Marise Ramos: ‘O desafio da política pública é brutal e a sociedade é eticamente obrigada a se comprometer com ela’

A pesquisadora faz uma reflexão sobre a modalidade de aulas remotas, adotadas em meio à pandemia, e alerta para um aumento da desigualdade educacional no país

do CEE Fiocruz

Marise Ramos: ‘O desafio da política pública é brutal e a sociedade é eticamente obrigada a se comprometer com ela’

Desde março de 2020, estudantes de todo Brasil deixaram de frequentar as atividades presenciais nas escolas como forma de prevenção à propagação do novo coronavírus. As aulas remotas ainda se mostram como uma realidade nos próximos meses, e os impactos da pandemia na educação brasileira, diante de uma sociedade desigual como a brasileira, são analisados nos podcasts abaixo pela professora Marise Ramos, da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Marise Ramos que também é pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz, faz uma reflexão sobre a modalidade de aulas remotas, adotadas em meio à pandemia, e alerta para um aumento da desigualdade educacional no país, principalmente, nas camadas sociais menos favorecidas.

Acesse os podcasts com Marise Ramos.

O espaço escolar continua sendo fundamental para o desenvolvimento da educação

As aulas remotas escancaram nossas desigualdades

 

Para Marise, as aulas remotas, no contexto da pandemia, foram um caminho encontrado para possibilitar que os estudantes dessem continuidade as atividades escolares diante da necessidade do distanciamento social imposto pela pandemia. Mas, na avaliação da pesquisadora, o desenvolvimento das aulas remotas exige condições mínimas de acesso à tecnologia – embora isso não seja suficiente. “O acesso à tecnologia e seus insumos é condição necessária, entretanto não é suficiente, considerando que um estudo precisa ser feito de maneira que o estudante tenha concentração, tempo disponível, que as condições cotidianas e familiares sejam também apropriadas e que os dispositivos possam ser utilizados pelos estudantes no tempo necessário para assistir a aula ou fazer as respectivas atividades”.

Marise destaca aspectos objetivos e subjetivos que podem impactar o aprendizado educacional em casa, principalmente, de indivíduos de grupos familiares mais pobres. Segundo a professora, é fundamental ter “condições domésticas, espaço com alguma condição de permanência, com nível de silêncio que se possa propiciar concentração, e condições psicológicas, isto é, um tempo dedicado aos estudos sem que este tenha que ser dividido com outras atividades e tarefas”.

Segundo a pesquisadora, o enfrentamento dessas questões atinge, exatamente, a população da escola pública, que é a mais pobre, e que tem menos condições objetivas e subjetivas para o acompanhamento do ensino remoto. “As escolas físicas, das redes públicas, já eram e são equipamentos em condições aquém daquelas necessárias para a educação de qualidade, direito subjetivo social e inalienável de cada pessoa deste país”, avalia a pesquisadora, completando que “a conjugação das questões tecnológicas com questões da vida social e do cotidiano familiar trata-se de uma composição complexa e contraditória, de tal maneira que o espaço escolar frequentado fisicamente continua sendo fundamental para o desenvolvimento da educação”.

Marise destaca, ainda, que as aulas remotas escancaram desigualdades no acesso à educação de qualidade, “ainda que sua ausência completa faz com que essa desigualdade seja superior”.

Para a professora, um cenário possível é que a base da pirâmide ficará muito mais larga e o abandono escolar pode aumentar nesse período.“Tenderá a aumentar gravemente o número de pessoas com baixa escolaridade ou o patamar médio de escolaridade mínima da população tenderá a diminuir”, avalia.

Para Marise, é preciso trabalhar intensamente, em diferentes instâncias, em prol da mudança desse cenário que se anuncia. Ela destaca a necessidade de se “trabalhar em termos institucionais, de mobilização da sociedade civil, e em termos ético-políticos,no sentido de fazer da educação prioridade absoluta”.

A professora destaca, ainda, a importância das boas condições para o trabalho docente. “É preciso que os docentes tenham condições de dedicação exclusiva nas respectivas instituições, com salários dignos, com condições de trabalho digno, para inclusive, poderem se constituircomo sujeitos da mediação da segurança sanitária.

E conclui, apontando caminhos para o futuro desejado da educação no Brasil: “Será preciso reverter drasticamente a prioridade do investimento público, derrubar a Emenda 95, tendo em vista a urgência de políticas educacionais que priorizem aspectos ligados a infraestrutura das escolas, e as condições de trabalho, salário, e carreira docente, além de políticas de assistência estudantil e de políticas sociais mais amplamente intersetoriais, articulando trabalho, educação e saúde, para que esse direito inalienável não seja ainda mais comprometido do que já está. O desafio da política pública é brutal e a sociedade é eticamente obrigada a se comprometer com ela”.

Redação

1 Comentário

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  1. Prezada autora dessa matéria, parabéns por sua visão imparcial, justa e oportuna, ao explanar uma realidade resultante do exercício cidadão, o qual, em sua maioria, é nocivo para o povo, o detentor e dono do poder constitucional (Parágrafo único do Art. 1° da CF, que poucos conhecem e respeitam), por excluir em seus planejamentos e execução, o ser humano é cidadão com fim de tudo.
    O exemplo desse exame de cidadania por si exposto é, de consciência de todos os brasileiros, deveriam começar por esse exemplo acima, bem mostrado por V. Sa., Já que a preservação é o bom uso do patrimônio público e sua destinação, para o bem e interesse do povo, é responsabidade dos 03 Poderes da República, conforme exemplifica, dentre outros, o Artigo 2° da CF.
    Então, o exercício desses Poderes fiscalizados e supervisionados pelo povo, suas instituições competentes e com a parceria da imprensa comprometida com a verdade, imparcialidade e responsabilidade da informação , se quisessem, obrigariam sim, esses cidadãos dos 03 Poderes, a exercitarem suas funções corretas e eticamente e, a só realizarem, quaisquer políticas públicas, planos, programas, projetos e ações públicas com qualidade e funcionalidade, estritamente, em favor dos cidadãos e da nação e, da valorização da soberania desse povo além de, sim, garantirem o seu bem-estar comum, a justiça imparcial e a sua plena satisfação e em termos da melhoria da qualidade de vida e demais benefícios humanos para a população, como um todo e, para o pais.
    São esses, portanto, alguns dos benefícios cidadãos e políticos, sociais, culturais, econômicos, ambientais, etc, que a democracia e o estado de direito, representados por nossa CF, sinalizam e recomendam que sejam respeitados para o bem comum, como dizem, especialmente, os Artigos 3°, 4°, 5°, 6° e 7°, dentre outros, que todos os membros dos 03 Poderes são, pelo poder que lhes são dados pelo povo, obrigados a respeitarem e defenderem a CF e, praticarem o que ela manda, associado às Constituições Estaduais e às Leis Orgânicas Municipais, para o bem comum do povo, do estado fortalecido e da nação brasileira.
    Que cada um representante do povo e do Estado Brasileiro, face as suas responsabilidades cidadã e ética, assumam como seu programa de vida pública, a prática de ações publicas, não para destruir o que foi feito e construído com recursos do povo por outros, salvo aquilo que a justiça já identificou, capítulou como ilícito e processou os responsáveis (aqui que fique claro, não só os executores mas também todos os envolvidos como, maus parceiros da iniciativa privada e todos da cadeia fiscalizadora que negligenciaram e se omitiram para impedirem tempestivamente, que os ilícitos não acontecessem e falharam) mas, de aperfeiçoarem o que encontraram e de se comprometerem em fazer melhor o que seu antecessor fez, comprovando isso na prática, com resultados positivos das políticas públicas executadas, que concorram para a redução do desperdício de dinheiro público, do analfabetismo e que, priorizem a valorização permanente da educação, da ciência, da tecnologia, da inovação e do aumento de aprendizados; que priorizem também, o fortalecimento permanente da saúde pública, da cultura, da segurança pública e de todas as ações estrategicas públicas que juntas, concorram para a diminuição da desigualdade, da pobreza e da miséria no país ; que fomentem o fortalecimento das pequenas e microempresas, bem como do mercado interno, com investimentos públicos justos e específicos para as regiões do país, para o aumento da geração de emprego e renda e de bem-estar para todos.
    Que seja também, implantado com urgência, um sistema fiscal justo e progressivo para todos os cidadãos, que, além de isentar os assalariados que ganhem até 02 SMS, finalmente, taxe também de forma justa e tempestivamete, as Instituições financeiras, os mais ricos e seus patrimônios, os rentistas ou investidores improdutivos e, que cobre as dívidas e penalize finalmente, de forma justa, todos os sonegadores do tesouro, etc.
    Que seja implementado com urgência, pelo CN, estudo imparcial sobre a situação salarial dos trabalhadores brasileiros e, de sua confrontação com o histórico da evolução das Inflações do país e, a partir do resultado desses estudos e ainda, com base na Política Salarial da UE que todos tanto elogiam, propor-se-à uma Minuta de Projeto de Lei de uma Nova Política Salarial Realista Nacional, que reponha de forma justa, as perdas e direitos históricos, devidos aos trabalhadores brasileiros e, que tenha como valor de referência inicial na cotação atual, equivalente a $350,00 dólares americanos, e fique definida a partir daí, uma escala crescente anual, até atingir no mínimo, $800,00, no final de 04 anos.
    Essas medidas, que devem ser entendidas por todos os cidadãos, como necessidades essenciais para que o país seja menos injusto, enfim, se desenvolva realmente, não se tratam de esmolas de ninguém ao povo pois, é o povo, o dono de tudo e todas as autoridades, independente de quem sejam, são servidores do povo e, lhe devem fidelidade e obediência constitucional, na parte que lhe interessa.
    Então, senhores formadores de opinião, políticos e autoridades, abandonem a hipocrisia e, cumpram bem suas funções de bem informar e de ajudarem o progresso da nação, amparados na verdade, na justiça, na ética e na CF. Sucesso em vossa missão.
    Paz e bem.
    Sebastião Farias
    Um cidadão brasileiro nordestinamazônida

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