Academia brasileira perde Edgar De Decca e Mariza Corrêa

Intelectuais são autores de obras no campo da história da República, história contemporânea, gênero e relações raciais
 
Jornal GGN – No mesmo dia, 27 de dezembro, o país perdeu dois importantes acadêmicos: Edgar Salvadori de Decca e Mariza Corrêa, ambos do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp.
 
Em nota oficial, a reitoria da instituição lamentou a perda fazendo um breve resumo da importância dos professores na produção de conhecimento. Salvadori de Decca é considerado um dos intelectuais mais importantes do país, desenvolvendo trabalhos em historiografia, história moderna e contemporânea e história do Brasil República. Ele é autor de “1930 – O Silêncio dos Vencidos”, livro publicado em 1981 ressaltando o olhar do movimento sindical dos anos 30. De Decca sempre teve como proposta em seus trabalhos dar voz aos vencidos da história.
 
Já a professora Mariza Corrêa atuou por mais de 30 anos na Unicamp, desenvolvendo pesquisas na área de antropologia e feminismo. Ela foi uma das fundadoras do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, criado em 1993 e é autora de estudos pioneiros nas áreas de violência, família, gênero, relações raciais, interseccionalidades e intersexos.
 
Veja à seguir a nota da Unicamp 
 
É com extremo pesar que a Reitoria da Unicamp comunica o falecimento dos professores Edgar Salvadori de Decca e Mariza Corrêa, ambos do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp.
 
Um dos intelectuais mais destacados do País, De Decca foi professor titular do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, pró-reitor de graduação e vice-reitor da Universidade. O sepultamento ocorreu na terça-feira, dia 27 de dezembro, no cemitério Parque Flamboyant, em Campinas.
 
Mariza Corrêa foi diretora do IFCH e professora do Departamento de Antropologia. Nos últimos anos de vida, atuava junto ao Pagu/Núcleo de Estudos de Gênero. Sua morte ocorreu na terça-feira, 27 de dezembro e o corpo foi cremado no dia seguinte (28), em Campinas (SP).
 
Edgar De Decca: historiografia e identidade brasileira
O professor De Decca atuou principalmente nas áreas de historiografia, história moderna e contemporânea e história do Brasil República. Sua trajetória intelectual foi marcada por by Ads”> apostas que alteraram as bases da historiografia brasileira e permitiram que a história fosse contada de outra maneira, inclusive pela voz dos vencidos. Seu livro 1930 – O Silêncio dos Vencidos, publicado em 1981, pela editora Brasiliense, por exemplo, De Decca privilegia a ótica do movimento sindical ao analisar arquivos e fatos que marcaram a Revolução de 30, desprezando a versão difundida pelas elites.
 
Em outubro de 2003, assumiu uma cátedra da Unicamp no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, em Lisboa, com a missão discutir a identidade brasileira no território que a forjou. “Tenho um interesse especial pela maneira como essa história foi contada e construída para nos aproximar e nos distanciar desse pai que ora idealizamos, ora rejeitamos”, disse De Decca em entrevista ao Jornal da Unicamp na época (leia entrevista completa). O curso abrangeu o período compreendido entre a Independência e as obras dos intelectuais que emergiram na década de 30 e teve como destaque uma tese de mestrado inédita de Sérgio Buarque de Holanda, descoberta por ele em garimpagem feita no acervo confiado à Unicamp pela família do intelectual paulistano. De acordo com De Decca, a tese aprofundava, 20 anos depois, aquilo que fora esboçado em Raízes do Brasil, clássico que trouxe à luz os elementos formadores da nossa sociedade.
 
Mariza Corrêa: antropologia e feminismo
Professora do Departamento de Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp durante trinta anos, Mariza Corrêa marcou a antropologia e o feminismo brasileiros. Seus estudos foram pioneiros em áreas como violência, família, gênero, relações raciais, interseccionalidades e intersexos. Mariza foi umas das fundadoras do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, criado em 1993 a partir do trabalho de um grupo de estudos de professores e alunos de pós-graduação do IFCH (veja Especial Unicamp 50 anos), e teve papel fundamental na criação e solidificação dos Cadernos Pagu e da Coleção Gênero e Feminismos da Editora da Unicamp.
 
Dentre suas principais pesquisas podemos destacar seus estudos sobre homicídios e tentativas de homicídios cometidos em Campinas entre 1952 e 1972, publicado posteriormente sob o título Morte em família — Representações jurídicas dos papéis sexuais (Graal, 1983), que continua atual e inspirando pesquisas sobre violência contra mulheres.
 
Em setembro de 2004, Mariza coordenou um encontro internacional organizado na Unicamp para discutir a prática dos “crimes de honra” na América Latina e no Oriente Médio. “Se, em um caso, trata-se de justificar o orgulho ferido do marido e, no outro, de reconstituir as relações da família de origem da mulher, por que juntar pesquisadores latino-americanos e do Oriente Médio para discutir os chamados crimes de honra? Justamente para desmistificá-los. E, no mesmo movimento, desmistificar a ideia de que a noção de honra teria o beneplácito das religiões muçulmanas como forma de controle da sexualidade feminina, o que os líderes islâmicos negam com veemência”, contou a professora em entrevista ao Jornal da Unicamp na época (leia a reportagem completa).
 
Em homenagem a Mariza Corrêa publicada no site do Pagu, a professora Adriana Piscitelli expressou: “a partida dela é uma imensa perda, mas também é imenso o legado que nos deixou”.

Veja à seguir a nota da Unicamp 

Redação

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