Educação aumenta contas de prejuízo de escola ocupada

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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O aumento de R$ 10 mil nos cálculos do governo Alckmin ocorre após denúncias de estudantes de descobrirem salas com materiais não entregues e não usados. Ainda assim, alunos irão fazer feijoada e “vaquinha” para ressarcir Estado
 
 
Jornal GGN – A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo aumentou em R$ 10 mil o prejuízo estimado com o desaparecimento de equipamentos da escola Fernão Dias Paes, na zona oeste da capital paulista, escola símbolo e uma das primeiras a iniciar a onda de protestos contra a reorganização escolar da gestão de Geraldo Alckmin. O aumento de R$ 5 mil para R$ 15 mil ocorre após os alunos denunciarem a descoberta de salas com materiais abandonados e não entregues. Ainda assim, estudantes se organizam para fazer feijoada e “vaquinha” para ressarcir Estado.
 
Uma nota oficial foi divulgada pela pasta no dia 6 de janeiro, informando que, após as chaves da E.E. Fernão Dias Paes serem entregues pelos estudantes, dois dias antes, uma equipe designada pela Diretoria de Ensino e pela direção da escola realizaram uma vistoria técnica, no dia 5 e encerrada no dia 6. O resultado da visita, de acordo com a Secretaria de Educação, foi a falta de um notebook, um televisor e um projetor de imagens, e dois itens estariam danificados: uma televisão e uma impressora.
 
Nos dias em que o governo estadual divulgava ter sofrido prejuízo com a ocupação, que reivindicava o fim da proposta de Alckmin de reorganizar classes e fechar unidades, além da melhoria na qualidade do ensino, os estudantes descobriram pilhas de livros didáticos, apostilas, instrumentos musicais e até carteiras retidos em espaços das escolas, intactos e sem o uso. A divulgação das fotos motivou outras escolas a denunciarem que a situação se repetia. O GGN identificou a ação em, pelo menos, três escolas do Estado. Outras denúncias de professores se espalharam pelas redes sociais.
 
Em resposta ao GGN, a Secretaria de Educação afirmou que poderiam “ser montagem” as fotos tiradas pelos alunos nas escolas E.E. Fernão Dias, na E.E. Arthur Chagas e na E.E. Godofredo Furtado, enviadas à pasta por email na solicitação da equipe (confira a reprodução do email abaixo). Além da declaração, a assessora de imprensa responsável admitiu que o governo “estava passando por um momento delicado e crítico para a rede [de Educação]”. Após a repórter informar que as solicitações não estavam sendo respondidas, a assessora ameaçou o jornal de exigir retratação e disparou ataques.
 
Leia mais: Secretaria de Educação diz que pilha de livros abandonados “pode ser montagem”
 
Após a publicação da reportagem, e conforme antecipado pela própria assessora, a Educação enviou uma nota de resposta. Nela, a pasta desconsidera que a reportagem enviou todas as denúncias com respectivas fotografias, e acusa o jornal de trazer “denúncias não informadas”. Contudo, a Secretaria de Educação informou que “assim que fosse possível, as denúncias seriam apuradas”.
 
Leia mais: Educação responde ao GGN sobre denúncias de materiais abandonados
 
A descoberta de materiais estocados e sem uso em escolas já estava disseminada em diversos veículos de notícia, quando a Secretaria de Educação e o governo do Estado decidiram ir além da vistoria técnica realizada após a desocupação e solicitaram uma nova perícia diretamente pela polícia. Depois da visita, os policiais teriam detectado a falta também de três microscópios e uma luneta que, segundo a pasta, adicionaram R$ 10 mil ao prejuízo. 
 
Os estudantes negam ter levado objetos. Paralelamente à programação de aulas abertas, shows musicais e outras atividades, durante os 55 dias em que ocuparam o colégio na zona oeste da capital, os alunos também se revezaram para cozinhar, limpar os espaços e até consertar objetos quebrados, como vasos sanitários.
 
Ainda assim, no dia 4 de janeiro, os estudantes firmaram um “termo de entrega”, comprometendo-se a consertar ou substituir, ao longo do ano de 2016, os itens que assumiram ter danificado, como janelas, fechaduras e uma mesa de pingue-pongue. Para custear o ressarcimento, os alunos pretendem se mobilizar em eventos, como a organização de uma feijoada na escola, além de fazer uma “vaquinha”. 
 
Os mutirões de limpeza e organização da escola foram também registrados em fotos:
 
Fotos da E.E. Fernão Dias Paes
 
Fotos da E.E. Fernão Dias Paes
 
Fotos da E.E. Fernão Dias Paes
 
Fotos da E.E. Fernão Dias PaesFotos da E.E. Fernão Dias Paes
 
Fotos da E.E. Fernão Dias Paes
 
Fotos da E.E. Fernão Dias Paes
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

9 Comentários

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  1. R$ 15 mil? Mole pra nós

    Bota aí o link de como contribuir. Deixa o Chico César saber disso, ele faz um show beneficente e levanta 5 vezes isso num tapa. 

  2. Fato baseado na palavra da secretaria ou no patrimônio público?

    Alguém teve o bom senso de solicitar o patrimônio, documento de entrega, processo de licitação/pregão ou notas fiscais dos referidos bens?

     

    Notebook, microscópio, luneta caracterizam-se bens patrimoniáveis e não de consumo, assim sendo, basta a solicitação junto ao órgão responsável pela distruição dos referidos bens para averiguar se realmente haviam sido entregues nas escolas.

     

    E se foram entregues, quem garante que esses bens sumiram durante a ocupação? A PM? A secretaria? Ou os alunos admitiram?

     

    1. Como acreditar em uma PM que

      Como acreditar em uma PM que “planta” objetos em mochilas escolares?

      A PM paulista é tão bandida quanto os governantes daquele estado.

  3. Difícil de acreditar no Governo deo estado de SP!

    O Governo do estado de SP quer que acreditemos que os meninos que cuidaram muito bem do patrimômio, pintaram as escolas, lavaram-nas, descobriram os materiais guardados e denunciaram ao invés de se apossarem deles e tinham comissões de ocupação bem organizadas para que nada acontecesse de errado nem com os alunos, nem com o patrimômio sejam responsabilizados pelo sumiço de alguns itens? Primeiro lugar, já sabemos que o Geraldinho adora demonizar um protesto, ainda mais quando ele perde, principalmente para adolescentes! Segundo, é que ele não aceitou até agora ter sido obrigado a voltar atrás! Terceiro, é que o senhor governador conseguiu a proeza da sociedade se mobilizar e se solidarizar em favor dos estudantes! Mas ele nunca vai aceitar nada disso! Portanto, fará de tudo para desmoralizar a conquista dos nossos secundaristas!

  4. Impedimento do Governador e Seu Vice

    Caros Comentaristas

    Dado o tratamento à Educação em SP, desde o ínicio da sua reeleição, quem não se lembra: – reduziu pela metade as vagas das Escolas Técnicas, quer transformar jovens estudantes em infratores, provoca terrorismo de Estado com instituições que deveriam servir ao Cidadão.  A cada dia um novo escândalo, e a crise hídrica?  Metro e CPTM? Aparelhamento da PM e MP?

    Basta impedimento já; a esse Sr. e a seu vice; quem é simpático a ideia assine no site Petição Pública.  O povo tem força, basta acreditar! 

  5. Bem que o Sensacionalista poderia

    escrever um artigo para este caso, não é? 

    Quiçá:

    “Alunos ensinam Secretaria de Educação a trabalhar.”

    “Alunos demonstram que escolas custam menos que penitenciárias.”

    “Alunos não pagam propina para poderem consertaer escolas.”

    “Entidades oficiais não aceitam serviços dos alunos, alegando falta de propina.” 

    Claro, tudo, invencionice.

     

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