Diretor escolar: educador ou gerente?

Para pesquisador, gestor escolar deve unir conhecimentos técnicos e de administração, mas sempre norteados pelo seu papel de educador.

Por Ana Luiza Basilio, do Centro de Referências em Educação Integral

O professor titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Vitor Henrique Paro, tem muito bem definido o objetivo da escola. “Ela tem o papel de fazer crianças e adolescentes se apropriarem daquilo que o homem produziu historicamente, ou seja, ela tem um compromisso com a formação desse ser humano histórico”.

É desse lugar que o educador e pesquisador lança suas análises, reflexões e provocações sobre o sistema educacional e seu funcionamento. Em mais de uma dezena de livros publicados, Vitor já se encontrou com temas como gestão democrática, qualidade do ensino, reprovação escolar e estrutura das escolas, entre outros.

Na obra “Diretor Escolar: educador ou gerente?”, o autor se debruça sobre a prática do principal dirigente escolar, buscando examinar como a sua atuação técnica e política pode ser promotora de uma educação de qualidade.

Em entrevista concedida ao Centro de Referências em Educação Integral, Vitor Paro reconhece que o diretor é um administrador, uma vez que precisa gerir recursos para alcançar um fim educacional. No entanto, reforça que essa atuação em nada tem a ver com pensar a escola dentro de uma lógica empresarial. Pelo contrário, o diretor será capaz de gerir melhor os seus recursos à medida em que for um bom educador.

Alinhando conceitos

Já nas primeiras linhas de seu livro, o pesquisador esclarece porque traz o conceito da administração para falar sobre a prática do diretor escolar.

“Tradicionalmente, os estudos sobre a atuação do diretor costumam ater-se a uma concepção de administração diversa do conceito amplo utilizado neste livro, razão pela qual restringem a ação administrativa dos diretores apenas às atividades-meio, dicotomizando, assim, as atividades escolares em administrativas e pedagógicas”, relata em trecho da obra.

Segundo Paro, essa abordagem acaba por tornar as atividades administrativas e pedagógicas mutuamente exclusivas, como se elas não pudessem coexistir.

Reconhecendo o diretor como um administrador

O pesquisador explica que administrar é utilizar recursos de maneira racional para atingir um determinado fim. Na escola, segundo ele, isso também se aplica, já que o objetivo da instituição deve ser o fim educativo, garantindo o direito dos estudantes a terem acesso a diversas aprendizagens.

Em sua análise, no contexto educacional, os recursos que devem ser administrados pelo diretor se classificam em objetivos e subjetivos. Os objetivos se referem a elementos fundamentais no processo do trabalho, como o prédio escolar, o mobiliário, o material escolar e livros, entre outros componentes.

Os subjetivos, por sua vez, referem-se à força de trabalho, à energia daqueles que trabalham dentro da escola. Aqui, são colocados os diversos atores escolares – coordenadores, professores, demais funcionários e os próprios estudantes, “já que eles também depositam nesse ambiente sua personalidade, seus conhecimentos, habilidades e desejos”, explica.

Administração ou gestão escolar?

Para o pesquisador, não há uma diferença conceitual entre os termos, embora reconheça que existam correntes que defendam uma ou outra nomenclatura. “Você pode falar em administração ou gestão escolar, desde que se entenda que ambas pressupõem uma mediação”, explica.

Em relação ao termo administração, no entanto, Paro reforça que é necessário compreendê-lo para além do senso comum e de seu uso empresarial, que veem o ato de administrar como uma prática centralizadora e de mando. “Nesse caso, o que se tem é uma confusão entre o caráter técnico – de utilizar os recursos da maneira mais adequada – com o político, que se refere ao poder de fazer com que os outros hajam sob a sua vontade”, argumenta.

O elemento mediação

Segundo Paro, para o gestor chegar a determinados fins, precisa lançar mão de alguns meios, o que ele chama de trabalho de mediação. “Em uma empresa, por exemplo, a mediação também está presente, pois é o meio que essa companhia vai encontrar para chegar ao seu objetivo final, no caso, obter lucro”, coloca.

Crédito: PsychoShadow_Shutterstock

“Na escola é diferente”, avalia, já que o objetivo dela é garantir o pleno desenvolvimento dos estudantes, formando cidadãos críticos capazes de atuar na nossa sociedade.

É essa tarefa de gerir uma escola na qual no centro de tudo estão os estudantes é que faz do diretor uma educador.

“A criança só aprende se ela quiser”, atesta Vitor Paro. Por isso, o processo de aprendizagem só se efetiva quando a criança ou o jovem é cativado. “O que só é possível através do diálogo, democraticamente”, aponta.

Paro afirma que é impossível alcançar uma educação significativa se utilizando do controle. “Não à toa, os métodos educativos mais revolucionários da história são os democráticos, desde Comenius, passando por Jean-Jacques RousseauAnton MakarenkoPistrak e Paulo Freire.”

O diretor mediador

O diretor mediador se coloca nesse processo, então, como um facilitador dessa aprendizagem, garantindo que a otimização dos recursos objetivos e subjetivos se dê em uma condição dialógica.

“Há duas maneiras de conviver com o sujeito, uma delas é dominando-o, reduzindo-o a objeto, de maneira autoritária. A outra é pela democracia, que preza pelo reconhecimento dos diversos sujeitos, seus antagonismos, e pela interação a partir do diálogo”, reconhece o pesquisador, ao atestar a importância do diretor estabelecer essa relação pedagógica entre a comunidade escolar.

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Redação

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