A importância da Sociologia no Ensino Médio, por Cristiano das Neves Bodart

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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da Carta Campinas

A importância da Sociologia no Ensino Médio

Há justificativas plausíveis para retirar a Sociologia no Ensino Médio?

Por Cristiano das Neves Bodart

A partir do bom senso, podemos inferir que para que uma disciplina figure no currículo do Ensino Médio ela deva colaborar para atingir os objetivos traçados na LDB. A Sociologia pode colaborar para alcançar esses dois objetivos?

A resposta pode ser encontrada nos apontamentos de pesquisadores da Educação e do Ensino de Sociologia, assim como em pesquisas que demonstram a percepção dos alunos.

Pesquisa (1) que coordenei entre maio e junho de 2018 em Maceió-AL, com uma população de 640 alunos do 3º ano do Ensino Médio de escolas públicas e privadas, demonstrou que os alunos consideram a Sociologia importante para os dois objetivos destacados pela LDB. A coleta dos dados junto aos alunos deu-se de forma amostral (2) com desvio padrão de 5% e com erro probabilístico de 90%. A esses foi aplicado um questionário com o intuito de identificar a importância atribuída às disciplinas obrigatórias do Ensino Médio, dentre elas a Sociologia.

Em se tratando de preparo para o mercado de trabalho, a Sociologia foi apontada, na mesma pesquisa, como a 5ª disciplina mais importante, sendo mais valorizada pelos alunos que a Filosofia, Biologia, Geografia, Química, Física, Educação Física e Artes.

O que a pesquisa indica é que os alunos, em contato com a Sociologia, passam a perceber sua importância. Não que esse reconhecimento esteja vinculado ao não reconhecimento das demais, apenas que frente a uma possível necessidade de ranquear as disciplinas, a Sociologia foi priorizada. Vale destacar que a pesquisa foi realizada em um estado onde apenas 11% dos professores possuem formação adequada na área, o que indica que essa valorização por parte dos alunos poderia ser ainda maior caso nossos gestores públicos investissem mais em formação dos professores de Sociologia; o que ampliaria a qualidade das aulas.

Ressaltamos ainda que por ter sido reintroduzida no currículo do Ensino Médio apenas há 10 anos, poucos são – comparativamente a outras disciplinas – os recursos didáticos produzidos exclusivamente para o ensino de Sociologia. Se por um lado isso é um problema a ser enfrentado, por outro evidencia que, mesmo com essa situação, os resultados do ensino de Sociologia no Ensino Médio são muito bons.

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Segundo especialistas, o acesso à Sociologia escolar promove condições para que os alunos ampliem sua capacidade de leitura do mundo social, colaborando para dois grandes objetivos da educação brasileira destacados pela LDB (1996): formar cidadãos e preparar para o mundo do trabalho.

Além do mais, a Sociologia promove o olhar desnaturalizado dos fenômenos sociais, enxergando-os sob uma perspectiva histórica, relacional e dialética, o que fomenta uma postura crítica diante do mundo, possibilitando aos alunos inserção consciente nos diversos espaços da sociedade.

Assim, por um lado especialistas vêm destacando a importância do ensino da Sociologia, por outro, os alunos vêm reconhecendo e percebendo o seu valor. Na contramão, políticos ameaçam retirar a Sociologia do Ensino Médio. Há justificativas plausíveis para retirar a Sociologia no Ensino Médio?

A quem interessa sua exclusão ou redução de seu espaço na escola? Aos objetivos traçados na LDB não é.

Cristiano das Neves Bodart é Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), docente do Centro de Educação da Ufal e integrante do Comissão de Comunicação da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais (ABECS)

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

7 Comentários

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  1. Querem tirar
    Querem tirar Filosofia e Ciencias Sociais das escolas pra ficarem com biblia e coaching. Isso está “chapado”. Querem que as geraçoes futuras repitam que negro é malandro, indio é indolente e outras imbecilidades.

    A facilidade da aprovaçao do projeto escola de fascismo evidencia como a esquerda só é “hegemonica” na linguagem cinica de ex sociologos e confusa de gente atormentada.

  2. Não vamos nos enganar: isso

    Não vamos nos enganar: isso realmente não faz muita diferença.

    Cursei o ensino médio entre 2003 e 2005 (no auge da “doutrinação marxista”, segundo os idiotas da direita) e tínhamos as disciplinas de Filosofia e Sociologia.

    O resultado? Não aprendemos nada sobre política, os grandes pensadores, sistemas econômicos ou sequer como nosso governo inepto operava. Eram disciplinas somente para encher a semana. Os professores eram extremamente despreparados e ninguém dava a mínima. Tudo o que aprendi sobre esses temas foi por conta própria, anos depois.

    Seria possível usar o argumento de que foi exatamente essa falha no ensino desses conteúdos que criou essa geração alienada e retrógrada. Mas não é bem assim. O fascismo do brasileiro médio não é resultado da escola, ele vem de casa.

    Em um Brasil ideal, essas disciplinas seriam a base para uma formação cidadã. Mas isso só pode ser feito depois que recuperarmos a democracia.

    1. Mas não dá…

      Mas não dá para falar de grandes pensadores ou de sistemas econômicos sem antes ensinar o básico. Assim você cai no mesmo erro da Anarquista Lúcida, que quer que os alunos aprendam a escrever bem sem aulas de gramática. E como só há tempo para ensinar o básico (ou nem isso) então fica por isso mesmo.

      E então os alunos aprendem apenas rótulos vazios e conceitos “chapados”, assim como você utiliza o termo fascismo para referir-se a tudo aquilo que é contra o seu ponto de vista. Faria melhor se estudasse o regime político denominado fascismo quee surgiu no princípio do século 20.

       

  3. Mas há o outro lado…

    A grade do Ensino Médio é imensa. Quanto mais disciplinas há, menos tempo para cada uma e menos bem dadas elas sao. Na prática, as escolas que oferecem Sociologia e Filosofia dao no máximo 2 tempos de aula por semana para cada, quando nao apenas um. Nao serve para nada, os alunos apenas aprendem algumas “pílulas”, do tipo Sócrates e o Conhece-te a Si Mesmo, Platao e o mito da Caverna (sem aprofundamento nenhum, porque nao dá) etc Nao conheço as pílulas equivalentes de Sociologia, mas nao deve ser muito melhor. Mesmo Literatura é dado assim…

    Melhor que ter disc iplinas de Sociologia e Filosofia, com seus currículos obrigatórios a distribuir em pílulas, seria ter mais aulas de Português, mas nao p/ as inúteis aulas de Gramática, e sim exatamente para trabalhar a leitura crítica, a expressao oral e a capacidade de escrita dos alunos. Poderiam ser usados textos relevantes de Sociologia e Filosofia; depois se pediria aos alunos p/ fazer uma resenha crítica, encorajando a expressao crítica do pensamento deles; em seguida se faria um debate com as posiçoes dos alunos, etc. Poderia ainda haver um trabalho final, um texto, um vídeo, se houver alunos que saibam fazê-los, etc. Seria educativo, criativo e interessante. Muito melhor que aulas a cumprir currículo.

    1. Certo, mas…

      Muito certo, anarquista. Mas faltou explicar: como você quer que os alunos escrevam bem sem as “inúteis aulas de gramática”?

      A menos que você acredite que a escrita errada é um dialeto original que deve ser respeitado, e tentar corrigi-lo é arrogância da elite.

  4. AOS PROFESSORES – A EDUCAÇÃO CRÍTICA

    AOS PROFESSORES – A EDUCAÇÃO CRÍTICA                                                                                                      

    “Salve, lindo pendão da esperança,

    Salve, símbolo augusto da paz!

    Tua nobre presença à lembrança

    A grandeza da Pátria nos traz… “

    A bandeira brasileira sempre será esta, a qual estarei sempre amando, mas não poderá representar o símbolo da Ditadura Corporativa, que atualmente está comandando o nosso País.

    Hoje, mesmo alguém que detenha conhecimentos científicos e tecnológicos, pela escassez de informações ou de diárias manipulações, ainda não compreendeu que estamos diretamente voltando no tempo e para o pretérito dos direitos, garantidos, mas que hoje não mais são, pela nossa Constituição Federal, que está sendo modificada, a pretexto de interpretação,  como se legisladores fossem, pelos ministros do STF.

    Como afirma o jurista Ives Granda: “Prefiro o pior dos congressos ao melhor STF para fazer leis”.  Não cabe ao nosso Judiciário, que é o mais caro do mundo,  atuar na competência do Legislativo.

    Tenho a certeza que aqueles que estudaram,  na década de 50 até década de 1970,  com o AI 5, os ditadores militares, logo em 1971, para a tristeza de todos os professores, na época, fizeram a reforma do Ensino no Brasil, extinguindo o curso ginasial, impondo o ensino fundamental com 8 anos. E, depois, no Ensino Médio, exterminaram o Científico, o Clássico e o Magistério para o primeiro grau na época, os quatro anos iniciais de ensino para as crianças. Com isto aboliram, do  currículo, a sociologia e filosofia e artes.

    Quem não sabe que fique agora sabendo.

    Tudo foi feito com objetivo de emburrecer o povo brasileiro. É claro que milhares escaparam por ter uma base anterior. Assim as gerações que se seguiram restaram sem condições de raciocinar, poder refletir sobre os seus direitos, poder ter condições de separar o joio do trigo, sintetizando, ficamos sem uma Educação Crítica.

    Gostaria de lembrar-lhe que, no governo Lula, em 2008, foi restaurado em parte este drama, tornando,  novamente, obrigatórias as matérias de Filosofia e Sociologia.

    Hoje, quero evidenciar que uma nova reforma de ensino foi feita,  pela ditadura corporativa, que se esconde na pseuda democracia que estamos vivenciando, enquanto todo o aparato jornalístico do País está atrás da tal corrupção, deixando de discutir, com pluralidade, um tema tão importante para o povo brasileiro.

    Esta reforma, no início,  tentou,  no seu início eliminar Filosofia, Sociologia e Artes, no Ensino Médio.

    Houve debates e o governo cedeu, mas de forma genérica, ou seja, estas matérias não serão mais distintas, fazendo parte tão somente do conteúdo dos outros, como a História Geral que tivemos ao tempo do extinto ginásio.  Foi a repetição piorada da reforma de 1971.

    Conteúdos! Entenderam? Não haverá mais matérias.

    A reforma do ensino foi aprovada pela Ditadura  Corporativa, tal qual aconteceu lá nos idos de 1971. Porém, é ainda pior do que aquela que nos deixou sem o senso crítico. 

    No blog Made Sciencia,  colhi que, na reforma do ensino médio,  “Os itinerários são divididos em 5 grandes blocos: ciências humanas, linguagens, matemática, ciências da natureza e formação técnica e profissional. Cada conjunto é composto de cinco matérias. As únicas que permanecem obrigatórias são Português, inglês e matemática.”

    Que se danem os professores de Sociologia, Filosofia, Artes e Educação física ( esta última também foi eliminada). Serão apenas conteúdos de outras. Ainda o mesmo destino podem ter Física, Química e Biologia. Quem garante? Os professores que se danem, não é?

    Portanto, haverá apenas menção, com certeza, muito diminuta, das matérias Filosofia, Sociologia e Artes, em conteúdo de outras matérias. O mesmo poderá ocorrer com Física, Biologia e Química, pois os itinerários foram divididos em 5 grandes blocos, com enunciados genéricos acima.

    É o que está sendo feito na educação média de nosso País, com a aprovação da reforma do ensino, atendendo a tal escola sem partido, banindo, praticamente, matérias importantes para uma educação crítica, que estão no currículo escolar em todo o mundo, principalmente os mais desenvolvidos.

    Ora, bandeira é um símbolo, como o hino nacional também o é. Porém, quem a reverencia de verdade, quem canta o hino brasileiro com emoção, hoje em dia? Descrédito?

    É claro que o povo, sem condições de pensar e racionar, pela perda da educação crítica está cada vez mais afastado da consciência de que somos um País e somos soberanos.

     

     

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