Reservas internacionais custam R$ 65 bilhões por ano

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Reservas internacionais custam R$ 65 bilhões por ano
 
Wellton Máximo
Agência Brasil
 
 
Apontadas como o principal fator que ajuda a segurar o dólar em torno de R$ 2,40, em um cenário em que moedas de países emergentes, como a Turquia e a Argentina, têm despencado nas últimas semanas, as reservas internacionais custam caro para o Brasil. Em média, o governo deixa de ganhar R$ 65 bilhões por ano com a manutenção das reservas em torno de US$ 375 bilhões.
 
De autoria do economista Reinaldo Gonçalves, professor titular de economia internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a estimativa considera dois fatores. O primeiro é o custo cambial, o que o país deixa de obter ao aplicar os recursos no exterior contra o que os estrangeiros obtêm aplicando no Brasil. O segundo é o custo fiscal, a diferença entre o custo médio da dívida pública brasileira e a remuneração internacional das reservas.
 
Na verdade, a manutenção das reservas não representa um gasto direto, mas sim o custo de oportunidade, aquilo que o governo deixou de conseguir ao usar os dólares que entraram no país nos últimos dez anos para engordar as reservas. Segundo Gonçalves, o custo cambial está estimado em R$ 16 bilhões por ano. Já o custo fiscal é ainda maior e atinge R$ 49 bilhões por ano.
 
Como os valores representam uma média de vários anos, Gonçalves adverte que atualmente o custo de manutenção das reservas está ainda maior. “Com o aumento dos juros no Brasil e a disparada do dólar desde meados no ano passado, o retorno dos investidores estrangeiros que aplicam no Brasil ficou ainda maior, o que aumenta ainda mais o custo de oportunidade”, explica o professor da UFRJ.
 
Desde o início da escalada do dólar, em maio do ano passado, o Banco Central (BC) tem optado por não mexer nas reservas internacionais e segurar o câmbio apenas por meio de operações diárias de swap cambial, que equivalem à venda de dólares no mercado futuro. De agosto a dezembro, o BC vendeu US$ 500 milhões por dia no mercado futuro. As injeções caíram para US$ 200 milhões diários em janeiro.
 
Apesar do custo elevado de o Banco Central não mexer nas reservas, especialistas consideram essa a melhor opção para segurar o dólar. “As reservas internacionais são como um colchão que protege o país de ataques externos. Como são maiores que a dívida externa [atualmente em torno de US$ 312 bilhões], elas tornam o país credor líquido externo”, diz o professor de economia internacional da Universidade Federal Fluminense (UFF), André Nassif.
 
Embora reconheça a importância de as reservas internacionais superarem as contas externas, Gonçalves considera que esse argumento leva em conta apenas uma parte da discussão. Ele ressalta que a dívida externa representa uma pequena porção do passivo externo brasileiro, atualmente em torno de US$ 1,5 trilhão. “A maior fatia do passivo externo corresponde aos investimentos de estrangeiros no mercado financeiro. É capital especulativo que pode fugir do Brasil a qualquer momento”, comenta.
 
Segundo Gonçalves, o país acumulou reservas internacionais nos últimos dez anos de forma passiva, mais influenciado pelas condições favoráveis da economia internacional antes da crise de 2008 do que por uma política ativa. “A China e o Japão acumularam reservas para ampliar o poder na economia global e se contrapor aos Estados Unidos. O Brasil, até agora, só formou reservas para administrar custos altos”, opina o professor da UFRJ.
 
Mesmo com o custo de carregamento das reservas internacionais, André Nassif não acredita que o problema esteja no tamanho, mas na composição delas. “Até 2009, as reservas cresciam por causa das exportações, mas passaram a ser sustentadas pela conta de capital, que engloba tanto os investimentos estrangeiros diretos como as aplicações em carteira [capital especulativo] com os rombos crescentes nas contas externas”, pondera. “A Argentina está sofrendo muito mais do que o Brasil justamente porque tem reservas pequenas”, completa.
Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

16 Comentários

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  1. As reservas internacionais

    As reservas internacionais foram adquiridas na maioria quando a cotação do Dólar estava de R$ 1,55 a R$ 1,85.

    A venda de reservas com a cotação a R$ 2,40 ou mais gera um lucro fabuloso para o país, mais que o triplo de R$ 65 bilhões.

  2. Gente, é impressionante: tudo

    Gente, é impressionante: tudo o que o governo Lula-Dilma faz ou é errado ou vem de forma passiva, como diz o Reinaldo Gonçalves!

  3. Uma importante oportunidade

    Uma importante oportunidade de ganhar bilhões jaz a poucos quilômetros da capital federal:

     

    http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2014/02/09/internas_economia,411869/brasil-negligencia-papel-do-silicio-para-a-industria-de-alta-tecnologia.shtml

     

    Brasil negligencia papel do silício para a indústria de alta tecnologiaReserva de Goiás tem o maior grau de pureza do mundo

    Silvio Ribas – Enviado Especial – dired

    Publicação: 09/02/2014 07:37 Atualização: 09/02/2014 08:01

     Cristalina (GO) — Conhecida pela abundância e pela variedade dos cristais que brotam com facilidade do chão, Cristalina (GO), a 130km de Brasília e dona da maior economia agrícola do Brasil, esconde uma riqueza potencialmente ainda maior. Bilhões de toneladas de silício com o mais elevado índice de pureza do mundo — acima de 99,99% — poderiam servir de base para o surgimento de um importante parque industrial de alta tecnologia, com impactos na balança comercial e no desenvolvimento do país.

    Saiba mais… Cristalina abriga e explora uma pedra de quartzo exclusiva no mundo Reservas internacionais custam R$ 65 bilhões por ano, defende economistaA matéria-prima essencial para a fabricação de componentes de celulares, computadores, lâmpadas especiais e, sobretudo, painéis solares de geração elétrica continua, contudo, sendo subaproveitada ou exportada em estado bruto para outros países, principalmente a China. Mas empresários e líderes locais da cidade goiana, além de técnicos do governo, começam a buscar formas de viabilizar o sonho do Vale do Silício brasileiro, soterrado pela burocracia e pela falta de visão estratégica.

    Leia mais notícias em Economia
     

    Os cristais (quartzo) encontrados em Cristalina são considerados de altíssima qualidade, mas o agronegócio e a extração de areia levaram à paralisação e até mesmo ao fechamento das minas. “Só a areia destinada à construção civil poderia ser vendida 10 vezes mais caro. Uma fábrica de painéis de células fotovoltaicas poderia viabilizar a energia solar no Brasil e ainda sanar a grave escassez elétrica da própria cidade”, destaca Gustavo Rocha, geólogo do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e um dos maiores especialistas em silício no país.

  4. Caro Nassif e demais
    E o que

    Caro Nassif e demais

    E o que o economista “Reinaldo Gonçalves” propõe? Que o Brasil volte a ter as reservas da época do FHC? Ou, melhor ainda, que não tenha nenhuma reserva? 

    “O Brasil, até agora, só formou reservas para administrar custos altos”, opina o professor da UFRJ.”

    “O Brasil, até agora”,  a partir de quando?

    Qual a proposta dele?

    Saudações

    1. Se correr o bicho pega, se ficar…

      Caro Avelino,

      O que ele(o economista) nos disse com seu estudo, se é que eu entendi direito, é que “comprar” dinheiro dos outros (dólar) nos custa caro.

      Quando a gente negocia com quem tem uma moeda mais forte, ou quando negociamos em um mundo que a moeda não é a nossa, sempre estaremos em posição desfavorável, mesmo que acumulemos as “sobras” destas moedas, como resultado destas transações.

      O que ele não disse (acho que não era este o objetivo do estudo) é que precisamos achar uma forma alternativa de alterar esta eterna condição de submissão.

      Mas aí é uma conversa para alteração do sistema internacional de trocas e a estrutura da economia (macro) brasileira e sua posição em relação ao mundo, ou em última instância, abandonarmos o capitalismo como sistema de produção.

       

  5. O Brasil acumulou de forma

    O Brasil acumulou de forma passiva 375 bilhões de dólares? Como é que é isso? Passivamente? 375 bilhões? Porra, não entendo bulhufas de economia. Quer dizer que a gente sai de 30 bi e vai para 375 bi de forma passiva… Como sou da área de biológicas, só penso em osmose… todo aquele dinheiro atravessando a membana… passivamente, apenas para atender minimamente as necessidades básicas da célula e não para atender toda a complexidade do metabolismo celular, incluindo sua defesa das intempéries biológicas previsíveis e imprevisíveis.

  6. Tem cada uma…

    Caso não a tivéssemos certamente custaria ao país bem mais que esses R$ 65 bilhões.

    A lógica por trás dos argumentos parece não levar em conta a falta dessas reservas. Ou a opção por não tê-las.

    Sei não.

  7. empresas brasileiras tem dívida externa 200 bilhões de dólares

    Basta ver no site do Banco Central.

    Convém lembrar que as empresas brasileiras tem 200 bilhões de dólares emprestados do exterior, inclusive muitos bancos, e elas são, no momento, a verdadeira causa do governo estar gastando para segurar o valor do real.

    Ainda, lembre-se que a dívida externa do país, mesmo somada com entes federativos e municípios, é de 100 bilhões de dólares. Estaria, assim, confortável. Mas as empresas buscaram juros mais baixos no exterior e agora estão sofrendo com a desvalorização do real. E essa é a verdade que se esconde por detrás do choro, do pedido insistente no aumento dos juros para atrair dinheiro de fora e valorizar o real.

    E lembre-se, ainda, que filiais de empresas multinacionais sediadas em nosso País devem mais 100 bilhões de dólares às suas sedes, lá no exterior.

    Todo esse pessoal está temendo a desvalorização do dólar. Sem ela, não tem competitivadidade, com ela afundam-se na divida em dólares na conversão para o real.

    Talvez a saída seja buscar os recursos das reservas, se for juridicamente possível, e negociá-las com as empresas, tornando-as devedoras em reais, aqui diretamente para o País, com exceção das filiais das multinacionais que devem se virar sozinhas,of course.

     

  8. Sem as Reservas Cambiais o Custo seria muito maior

    O carregamento das Reservas Cambiais tem um custo, mas não tem outra alternativa já que o dólar é o padrão monetário internacional e convivemos com o livre fluxo de capital.

    Creio que sem as Reservas Cambiais ou com Reservas Cambiais bem menores, muito provavelmente o custo seria muito maior principalmente para as contas públicas.

    Em momentos de volatilidade cambial e/ou de crise de liquidez no sistema financeiro internacional haveria uma alta muito grande do dólar no Brasil em poucas semanas, o que teria impacto na inflação e no custo de captação do Tesouro Nacional.

    No final de 2002 cerca de 22% da dívida pública interna estava atrelada ao câmbio, sem o aumento das Reservas Cambiais muito dificilmente teríamos reduzido este patamar, que hoje representaria cerca quase R$ 600 bilhões de reais, ou seja em uma quadro de aumento de 50% do dólar no Brasil a dívida pública aumentaria R$ 300 bilhões, no período após a quebra do Lehman Brothers no final de 2008 ocorreu um aumento  do dólar no Brasil de até 60%.

    Além disso a dívida pública externa foi significativamente reduzida, justamente em função do aumento das Reservas Cambiais, parte da dívida pública externa foi resgatada antecipadamente justamente utilizando as Reservas Cambiais, outra parte foi resgatada emitindo títulos novos com juros menores que os títulos da dívidas antigas.

    Em 2010 o Tesouro Nacional realizou emissões externas de títulos de 10 anos pagando juros de 4,55%, e resgatou títulos antigos que estavam pagando juros bem mais altos de até 16% ao ano em dólar,

    Hoje o copom pratica juros de 10,5% nominais ao ano, isto com Reservas Cambias de quase US$ 400 bilhões de dólares, sem estas Reservas Cambiais, muito provavelmente os juros da selic estariam muito mais alto, não menos do 15% nominais ao ano, o que  representaria uma aumento de cerca de R$ 150 bilhões, considerando também as operações compromissadas realizadas pelo Banco Central.

    O que o Banco Central do Brasil precisa fazer é vender parte das Reservas Cambiais no mercado a vista, e recomprar mais tarde quando a situação se inverter, como foi feito após a quebra do Lehman Brothers no final de 2008 e início de 2009.

  9. A UFRJ,é  hoje um reduto

    A UFRJ,é  hoje um reduto  reacionário. Tem de  tudo. PSTU,Tucanos,até saudosos da Redentora. Contudo ,nunca    estiveram em situação melhor .Grande parte do corpo docente   usufrui  da “Dedicação  exclusiva”,sem cumpri-la,

    o que lhe assegura  quase o dobro  de vencimentos. Passivo é  a  atitude   em face   aos problemas seculares  de  Universidade.Nenhuma iniciativa em prol  da instituição é tomada e muito menos aprovada.Apenas  aquelas que  dizem respeito ao próprio contracheque.

    O economista  Reinaldo Gonçalves, é um  dos tantos  colaboradores  assíduos do PIG a  quem o Globo recorre com frequência,quando  Míriam Leitão  não convence. 

    1. O prezado deve estar

      O prezado deve estar confundindo a Universidade Federal do Rio de Janeiro, um centro avançado do pensamento economico heterodoxo com a PUC-Rio ou a Escola de Pos Graduação em Economia da FGV. E obviamente o comentarista não tem a menor noção de quem é o Prof.Reinaldo Gonçalves, um economista brilhante, pós graduado na Universidade de Reading no Reino Unido, da linha de economistas não ligados ao mercaod financeiro.

      Em 2005 coordenei um seminario de economia na Camara dos Deputados, na Presidencia Aldo Rebelo e o Prof.Gonçalves foi um dos palestrantes mais aplaudidos pela firmeza de sua exposição, suas teses são sempre de alta qualidade.

      Portanto a analise do Prof.Gonçalves é perfeitamente pertinente do ponto de vista do interesse nacional, não tem nada a ver com pig.

  10. É um desperdicio!

    Assim não pode, assim não dá, diria FHC! Vai ver ele quer esta reserva nas mãos dos banqueiros. Aqueles mesmo que eram profesores e viraram banqueiros. A turma que era pobre e ficou bilhonária com FHC. Mas uma comissão para a turma do PSDB de MG e SP, inclusive Serra. Este dinheiro seria melhor aplicado nas Ilhas Caiman ou outro paraíso fiscal. O PSDB entende melhor como aplicar este dinheiro. Por que eles mais a mídia e judiciário estão desesperados para voltar ao poder,

  11. Uma continha bem bobinha

    Suponhamos que a taxa média do dólar durante o período de construção dessas reservas foi de R$1,70.

    Descontemos o estoque da era FHC, uns 30 bi.

    Então temos US$345 bi adquiridos a R$1,70 = R$586,5 bi

    Se torrarmos tudo hoje, conforme parece sugerir o economista espertão que assina a bandalheira, faturaremos então, aos R$2,40 atuais, a bagatela de R$828 bi.

    Um ganho de R$241,5 bi.

    Nada mau. Quase quatro vezes a tal “perda” questionada.

    E só lembrando. Quando eu renovo o seguro do meu carro eu “deixo de ganhar” uns R$2.000,00 por ano.

    Mas, segundo o economista “jênio”, dormir um pouco mais tranqüilo representa um “custo de oportunidade”.

     

    1. Uma continha bem bobinha

      Parabéns pelo seu comentário Rundfunk. Foi na jugular…Nem precisa ser econominsta para fazer esta continha bem bobinha. Muito bom…

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