Em SC, professor perde emprego depois de ler aos alunos textos contra tortura

Willian Meister discutiu em sala crimes contra humanidade praticados da ditadura militar, na semana em que se completou 55 anos do golpe

Jornal GGN – O professor de educação física Willian Meister foi demitido da Escola Municipal de Educação Básica Oswaldo dos Reis, de Itapema, Santa Catarina, por ter apresentado um texto poético sobre a ditadura para discussão com os alunos. A cobertura é do portal Jornalistas Livres.

William contou que optou pela aplicação do debate por estar dentro do projeto de incentivo à leitura que integra todas as disciplinas da escola. A aula aconteceu durante a semana do 55ª aniversário do golpe que instituiu a Ditadura Militar no país de 1964 a 1985 e, aproveitando também o fato de a quadra da educação física estava passando por reformas.

Meister apresentou aos alunos Canção para ‘Paulo’ (A Stuart Angel), escrito pelo poeta paraibano Alex Polari, preso e torturado pelos militares aos 20 anos. Ele revelou à estilista Zuzu Angel que testemunhou a morte do seu filho, sob violenta tortura.

Logo após a aula, o professor disse que recebe uma advertência do diretor, Emílio César da Silva, que também é presidente do Conselho Municipal de Educação de Itapema. Silva é próximo da secretária municipal de Educação, Alessandra Simas, irmã da prefeita Nilza Simas (PSD). As duas se destacaram durante a campanha eleitoral em apoio ao então candidato Jair Bolsonaro (PSL).

Ainda segundo Meister, a direção da escola justificou sua advertência por conduta inadequada. Dois dias antes de receber a chamada, soube pelo diretor que havia uma denúncia anônima de um pai “youtuber” à prefeita Nilza Simas. Depois ficou sabendo que o pai era o ex-militar Marcelo Fidêncio. Finalmente, na véspera do Dia do Trabalhador, quando deveria renovar o contrato como professor Admitido em Caráter Temporário (ACT), Meister recebeu uma carta da secretaria municipal de Educação que estava dispensado do posto ocupado desde 2012 por concurso público.

Em entrevista aos Jornalistas Livres, o professor explicou que o caso dos poemas sobre tortura foi o ápice de um processo de perseguição político-ideológica mais longo. Em 2012, Meister se candidatou a prefeito de Itapema pelo PSOL, fazendo oposição direta à chapa vencedora do PSD.

Ele levou o caso à justiça argumentando ainda que a demissão fere o princípio de legalidade, uma vez baseada em uma advertência irregular, amparada apenas na queixa do pai contra o texto discutido em sala de aula.

“Nossa representação ao MP contra a minha demissão denuncia vários indícios de assédio moral, com farta documentação, ocorridos desde o início do ano, que levaram a gestão da escola a cometer crime de improbidade administrativa”, completou. Para ler a reportagem dos Jornalistas Livres na íntegra, clique aqui.

Canção para ‘Paulo’ (A Stuart Angel)

Por Alex Polari

Eles costuraram tua boca
com o silêncio
e trespassaram teu corpo
com uma corrente.
Eles te arrastaram em um carro
e te encheram de gases,
eles cobriram teus gritos
com chacotas.
Um vento gelado soprava lá fora
e os gemidos tinham a cadência
dos passos dos sentinelas no pátio.
Nele, os sentimentos não tinham eco
nele, as baionetas eram de aço
nele, os sentimentos e as baionetas
se calaram.
Um sentido totalmente diferente de existir
se descobre ali,
naquela sala.
Um sentido totalmente diferente de morrer
se morre ali,
naquela vala.
Eles queimaram nossa carne com os fios
e ligaram nosso destino à mesma eletricidade.
Igualmente vimos nossos rostos invertidos
e eu testemunhei quando levaram teu corpo
envolto em um tapete.
Então houve o percurso sem volta
houve a chuva que não molhou
a noite que não era escura
o tempo que não era tempo
o amor que não era mais amor
a coisa que não era mais coisa nenhuma.
Entregue a perplexidades como estas,
meus cabelos foram se embranquecendo
e os dias foram se passando.

Redação

48 Comentários

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    1. Uma hora ou outra a resposta terá que ser violenta… Sei lá, queimar agências bancárias, confrontar a polícia, quebrar a cara de uns fascistas… No mínimo, constranger com força estes vermes.

      Agora, se ficarmos no Facebook vamos viver num país nazista.

  1. Infelizmente no sul ocorre muito destas babaquices .
    Numerosos Imigrantes (vale repetir: IMIGRANTES) da Alemanha compõem uma parcela da sociedade desta regiao que se mostra extremamente preconceituosa e com um espirito escroto de apoiar ditaduras e aprendizes de tiranos.

      1. A vítima em questão estava fugindo da competência. Era professor de educação física, e estava usando o cargo para fazer militância política. É crime. A demissão foi justa.

        1. Militância política em um poema? Vc conhece a lei de incentivo à leitura, aplicada a TODAS as matérias? Claro que não. Ser contra a tortura não é ser político. É ser humano!

        2. Deixe de ser burro, idiota: nas práticas pedagógicas existe uma coisa chamada transversalidade ou tema transversal a partir da qual qualquer professor de disciplinas diferentes pode trabalhar temas próximos como, por exemplo, um professor de educação física trabalhar direitos humanos em sala de aula. Isso não é militância política, animal, mas prática pedagógica e além disso, direito de cátedra.
          Por outro lado, é proibido criticar teu governo, teus ídolos e a ditadura? Se for, é ditadura, imbecil!!!

        3. Radagaisus,

          O Igor idiota certamente não sabe que quando os militares deram o golpe em primeiro de abril de 1964 houve uma festa monstro em Blumenau (J. F. Silva, “História de Blumenau”, 2a. edição). Ele não sabe disso porque na verdade ele não sabe nada de nada. Mas para que os colegas tenham ideia aqui em Santa Catarina o Bozo teve mais de 80% de votos. A população toda é organicamente fascista.

      2. Concordo. Pode ter raiz alemã.
        E como tudo obedece a 3a lei N, quase sempre o feitiço se volta contra o feiticeiro.
        A tolerância atualmente dispensada a expansão de teorias nazifascitas no Brasil, certamente acabará vitimando descendentes não alinhados com a prática.
        Pode ser o caso. Bem observado!

  2. Parabéns pela coragem, Professor ! E vá em frente em suas reivindicações judiciais. E se for possível saia dessa cidade, melhor, desse estado. SC não lhe merece. Leve seus serviços para o Piaui, ou Bahia, ou Rio Grande do Norte, ou Maranhão. Minha sugestão não é retórica, não. Apesar de não ser perseguido estou pensando seriamente em me mudar para um desses estados, onde o ar é muito, muito melhor para a saúde.

  3. Parabéns ao Professor, por ensinar aos alunos contra a tortura. Houve tempo nesse país em que esse seria um comportamento normal. Hoje, parece censurado por seres humanos. Assim como a liberdade de pensamento. Na TV aberta, uma abjeta censura, a ditadura do pensamento único. Triste país esse. Não vejo futuro para ele. O que aconteceu com as nossas sinapses?

  4. Viva a era da ditadura democrática… Um povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la, triste a nossa realidade
    Meus Parabéns professor, muita força e continue sempre

    1. E desde quando tocar em um fato ocorrido na história de um país é ser doutrinador ? Doutrina é o que se aprende em aula de religião, é quando apenas o professor diz ter razão e nada nem ninguém pode desafia-lo ou discordar de seu pensamento mesmo apresentando uma crítica construtiva !

  5. A ditadura se instaurou em alguns municípios da região Sul, não é para menos, pois foi a região que mais deu votos para esse ser repugnante que está no comando do Brasil, infelizmente. Vejo pessoas sem o menor conhecimento em política ou história, professores… enfim, é lamentável ??? A Vc Professor o meu total apoio, sinto muito por ter chegado a essa situação, e a esses opressores o meu repúdio. Desejo te todo sucesso do mundo, consciência limpa e honestidade não tem preço

  6. Realmente não vejo como um professor de educação física tem haver com ditadura ou “golpe”, saindo completamente de sua matéria, ou para o qual foi contratado! A quadra esportiva estava em reforma, ok, vamo ver a teoria de vôlei, futebol, handebol, qualquer coisa que não seja política!
    Temos que fortalecer o escola sem partido!
    Ou seria mais um esquerdista oportunista!

  7. Deveria aproveitar e ensinar que a ditadura socialista de Mao Tse matou o triplo, do que matou o nazismo e o fascismo juntos. Tortura é inaceitável, seja em qual regime for.
    Aliás ele deveria dar aula de educação física, afinal era pago pra isso, não cumpriu o trabalho e foi demitido. Simples assim.

  8. Aproveita que agora por militanvia esta desempregado…vai pra curitiba dar bom dia boa tarde e boa noite pro presidiario corrupto ….e para de se fazer de bobo…

  9. Que País de merda é esse, Parabéns Professor pela coragem, Esse Estado aqui é um lixo também, representado por Hipócritas, Ladrões e Incompetentes no cenário da Política Brasileira…. Vão morrer todos de câncer esses vermes…..

  10. São atentados como este, ao livre e urgente pensamento, que pintarão no horizonte a queda do tirano que não nasceu pra ser presidente, todavia, seguramente nasceu para o dever de degradar a consciência reflexiva, para que todos vejam o mundo com olhos de vaca.

  11. Essa é a nova educação física da língua: ler poemas políticos em horário de aula! Será que a língua engrossa? Fica forte? Afiada? Bem feito pra esse professorzinho descapacitado!! Tivesse vergonha na cara e respeito ao dinheiro público gasto em seu salário teria cumprido sua obrigação funcional e dado aula da matéria para a qual foi contratado ! Merecida à exoneração!!!

  12. A mais triste História se repetindo, as denúncias dos livres pensamentos, a punição por não ser o gado manso direcionado ao abatedouro. Força e luta Professor William Meister, sempre!!!

  13. Mais uma arbitrariedade no Brasil. Essa demissão sem justa causa fere um dos princípios constitucionais de 1988: o da liberdade de expressão, além do que pode ser considerada assédio moral. Eu enquanto professor de História estou deveras angustiado com a hipocrisia, demagogia e os alienação que imperam grandemente no Brasil. Todos os regimes autoritários foram e/ou são assassinos. Todos os ISMOS ( Fascismo, Nazismo, Franquismo, Salazarismo, Getulismo, Militarimo, Comunismo…) perseguiram, prenderam arbitrariamente, massacraram…e o mais chocante é que caminhamos a uma nostalgia autoritária.

  14. Nesse país de tantos idiotas, falar a verdade sempre incomodará,sinto vergonha de ser brasileiro e se tivesse condições já teria ido a muito tempo embora daqui,até quando preferiremos os absurdos ao bom senso?não sou petista,apenas penso.

  15. Historia estranha. Estamos ouvindo somente um lado e isso não prova que a demissão ocorreu por essa causa. Também, em minha opinião, a escola é local neutro, onde os professores não devem ter lado político e devem ensinar a matéria para o qual foram contratados. As opiniões políticas devem ser deixadas para a roda de amigos.

  16. A escola é lugar de produção do conhecimento, e conhecer a história do Brasil é por excelência na escola. A ditadura empresarial-militar a partir do golpe de 64, torturou, matou, perseguiu, exilou seus opositores, fossem esses políticos, professores intelectuais, artistas, sindicalistas, padres, pastores, todos os trabalhadores, ti dos os brasileiros que se pusessem ao regime militar ditatorial. Foram anos em que a corrupção graçava livre, leve e solta, pois ninguém era denunciado, os militares promoveram também a entrega do patrimônio nacional. Porque hoje temos tantas empresas estrangeiras explorando nossos minerais? No período ditatorial negociaram essa exploração em alguns casos por mais de um século. A leitura, o livro é um interessante nicho de conhecimento, sugiro aos senhores que ainda ficando am no “milagre brasileiro” A leitura de um livro pequeno, aí já ajuda para quem não tem a leitura como hábito, o caso da maioria da população. Como disse sugiro a leitura do livro: ” O ABC do entreguista brasileiro”. Ali você vai enontrar as informações das ”
    negociatas e malversaçoes” deste tão decantada período ditatorial. Período este pouquíssimo estudado nas aulas de história, geografia, sociologia, economia, filosofia, literatura, português, educação física, religião. Sim, mesmo na “democratização lenta, gradual e responsável”, “imposta, permitida e negociada” pelos ditadores, dos quais grande maioria continuou na política da redemocratização híbrida, contaminada de por ditadores; sim se nessas aulas se estudasse de verdade o período histórico ditatorial, hoje não teríamos uma população ignara que defende a própria censura, opressão, exploração, fim dos direitos trabalhistas e previdenciários conquistados com lutas e sangue de tantos trabalhadores. Imã população ingênua, simplória, obtusa, manipulada, que defende um governo que veio para destruir o estado brasileiro, destruir a educação, saúde, segurança, saneamento básico, habitação, todos os serviços públicos. É inacreditável trabalhador ser contra os direitos dos trabalhadores. O cidadão tem uma loja, uma oficina na esquina ou no schoping e pensa que não é trabalhador, defende os interesses burgueses mas não é burguês. A ditadura produziu estas gerações de ignaros que defendem a chibata e se mostram saudosos do peulorinho.
    A ditadura matou sim violentou, estuprou, torturou, e pior de tudo: salientou, manipulou, idiotizou a ponto de pessoas que nada leram ou estudaram sobre o tema, fecham todas as possibilidades para um debate maduro, consistente, sério e só gritam: esquerdistas, não teve ditadura, foi uma revolução.
    Mas o fim das férias remuneradas, do décimo-terceiro salário, da licença maternidade, da escola pública, do SUS, do pontinho de saúde do bairro, do PIS/PASEP, do FGTS, dos financiamentos acessíveis, o fim da justiça do Trabalho, o fim dos direitos sociais, das condições mínimas da reprodução da vida vai ensinar o que foi o que é a DITADURA. Professor, sempre juntos: “Ninguém solta a mão de ninguém”.
    Para quem defende tanto a ditadura, comporte-se como manda a ditadura: Calado e pare de dar sua opinião e fazer qualquer crítica, na ditadura silêncio total, como era dito nos anos de chumbo: “manda quem pode e obedece quem tem juízo”.
    Professor, sempre juntos, “Ninguém solta a mão de ninguém”.

  17. Calma, gente! O fogo da inquisição vai, aos poucos pegar à todos. É uma questão de tempo e, todos em alguma instância serão afetados por essa onda reacionária. Aí vetemos Bolsoninions, jogando pedra.

  18. Em qualquer matéria, seja educação física ou outra qualquer,o professor deve ensinar cultura geral, poesia,etc,eu acho que o exoneraram apenas por politiquice,onde está a liberdade de expressão, o amor a cultura, ele deu uma boa aula de história,poesia,e cultura geral, quando a sala de educação física, me pareceu não estaria em boas condições, era bom que outros seguissem seu exemplo,

  19. NO MOMENTO EM QUE O PROFESSOR PERsE
    O DIREITO DE ESCOLHEr UM TExTO PARA ENSINAR O
    ALUNO A INTERPRETAR FICA CLARO QUE PERDE TUDO
    – INCLUSIVE O DIREITO DE DAR AULA….
    TALVEZ PARA O BEM DELE, PORQUE UM aISTEMA
    FASCISTA-NAZISTA DESSES NÃO MERECE TANTA CORAGEM
    E CARATER cOMO DEMONSTROU ESSE BRAVO PROFESSOR…
    mais um que talvez saia às ruas para mudar isso que taí……

  20. Lamento pelo professor, mas na minha opinião em que os ânimos estão acirrados vai cutucar onça com vara curta, deu no que deu. Como dizia a minha mãezinha “foi procurar chifre de boi na cara de cavalo”, moral da história se deu mal.

  21. Há uma coisa muito errada mês história.
    Esse professor não era professor de Sociologia ou filosofia, mas sim de educação física. Não é da competência de um professor de educação física “promover debates intelectuais”. Minha professor de educação física me fazia correr 12 minutos na quadra.
    Diante disso, ficou claro o proselitismo político e “religioso” (maxismo é sim uma religião), então a demissão foi justa.
    Se quer fazer militância política, crie um canal no YouTube.

  22. Radagaisus,

    No início das mensagens rolou uma ideia que o fascismo catarinense seria devido à imigração alemã. Ledo engano. É interessante registrar que o povo catarinense (e também os paranaenses e gaúchos) é muito mais nazista que o povo alemão à época de Hitler. Nas eleições de julho de 1932 o Partido nazista teve pouco mais de 32% de votos, quase perdendo para o Partido Socialista (SPD). Os nazistas forçaram a barra e conseguiram uma outra eleição para dezembro de 1932. A ideia deles era ganhar com uma vantagem muito maior, o que forçaria o Marechal von Hindenburg — na época o presidente alemão — a indicar Hitler como primeiro ministro. Na verdade os nazistas tiveram um número de votos ainda menor, mas ganharam a eleição, e no fim, pressionado pelas circunstâncias, von Hindenburg indicou Hitler como primeiro ministro em janeiro de 1933. Mas percebam que de todo o povo alemão somente 30% votaram no Hitler. Mas na última eleição aqui mais de 80% dos catarinenses votaram no Bolsonaro. Percebam então que o povo alemão não tem nada a ver com o que aconteceu na última eleição para presidente do Brasil nos estados do sul do Brasil.

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