      0         55

    tem-se o risco de o dólar cair e os ativos perderem valor. Se cair 10% e a Selic for de 15%, a dívida líquida sai de zero para R$ 75 ( -10% de +300 e +15% de -300 = -75 ).

    O swap é um acordo com quem está na situação inversa: deve em dólar e precisa limitar o custo da dívida não correndo risco cambial. Ao vender o contrato, o BC está optando por pagar US$ 100 pelo câmbio do mercado e receber um valor fixo de R$ 345. Abdica de ganhar se o dólar subir, não perde se ele cair e garante um rendimento para o seu ativo igual ao da Selic.

    A situação do balanço ficaria resumida abaixo:

               R$/US$           3,00     2,00    3,45    4,00

    Ativos              300      200    345     400    relativos às reservas

                            345     345     345     345    relativos ao valor a receber pelo swap, parte fixa em R$

    Passivo         -345     -345   -345    -345   relativo à dívida em títulos

                          -300     -200   -345    -400   relativo à dívida em dólar do contrato de swap

    Balanço            0         0        0          0

    Resultado        45      145       0       -55   diferenças entre ativo em R$ e passivo em US$ embutidos no swap

    O que sempre se fala é do valor da última linha, o resultado que o BC embolsa quando o dólar perde para a selic ou paga quando o dólar sobe mais que a selic.

    Quem tiver paciência para olhar os cenários, verá que a opção pelo swap acaba sendo uma forma de se remunerar as reservas pela selic. O custo de swap não afeta a dívida pública. A operação acaba equilibrando o balanço do país. O foco exagerado no ajuste é que ele é um desembolso de juros pelo BC, mas não leva em conta que isto paga boa parte do ganho cambial com as reservas. Mas este ganho não passa pelo fluxo de caixa, vai direto para a valorização dos ativos cambiais.

     

     

     

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