Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Trump e os riscos para o agronegócio, por Rui Daher

Trump e os riscos para o agronegócio

por Rui Daher

A continuar a série semanal de ações escabrosas contra a democracia e os trabalhadores brasileiros perpetradas pelo governo usurpador, não é de duvidar que o próximo golpe ocorra em 2018, com a eleição de Jair Bolsonaro presidente do Brasil, Lula preso ou morto.

Os mais sabidos, por enquanto, traduzem essa ansiedade com um cover chique, Doriana Júnior, mas querem mesmo é Brucutunaro.

Se isso vier a acontecer, durante pelo menos dois anos teremos inimigos de minorias populacionais presidindo EUA e Brasil. Lá um pele-laranja tosco, aqui um cara-pálida simulacro do falecido delegado Fleury. Tema para duelo de repentistas.

Assim caminha a Federação de Corporações. Economistas rentistas da vergonha alheia, agora ocupados em maldades para ferir o agronegócio, um dos poucos setores em crescimento na economia.

Entre as pragas do Egito estiveram gafanhotos devastando plantações. Aqui bastou um Grillo, da subfamília Mauricius moscardis, para atrasar anos o complexo brasileiro de carnes.

Para a agropecuária brasileira, no entanto, mais do que do intestino, o produto fecal virá de fora, nós Genis, com nome e endereço: Donald Trump, 1600 Pennsylvania Ave., Washington DC.

O pele-laranja enviou no começo de março para o Congresso documento com leis e regras que permitem aos EUA ações de comércio unilaterais. Muitas já existiam, mas se preferia participar de acordos multilaterais e discutir os contenciosos na Organização Mundial do Comércio (OMC). Não mais. O documento é eivado de centralismos, como direitos unilaterais de retaliação, elevação de tarifas, suspensão de importações, imposição de sanções comerciais. No todo, é a OMC indo para o espaço.

Na semana passada, conversando com grandes e tradicionais produtores de grãos paranaenses, não percebi qualquer preocupação. Talvez influência da lição de moral que Curitiba passa ao País.

Esse pequeno olhar sobre o que acontece no planeta faz do Brasil uma paróquia de 8,5 milhões de km², valiosa por suas riquezas tantas. Altares minerais, santos esculpidos nas melhores madeiras, jardins verdejantes, pias batismais com água benta por luz, frescor e fiéis pedindo trabalho e cidadania.

Alguém poderá observar: muita lira para pouca AK-47. Relaxante para o que vem agora.

Máximo, mínimo ou médio, o Brasil é um Estado-nação, e como tal deveria cuidar de cidadãos e soberania, defender seus altares com unhas e dentes. O agronegócio é um deles.

Erro 1: pensar que agronegócios são apenas os grandes produtores de commodities que usam sementes transgênicas, fertilizantes químicos, plantadeiras, agrotóxicos, rapidez nas colheitadeiras e precisão digital que, ao cabo, depende de danças indígenas para influenciar o clima. Tecnológicos como também primitivos.

Erro 2: não incluir aí 85% de propriedades agropecuárias produtivas que, apoiadas e bem orientadas, fortalecem o mercado interno e diversificam o perfil das exportações.

Erro 3: não apoiar a ampliação de destinos das exportações de alimentos, fibras, madeiras e biocombustíveis.

Erro 4: burrice, umbigo e prepotência.

No momento em que um isolacionista e ilusionista de pele laranja assume a presidência dos EUA, encontra a agropecuária brasileira sem inovação e altivez para sua defesa.

Antes do temeroso golpe, o Brasil adquiriu proeminência ímpar no planeta. Além dos resultados tecnológicos e econômicos, vieram a nós os comandos de FAO e OMC. Batemos duro e cumprimos metas ambientais, abrimos vários mercados, criamos demanda interna que favoreceu exportadores quando em baixa na gangorra das cotações mundiais, enfrentamos contenciosos contra subsídios escandalosos, fortalecemos o Mercosul, privilegiamos blocos alternativos como a África, de futuro óbvio.

Descontadas as trapalhadas internas, a que já nos acostumamos, as garras dos EUA já apontam para nós.

Em 40 anos, a área plantada com trigo no Brasil caiu 33%. Há dez anos a produção está estagnada em torno de seis milhões de toneladas. Não atendem ao consumo, o que nos torna grande importador. MAS, os EUA entraram de sola contra nós na OMC pelos subsídios dados ao produto. Querem fornecer o pão nosso de cada dia.

Os mais idosos devem lembrar-se de personagem da atriz Kate Lira e do bordão “como americano é bonzinho”? POIS É, desde que foi elaborada a nova lei agrícola (Farm Bill), em 2014, os subsídios aos agricultores norte-americanos pularam de US$ 200 milhões para US$ 4,5 bilhões.

Enquanto isso, em rincões brasileiros plantadores de grãos festejam fascinados com o fim da corrupção (então tá). Não percebem soberania, economia e direitos sociais escoando pelo ralo neoliberal. 

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11 Comentários

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  1. Desconheço brucutunaro…

    …a criatura está mais para boçalnato. Doriana jr. tem a consistência de óleo vegetal hidrogenado, o problema é que esta característica facilita que seja espalhado.

    Não me preocupo com sançoes unilaterais americanas, neste caso, tívessemos nós um governo, poderiam ser aplicadas retaliações recíprocas.

    Num país governado pelo mordomo do vilão, a besta marinha tricéfala, e secundado por sequazes e asseclas disseminados pelo aparelho estatal, não há mal que um orange skin possa superar. Nem se mostrar ao vivo a demão revitalizadora, com sua tradicional tanga fio dental.

    Preocupação com os produtores rurais, de médio para cima, nenhuma. Espero sinceramente que colham o que plantaram.

      1. Jorge e Orlando, caros

        Meu texto seria uma terceira assinatura, com um senão: se for ruim a colheita dos médios para cima a economia brasileira ficará ainda mais f….. e o resultado negativo implicará em ainda maiores mazelas sociais, o que penso defendermos aqui.

        Abraços

  2. Sobre Trump.

    Trump é um tosco, um rude e agressivo negociante alçado para a política. É fato. Assim como é fato, alardeado pelo Michael Moore, que ele seria eleito (é bom dar uma pesquisada nisto).

    Complementando: quer uma boa pesquisa? Pesquise sobre: por qual motivo a classe trabalhadora branca vota em Trump e nos Republicanos.

    A tática, comentando o texto, foi sempre atacar o país adversário em nível externo e manobrar internamente para tornar os preços competitivos lá fora.

  3. Insistencia

    Rui

    Você não é o primeiro e nem será o último a ficar martelando em ferro frio (leitores e comentaristas do blog), com essa insistencia do poder cair nas mãos de Bolsonaro.

    Não aqui, como já frisei, que não cola, mas cada vez que alguém toca nesse assunto, subliminarmente nos fracos, vai gerando inconcientemente que o fulano é a solução.

    Mas tratando do tema do seu post, na posse do Trump, muitos analistas observaram que nem de longe o Brasil foi citado.

    Coisa de vira lata mesmo.

    O que você escreveu explica a omissão do Brasil no texto de posse do maluco lá do norte.

    Seria bom se fosse verdade.

    Olha mundo: esqueçam do Brasil.

    Nós viveríamos muito bem sem todos eles.

    Quem não viveriam, são os 5% da elite nacional.

    1. Francisco,

      discordo. Qualquer perigo que ameace a democracia e o direito das minorias precisa ser insistentemente denunciado. E o “ferro frio”, se não passa a roupa, ainda pode ser atirado na cabeça de alguém. E pensar os “fracos”, todos, vulneráveis ao subliminar é prepotência.

      Quanto a Trump, ele não precisava citar o Brasil, sabia que já nos tinha conquistado, e comércio internacional é fato econômico irreversível. A todos cabe mostrar forças.

      Abraços

  4. trump….

    Caro sr. Rui, sei por experiência própria, semianalfabetos deste lado, mas poderíamos elevar nossas discussões. Com um certo esforço, entenderíamos. Politica Sul-Sul elevou o Brasil a representante do Hemisfério Sul. O que não é pouco. Samuel e Celso, precisa dizer mais o que? Temer pavimentando a volta do Tucanistão, voltou com Serra e o “abaixa as calças” para EUA e Europa. Tomou porrada de Trump e Tereza de cara. Perdeu o rumo, enfiou suas mediocridades de Alca e Nafta na sacola e esperou o melhor momento para pedir penico. Adeus, não sentiremos saudades. Aloisio é mais do mesmo. As pessoas entendem a diferença. Assim como entendem a diferença de uma plataforma produzida em Cingapura ou nos estaleiros do RJ ou BA. Entendem nas suas casas e nos seus bolsos. Entendem o uso da terra para especulação e poder e para a produção e renda, inclusive no agronegócio. É só mostrar os objetivos claros, diferenças e consequências. abs. 

    1. Zé Sérgio,

      Caro, também penso assim, mas são muito poucos os que saem para essa ação. Mostrar objetivos claros. As lideranças políticas atuais não têm mais condições para isso, as empresariais se entregaram ao rentismo, as culturais vivem confusas ou a reboque da Rede Globo. O saldo é triste.Abs

  5. Tem uma turminha por aqui
    Tem uma turminha por aqui tendo a Globo como chefete,que não deixa o emperucado exótico gozador nem respirar.Me surpreende a participação do companheiro Daher no bloco da solidão.Se a loira fajuta Hillary Clinton,que arquitetou todo o Golpe contra a Presidenta Dilma,com a mão de gato da Vênus Latrinada,levasse a peleja,Rui já tinha presentiado a filha com uma boneca Barbie.

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