Demissões na Fundaj após visita de Mendonça Filho

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) recebeu a visita do ministro Mendonça Filho no dia 23 de fevereiro. Depois de sua visita seis servidores, entre monitores e estagiários, foram demitidos do Museu do Homem do Nordeste. O estopim, segundo levantado pelo site PorAqui, da região, teria sido a presença de copos com a inscrição ‘Fora Temer’. A visita oficial seria o lançamento do projeto Mestres dos Saberes e a liberação de R$ 20 milhões para a UFPE, incluído aí R$ 6 milhões para a recuperação do prédio da Faculdade de Direito do Recife (FDR).
 
A assessoria de imprensa do ministro, questionada, considerou o fato estranho, dizendo desconhecer a informação. ‘Se teve demissões na Fundaj, é um trabalho deles lá’.
 
Mas o ministro tem um histórico na região. No ano passado, durante a posse do presidente da Fundaj, Luiz Otávio de Melo Cavalcanti, ele enfrentou alguns protestos. Mesmo com este histórico, a assessoria garante que o ministro nunca perseguiu ninguém, ‘tem enfrentado os protestos com tranquilidade e, na semana passada, teria estado apenas no hall do Museu do Homem do Nordeste e não visitou as salas da instituição’.

 
Na visita, Mendonça abordou o último tema que o cerca, a disciplina sobre o golpe a ser ministrada pela UnB. Disse ele: ‘Quando você usa professores, servidores, salas de aula, infraestrutura como um todo da universidade para servir a uma disciplina que não tem nenhuma base científica e que está lá apenas para divulgar teses malucas do Partido dos Trabalhadores, você está fazendo o chamado patrimonialismo’.
 
Já a Fundação Joaquim Nabuco, em nota, afirmou que as mudanças no corpo técnico do Museu já estavam em curso, ‘obedecendo o critério de competência técnica e a autonomia de gestão’.
 
O PorAqui conversou com servidores do Museu, onde reina o clima de medo. Para eles, a demissão de uma das servidoras delineia uma disputa entre o grupo que veio com o ministro e os profissionais com mais tempo de casa.
 
Primeiro demitiram Silvana Araujo, por embate com a coordenadora geral do Museu. Depois foi a vez da Coordenadora de Ações Educativas Edna Maria da Silva. A seguir dois monitores e três estagiários receberam o cartão vermelho.
 
Paulo Rubem, presidente da Fundação Joaquim Nabuco na gestão Dilma Rousseff, declarou ao portal que ‘desde o começo, uma das marcas dessa gestão tem sido o afastamento – inclusive de motoristas – para trazer pessoas que sejam da confiança de Mendonça Filho. A Fundaj tem um plano de desenvolvimento institucional, que eu acompanhei durante mais de um ano, mas ele não está sendo respeitado e fica bastante evidente que essa movimentação é indício de um aparelhamento’.
 
Diante do ocorrido, o Coletivo Fundaj pela Democracia soltou nota em que descreve a atuação do ministro na Fundaj. E foi bem diversa da afirmada pela assessoria.
 
do Coletivo Fundaj pela Democracia
 
Demissões e aparelhamento da Fundação Joaquim Nabuco/MEC escancaram a política do Democratas (DEM)
 
TEMPESTADE EM COPO D’ÁGUA
 
Exoneração da gestora do Educativo do Museu do Homem do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), órgão vinculado ao MEC, além de demissão de monitores terceirizados e dispensa de estagiários, contradiz o discurso do ministro Mendonça Filho acerca da oferta da disciplina eletiva “Tópicos Especiais em Ciência Política: o golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil” por parte de professores da Universidade de Brasília (UnB).
 
Em nota oficial, o ministro acusou os professores e a própria UnB de fazerem uso de “prática de apropriação do bem público para promoção de pensamentos políticopartidários” e de fazer “proselitismo político e ideológico de uma corrente política usando uma instituição pública de ensino”. Mas não parece que é na UnB que isso está ocorrendo, mas, sim, em outra instituição vinculada ao MEC, a Fundaj.
 
Desde o dia 23 de fevereiro, quando o ministro e sua comitiva estiveram na Fundaj, em duas solenidades oficiais, foi ampliado o clima de perseguição na Instituição, em especial no Museu. Na ocasião, a gestora do Educativo do Museu foi chamada a explicar o uso, por alguns dos monitores e estagiários, de um copo vermelho e amarelo que supostamente teria um adesivo com a expressão “Fora Temer”. Apesar de ter esclarecido que desconhecia o fato, a servidora foi responsabilizada e comunicada de sua exoneração e da demissão e dispensa de mais cinco membros de sua equipe. O motivo alegado pelos dirigentes foi a existência e o uso do tal copo naquela solenidade.
 
O grave fato não representa a única iniciativa do gênero desde a posse do ministro Mendonça Filho e do atual presidente da Fundaj Luiz Otávio Cavalcanti e sua equipe. Muito pelo contrário. Além de patrocinar o desmonte de importantes áreas da Instituição e de descaracterizar outras, e de censurar a realização de eventos de caráter científico e de promover outros com objetivos estranhos à missão da Fundaj, dezenas de cargos têm sido ocupados por pessoas sem vínculos com o serviço público em detrimento de servidores de carreira. O Diário Oficial da União mostra que mais de uma centena de atos de exoneração e nomeação e de dispensa e designação foram feitos.
 
Mas o aparelhamento da instituição e as recorrentes substituições de servidores por pessoas nomeadas e designadas por critérios políticos e a partir de seus vínculos partidários tem atingido igualmente terceirizados e estagiários. O Diário Oficial também mostra que o uso recorrente de inexigibilidade de licitação em contratações tem sido prática corriqueira e alcançado valores surpreendentes e desproporcionais
aos serviços e produtos almejados, muitos dos quais poderiam ser realizados por servidores da Instituição, inclusive no caso de uma das contratações anunciadas pelo ministro na solenidade do dia 23 de fevereiro.
 
Na acusação feita pelo ministro em nota contra a realização da disciplina na UnB, que faz dele alvo da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, Mendonça Filho afirma que a sua realização “traz indicativos claros de uso de toda uma estrutura acadêmica, custeada por todos os brasileiros com recursos públicos, para benefício político e ideológico de determinado segmento partidário”. Na verdade, o que o ministro retrata está acontecendo exatamente na Fundaj. Intramuros, nem mesmo os dirigentes escondem que os beneficiários dessas medidas têm nome e partido: o ministro Mendonça Filho e o DEM.
 
 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

2 Comentários

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  1. Vai aparecer no jornal
    Vai aparecer no jornal nacional? Como?

    Entao, já era.

    A boçalidade golpista chega a ser até engraçada. Se fosse o PT, PT, PT logo apareceria alguém falando em “stalinismo”, “hegemonia”…

    Cadê um Professor Doutor pra responder à altura, pra dizer que a boçalidade golpista é um fato social, e que a Universidade tem a obrigação de examinar cientificamente?

  2. Disciplina Golpe

    A USP abriu edital de contratação para a disciplina sobre o Golpe.

    Alguns professores já foram contratados, entre eles um sem diploma, mas

    com Notório Saber – José Serra.

    kk

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