Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
[email protected]

Trump e o Agronegócio Brasileiro, por Rui Daher

Kátia Abreu

na CartaCapital

Volto à agropecuária que antes das porteiras das fazendas e depois delas é agronegócio. Se a empresa “Às Favas” vende sementes para o senhor Geraldo plantar chuchu e, depois de colhido, o produto é transformado em pasta condimentada pela empresa “Silabação Indústria e Comércio”, tudo aí foi agronegócio.

Faço questão de lembrar. Depois de quase dois anos aqui, ainda noto certa confusão. Os conterrâneos são loucos para demonizar pessoas e coisas. Agora mesmo com a democracia. Anjinhos amarelados que não respeitam votos e detestam rubros ameaçam desestabilizá-la.

Sei que esta coluna não terá repercussão igual à anterior, política. Vamos, pois, em leves tópicos. Quem sabe o leitorado nos conceda uns minutos de atenção fora do eixo “Gilmar Mendes” (Vice-Reino de Curitiba/Brasília).

Semana passada, comentei a existência de moscas voando em torno de Donald Trump. Não resistem às fezes, e acreditam que eleito presidente dos EUA o plastificado republicano ajudaria o Brasil.

Na parte que toca à nossa “ingrata” vocação cabocla, campesina, sertaneja e ruralista, isso é uma imbecilidade: Tio Sam é muito mais concorrente do que cliente de Macunaíma.

Vamos aos números para conforto dos adoradores de planilhas. Segundo a última edição (dados até 2013) de Intercâmbio Comercial do Agronegócio(do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), apenas 5% de nossas exportações agrícolas vão para os EUA. A China participa com 24%, a União Europeia com 21% e diversos países com os demais 50%.

Em 2013, o Brasil exportou US$ 86,6 bilhões e importou US$ 12,5 bilhões. Resultou um saldo positivo de US$ 74,1 bilhões. A participação americana no saldo foi de 3,5% e da China de 26,5%.

Do total de importações (US$ 12,5 bilhões), os itens mais significativos foram: trigo (EUA, Argentina, Canadá); bebidas alcoólicas (África do Sul, Chile, Japão, União Europeia); pescados congelados (Chile, Marrocos, Tailândia, Taiwan, Vietnã);óleo de palma e dendê (Colômbia, Indonésia, Malásia).

Uma divisão parecida com o perfil do País: “Pão, dendê e frescura”. Povo e elite excêntrica, se me entendem. Não? Dicas: 90% do que vêm da Rússia são Waffles; 50% do Egito, algodão especial para roupas de cama; 60% da Índia, de óleos essenciais.

Também alguns absurdos. Plantamos três safras de feijão por ano, mas é nossa maior pauta com a China. A explicação está em quem cultiva e como feijão no Brasil. Para o mercado interno e, na maioria, por assentamentos em subsistência e agricultura familiar com parco apoio técnico.

Somente país tão óbvio para procurar ajuda com Donald Trump. 

Kátia Abreu e o PMDB

Fui muito execrado quando escrevi que Kátia Abreu poderia ser uma boa opção para o ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa). Não deixei de observar, porém, que sua opção pelo PMDB e cargo teriam vida curta e desejo longo. Seu objetivo sempre foi governar Tocantins.

Com o seu quarto partido prestes a romper com o governo, Kátia ensaia sair do PMDB, deixar o ministério, e voltar aos braços de Gilberto Kassab.

Nada fez de expressivo, além de jogar uma merecida taça de vinho no rosto de José Serra.

Safra 2016

Ihhhhhhh, curioso para ver como a turma dos agroquímicos, tóxicos ou não, irá justificar a queda de 22% (defensivos) e 7% (fertilizantes químicos) em consumos e vendas contra o crescimento da produção e da produtividade da próxima safra, conforme previsto por Conab e IBGE.

Estariam, antes, os campos usando e gastando mais do que o necessário? A conscientização dos agricultores em reduzir custosas aplicações associando-as a produtos mais baratos, de extrações orgânicas e naturais, ameaça seus mercados?

Cedo-lhes a corporativa palavra.

Previsões

Órgãos governamentais, consultorias do setor, e estas prazerosas Andanças Capitais, estimam safra com volume e valor recordes.

Deveremos colher 210 milhões de toneladas de grãos, 1,3% a mais do que em 2015. Mesmo com toda a crise, a área plantada crescerá 1% e o valor bruto da produção está estimado em R$ 515,2 bilhões. Bom demais.

E o milho, ah o mio, que este pobre escriba vive falando para nunca deixarem de investir, pois é carne. Reparem na capa da última Globo Rural: “A corrida do milho: demanda explode e faz preço disparar”.

Não é só. Há 20 dias as cotações do mercado futuro, em Nova York e Chicago, para café, soja e milho, não param de subir. O gráfico está assim: /

Alfinete

Já pensaram se má condução da economia desse impeachment? Durante os últimos 50 anos teríamos um presidente a cada ano.

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

    1. Lindíssimo , Almeida

      Tive de me segurar para não chorar.

      Os EUA fizeram uma campanha imensa contra o nosso milho, p/ a introdução do trigo por essas bandas.

      Trigo : cereal nobre, descrito até nas escrituras divinas.

      Milho : cereal pobre,  de proteína de baixa qualidade e aqui largamente utilizado..

      Só não dizem, que costumamos ingerí-lo  mais em sua forma integral, não perdoando nem sua “casquinha”. Já o trigo, praticamente carbohidratos, já que o melhor é eliminado durante o seu “beneficiamento”.

      1. Lenita, a oração ao milho de Cora Coralina é lindíssima . . .

        Lenita, a oração ao milho de Cora Coralina é lindíssima, mas esse cereal “humilde”, já não é tão mais humilde assim, hoje é o cereal mais cultivado no mundo, rompendo a barreira de 1 bilhão de toneladas. E embora o trigo (cereal rei) seja importante em todo o mundo ocidental, especialmente nos Estados Unidos, os americanos veneram o milho, pois são o maior produtor mundial, 350 milhões de toneladas contra 53 milhões de toneladas do Brasil. Lembrando que lá, ao invés de consumirem pãozinho no café da manhã, boa parte consomem flocos de milho, também é de milho o açúcar americano e o álcool usado nos veículos automotivos  e ao contrário daqui que produzimos a maior parte da carne bovina à pasto, lá o milho é largamento empregado no acabamento final dos bovinos. Eu diria que como nós já fomos ‘filhos da mandioca”  um dia, como diziam os colonizadores portugueses, os americanos são  seguramente “filhos do milho”.

        1. Jofran,

          obrigado por enriquecer tanto o meu texto. Suas observações são corretas e oportunas. Assim como a poesia de Cora Coralina, indicadas e admiradas pelos Almeida e Lenita.

        2. E, por acaso…

          Foi isto que eu disse ?

          Disse que na época da introdução do trigo no Brasil, foi o mote usado. Assim como na introdução do óleo de soja, em que a gordura de porco foi endemoniada. Aconteceu o mesmo quando do início das margarinas , tornando a manteiga a vilâ da alimentação.

          E agora estamos vendo o retorno do ôvo, tão tripudiado, apesar de conter uma das melhores proteínas que existem, mesmo que de preço baixo. Antes era o ôvo da serpente. Pq mudou ? Não foi o ôvo, podes crer.

          Sou nutricionista e Sanitarista, não sou nenhum Jofran (que aliás tb não sei quem é, mas pelos parabéns do Rui, imagino) tb e sei muito bem do que estou falando. O interesse comercial não perdoa nem a saúde dos povos.

          A nova ordem é  achar que o Vinho e o azeite são a salvação da lavoura. Prefiro me recorrer aos livros do meu tempo de estudante, nos quais as pesquisas eram feitas  pelos governos e não pelas indústrias de alimentação e farmacêuticas, sem nenhum pejo em divulgar o que lhes interessa e esconder o que não desejam, tal como certos partidos políticos.

  1. Nenhuma simpatia por Trump.

    Mas a Madame Min, aquela bruxa está longe de ser flor que se cheire. Ela representa a radicalização do Império, ela é o perigo. O texto a seguir do experiente John Pilger dá o que pensar:

    “Nenhum país pode igualar este registo sistémico de violência. A maior parte das guerras da América (quase todas elas contra países indefesos) foram lançadas não por presidentes republicanos mais sim por democratas liberais: Truman, Kennedy, Johnson, Carter, Clinton, Obama.

    Em 1947, uma série de directivas do National Security Council descreveu o objectivo supremo da política externa americana como “um mundo feito substancialmente sobre a própria imagem [da América]”. Esta ideologia era o americanismo messiânico. Éramos todos americanos. Se não, heréticos seriam convertidos, subvertidos, subornados, enlameados ou esmagados.

    Donald Trump é um sintoma disto, mas também é independente. Ele diz que a invasão do Iraque foi um crime; ele não quer ir à guerra com a Rússia e a China. O perigo para os restantes de nós não é Trump, mas sim Hillary Clinton. Ela não é independente. Ela corporifica a resiliência e violência de um sistema cujo louvado “excepcionalismo” é totalitário com uma ocasional cara liberal.

    Quando o dia da eleição presidencial estiver mais próximo, Clinton será louvada como a primeira mulher presidente, pouco importando os seus crimes e mentiras – assim como Barack foi louvado como o primeiro presidente negro e liberais engoliram suas tolices acerca da “esperança”. E a verborreia prossegue.

    Descrito pelo colunista do Guardian, Owen Jones, como “divertido, encantador, com uma serenidade que engana praticamente todos os outros políticos”, Obama a seguir enviava drones para massacrar 150 pessoas na Somália. Ele mata pessoas habitualmente às terça-feiras, segundo o New York Times, quando lhe é entregue uma lista de candidatos à morte por drone. Tão sereno.

    Na campanha presidencial de 2008 Hillary Clinton ameaçou “destruir totalmente” as armas nucleares do Irão. Como secretária de Estado de Obama, ela participou no derrube o governo democrático de Honduras. A sua contribuição para a destruição da Líbia em 2011 foi quase jubilosa. Quando o líder líbio, coronel Gaddafi, foi publicamente sodomizado com uma faca – um assassínio tornado possível pela logística americana – Clinton exultou com a sua morte: “Nós viemos, nós vimos, ele morreu”.

    Uma das mais próximas aliadas de Clinton é Madeleine Albright, a antiga secretária de Estado, a qual atacou as jovens por não apoiarem “Hillary”. Esta é a mesma Madeleine Albright que de modo infame celebrou na TV a morte de meio milhão de crianças iraquianas como tendo “valido a pena”.

    Entre os maiores apoiantes de Clinton estão o lobby de Israel e as companhias de armas que alimentam a violência no Médio Oriente. Ela e seu marido receberam uma fortuna da Wall Street. E ainda assim elas está prestes a ser consagrada como a candidata das mulheres, para despedir o malvado Trump, o demónio oficial. Seus apoiantes incluem destacadas feministas: as comadres de Gloria Steinem nos EUA e de Anne Summers na Austrália”.

    Uma guerra mundial começou – rompa o silêncio , John Pilger

    Leia também: EUA: Umas eleições infernais , William Blum

    1. Quer dizer, Almeida

      Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Concordo. Quando os presidentes dos EUA deixaram de, antes de tudo, fazerem valer seus interesses e hegemonis. Ainda mais de agora em diante, quando ameaçados pela China. Os seus argumentos são irreprensíveis, mas uma escolha terá que ser feita, e se ficar entre Hillary e Trump, será péssimo para a América Latina e o planeta. De minha parte, prefiro um republicano melhorzinho, mas acho que já era. Abraço  

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador