Globo distorce ‘aulões’ na ocupação da Universidade de Brasília

 
Desde o dia 31 de outubro, estudantes da Universidade de Brasília ocupam a reitoria e outros locais da instituição em protesto contra a Proposta de Emenda à Constituição 55 (antiga PEC 241), que propõe um teto aos gastos públicos.
 
O DFTV, jornal regional da TV Globo, fez uma matéria em que mostrava alunos contrários à ocupação da universidade. Além disso, a reportagem dizia que os professores estavam dando suas aulas ao ar livre para “não atrasar o semestre”. 
 
Na verdade, segundo professores e alunos da UnB, as imagens mostraram ‘aulões’ que fazem parte das mobilizações. São aulas abertas que os professores estão dando em apoio às ocupações. “São aulas que a gente modifica, com outras discussões, como a PEC, que não tem a ver com o currículo fechado”, explica a professora Regina Dalcastagné, do Instituto de Letras (IL).

 
Ela também conta que, em assembleia no sindicato dos docentes, foi decidido que os professores dariam total apoio às ocupações dos estudantes. Entretanto, em uma segunda assembleia, a greve não foi aprovada. A paralisação dos docentes era esperada não só em apoio ao movimento estudantil, mas também porque os servidores da UnB estão em greve, que teve início antes da mobilização dos alunos contra a PEC.
 
No caso do Instituto de Letras, os docentes decidiram suspender temporariamente as atividades, como as aulas de graduação e pós-graduação, avaliações, seminários avaliativos e estágios, em apoio à mobilização dos estudantes. 
 
Além disso, a ocupação ocorre de maneira mais tranquila do que a apresentada pelo jornal regional da Globo. “A ocupação está muito tranquila, os alunos estão muito pacíficos, não há nenhum tipo de constrangimento entre alunos e professores”, conta a professora. 
 
“Eles estão cuidando, limpando, tomando o maior cuidado com o patrimônio, com o espaço físico, tentando dialogar, muito bem organizados. É impressionante acompanhar o processo. A gente está animado vendo o que está acontecendo, e esperando que isso tenha um reflexo depois, no dia-a-dia da universidade, na sala de aula, e que eles possam participar mais ativamente da vida universitária”, disse ela. 
 
Decisão judicial
 
Ontem (21), o juiz Itagiba Catta Preta Neto, da 4ª Vara da Justiça Federal, determinou a desocupação da universidade em um prazo de até 48 horas. Depois, o Ministério Público Federal do Distrito Federal (MPF-DF) disse que irá recorrer da decisão cautelar, alegando que a sentença não consultou todos os setores da comunidade acadêmica.
 
Os professores do IL repudiram a ação, argumentando que apenas a própria universidade poderia reinvidicar a reintegração de posse. “Salientamos que o processo como um todo é flagrantemente viciado, tendo em vista a clara instrumentalização política das instituições jurídicas”, diz a nota. 
 
A decisão acabou deixando professores e estudantes preocupados com a possibilidade de uma retirada violenta dos alunos que ocupam a reitoria e outros locais na universidade. Além da ação do MPF, existem advogados que estão dando apoio aos estudantes. 
  
Estudantes que participam da ocupação também disseram que preparam medidas caso a reintegração seja, de fato, cumprida. Os alunos afirmam que aos menos 16 cursos entraram em greve, sendo que alguns deles decidiram pela paralisação mesmo sem estar ocupando seus respectivos institutos. 
 
Nova reitoria
 
Nesta terça (22), o Diário Oficial da União publicou a nomeação de Marcia Abrahão como nova reitora da UnB. Professora e ex-diretora do Instituto de Geociências da universidade, Abrahão foi eleita em setembro e é a primeira mulher a ocupar o cargo. Ela deve tomar posse na próxima quinta, coincidindo com o prazo determinado pela Justiça para a desocupação da UnB.
 
 
A posse da nova reitora é vista com otimismo pelos alunos e professores. “Ela é uma pessoa que tem um diálogo melhor com os estudantes, com os próprios professores, então a gente acredita que a coisa vai ser conduzida com maior tranquilidade a partir de agora”, conta Dalcastagné. 
 
Ocupações pelo país
 
De acordo com a União Nacional dos Estudantes (UNE), 226 universidades públicas e privadas estão ocupadas em todo o país. 
 
No próximo dia 29, entidades estudantis, como a UNE e a União Brasileiras dos Estudantes Secudaristas (UBES) farão uma caravana dos estudantes até Brasília para protestar contra a PEC 55, a Medida Provisória (MP) da reforma do Ensino Médio e o projeto da Escola Sem Partido. A mobilização será realizada no mesmo dia da votação da proposta do teto de gastos no Senado Federal. 
Redação

5 Comentários

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  1. E os famigerados Catta Preta…

    Atacam de novo…Serão sempre os mesmos?

    Estranho notar que volta e meia um dos atores de sempre acenam para a mídia do golpe. Cattas, Moros, Danogol, Mendes, Caiado…

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