O impacto do Golpe de 1964 sobre a educação brasileira

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Sugerido por lucascosta

 

Golpe de 64 interrompeu alfabetização de adultos por dois anos, diz pesquisador

Bruno Bocchini, da Agência Brasil

 

Em audiência na Comissão da Verdade Rubens Paiva, da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), o professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Wagner da Silva Teixeira, apontou hoje (30) os danos causados pelo golpe de 1964 na educação brasileira. De acordo com ele, a tomada do poder pelos militares interrompeu a alfabetização de adultos no país por dois anos, o que só voltaria a ocorrer em 1966.

O Plano Nacional de Alfabetização (PNA) do Governo João Goulart estava para ser implementado, em fase de treinamento de aproximadamente mil monitores. Com o golpe, o PNA foi cancelado e os mentores passaram a ser perseguidos. Segundo o professor, o objetivo do governo eleito era alfabetizar, em 1964, 5 milhões de brasileiros.

“Obviamente isso assustou setores mais conservadores da sociedade. Qual seria o impacto das eleições presidenciais de 1965, com mais 5 milhões de eleitores, o que elevaria o número de eleitores de 12 milhões para 17 milhões?”, indagou Teixeira à Comissão da Verdade.

Mas não só o plano de alfabetização foi cancelado. Movimentos sociais que realizavam programas de alfabetização foram reprimidos, sob a justificativa do regime então vigente, de que eram subversivos e doutrinavam a população com ideais de esquerda. Entre os movimentos perseguidos – nos quais o PNA de Jango se apoiou – estavam o Movimento de Cultura Popular (MCP), encabeçado pelo então governador de Pernambuco, Miguel Arraes; e a campanha “De pé no chão se aprende a ler”, fruto da ação do prefeito de Natal, Djalma Maranhão.

De acordo com o pesquisador, no dia do golpe, dois tanques foram colocados no Sítio Trindade, sede do MCP. O local foi invadido, depredado, o material pedagógico apreendido como prova de subversão e instaurado um inquérito policial militar.

“Um grande dano foi esse: a destruição de toda essa experiência riquíssima. Uma segunda consequência foi a prisão, o exílio de diversos educadores e de lideranças ligadas aos movimentos. Pessoas que eram comprometidas com a alfabetização de adultos. A prisão do Paulo Freire é um exemplo, mas há outros que foram expulsos ou não atuaram mais na alfabetização de adultos”, destacou.

Logo depois do golpe, o ministro da Educação de Jango, Júlio Furquim Sambaquy, teve os direitos políticos cassados, e todas as portarias do ministério foram revogadas, “dizendo que a política de educação do governo Goulart era subversiva e não servia ao novo governo”, ressaltou o pesquisador.

Teixeira destacou que após o golpe, os militares só voltariam a apoiar programas de alfabetização de adultos em 1966, devido à pressão internacional da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

“Houve paralisação completa, por dois anos, de qualquer ação do governo federal no âmbito da alfabetização de adultos. De 1964 a 1966 o governo federal não fez nada, tamanha a preocupação de setores conservadores nessa área. Precisou a ONU e a Unesco chamarem a atenção do governo para que em 1966 passasse a apoiar a Cruzada ABC de Alfabetização e, em 1967, criasse o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral).

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

13 Comentários

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  1. Quando dou comida aos pobres,

    Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista. D. Helder Camara

  2. A DITADURA E O NEOLIBERALISMO DESTRUÍRAM A EDUCAÇÃO

    A ditadura, por motivos óbvios, destruiu a educação em nosso País.

    Quando era adolescente, lembro-me de que a educação básica era feita no grupo escolar. Uma maravilhosa fábrica de alfabetização e dos conhecimentos básicos matemáticos necessários. De lá, não saia ninguém sem ser alfabetizado. As normalistas davam conta maravilhosamente. As mãezonas educavam as crianças como se filhos delas fossem. Se não eram perfeitas, eram maravilhosas..

     Depois tínhamos o ginasial, que corresponde a 6ª a 9ª séries do ensino básico de hoje ( onde se encontra adolescentes e jovens ainda analfabetos).No ginasial, pasmem todos, aprendi a ler e escrever Francês, Inglês e Latim. É claro que o Português foi uma língua de todos os dias, a matemática tinha lições que se encontram hoje em colegiais, mas já, naquele tempo, nós a tínhamos no ginasial. Havia História Geral, Historia das Américas, História do Brasil. Aqui, gostava muito, aprendi com Edward Mcnall Burns, Rocha Pombo, Matozo, livros que hoje só encontramos em faculdades. Geografia Geral, Geografia do Brasil. Desenho. Música. Trabalhos manuais. 

    Depois vinha o colegial. Nele, pontificava três cursos básicos: científico, para as ciências exatas e biológicas. o clássico, para as sociais e línguais; e o Normal, este maravilhoso curso que despejava milhares de professoras, as normalistas, que iam até em lugares inóspitos para ensinar e conseguiam fazê-lo de uma maneira eficaz. O analfabetismo estava, por este caminho, sendo derrotado.

    Do colegial, sem qualquer dificuldades, os estudantes conseguiam, sem cursinhos ou outras ganha-pão modernos, chegar e passar em vestibulares nas faculdades.

    Faltava apenas cursos técnicos e profissionalizantes que eram muito poucos. Isto fez realmente falta.

    Com a Ditadura, toda esta estrutura foi destruída. Com o neoliberalismo, reduzindo o tamanho do estado, reduziram o aporte para a educação, derrotando-o mais uma vez, com a aprovação automática, uma interpretação equivocada da progressão continuada. Coisa de neoliberalista, que pouco se importava com a educação, tanto que FHC não criou sequer uma univesidade federal, quando Lula/Dilma criaram 16.

    Não foi tão somente, assim, a Ditadura que nos arrebatou o sonho de ser um País com uma educação maiúscula. Também foi o Neoliberalismo, que ameaça voltar, pelo esforço da elite rica e apoio da que se diz culta, mas é ignorante deste nosso País.

    1. Equívoco total!

      Essas sao as saudades de alguém de classe média, que passou pela peneira daquela educaçao. Apenas 50 % das crianças CHEGAVAM à escola. Dessas, só cerca da metade passava na primeira série. Menos de 30 % chegava ao fim do primário. (Nao estou chutando; leia o livro HIstória Inacabada do Analfabetismo no Brasil, de Ravanello Ferraro, Ed. Cortez). Para entrar nos ginásios públicos havia o exame de admissao, onde a relaçao candidatos/vagas era pior que a das faculdades de Medicina hoje. No meu ano, no Instituto de Educaçao do Rio, foram mais de 4.000 candidatos para 70 vagas. Aquela “educaçao de qualidade” na verdade era para pouquíssimos, e jogava a maioria na lata do lixo. 

  3. Dele tambem “A maneira de

    Dele tambem “A maneira de ajudar os outros é provar-lhes que eles são capazes de pensar.” O pensar leva a questionar: Paara ter bom emprego é preciso estudar uma profissão. Dai do Nassif “A democracia é um processo permanente de inclusões sucessivas. Também é o regime de maior instabilidade e medo das pessoas, “Grupos tradicionais têm o poder; grupos emergentes têm o voto. Por aí se instaura o caminho para os golpes”-

    Ora medo de que? senão da concorrencia pelo emprego (valor de Mercado) de uma maioria instruida pelo acesso à educação que governos de esquerda insistem em priorizar

     

  4. BRASIL, AME-O OU DEIXE-O.

    Felizmente estamos no ano da graça de 2014; e a gestão da presidenta Lula, em continuidade à revolução educacional, coisa nunca antes vista na história deste planeta, iniciada no primeiro governo Lula, já superou , há muito, os escolhos do passado.

    (Dia desses, a gente olha pro céu e vê maná caindo pra tudo quanto é lado…)

  5. O Maior Crime da Ditadura!

    Se não bastasse matar os antagônicos e inocentes ainda tinha a lavagem cerebral geral, mais a educação foi a vitima-algoze, 477 meu Deus, sem liberdade e expressão.

    Decreto-lei nº 477 de 26 de fevereiro de 1969 Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

    O decreto-lei nº 477, de 26 de fevereiro de 1969, também chamado de “AI-5 das universidades”,1 foi baixado pelo então presidente Artur da Costa e Silva durante o regime militar brasileiro. O decreto-lei previa a punição de professores, alunos e funcionários de universidades considerados culpados de subversão ao regime. Na prática, o processo a que se submetia o acusado era sumário. Os professores atingidos eram demitidos e ficavam impossibilitados de trabalhar em qualquer outra instituição educacional do país por cinco anos, ao passo que os estudantes eram expulsos e ficavam proibidos de cursarem qualquer universidade por três anos.

    Jarbas Passarinho, ministro da Educação e Cultura no governo Médici, considerava o decreto de “draconiano”, como uma espécie de “terceira lei de Newton depravada” – dada a desproporção entre a intensidade da ação e da reação.

    O decreto-lei foi utilizado para afastar o então professor de Sociologia Fernando Henrique Cardoso, entre muitos outros, da Universidade de São Paulo.

    A norma vigorou até 1979, quando foi revogada pela lei da anistia.

     Pacato Cidadão

    Gonzaguinha

    E eu nem atino, mas, todos os dias,

    Calmamente, assassino meu vizinho de cima.

    E, pela cidade, sem qualquer maldade,

    Mato, tranqüilamente,

    Que se me ponha na frente.

    Através dos suores, humores e gestos e olhares

    (Atitudes que a barra da vida põe em nossas mentes).

    E, assim, de repente, deixei de ser gente,

    Sou mais um bicho na rua pra vencer qualquer batalha.

    Um novo Cristo se malha num poste,

    Amarrado,

    Pra lavar nossas dores desses dias tão pesados.

    Mais um pacifista se iguala à policia e ao ladrão,

    Um pai de família: pacato cidadão,

    Que não nota que o filho

    Só ouve e repete

    Simplesmente

    A palavra

    Não.

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=s__v_oB_EI8%5D

  6. desde a constiuição de 1891

    desde a constiuição de 1891 que o brasil garante o direito de voto para homens e que  fossem alfabetizados. já a constituição de 1934  garante o voto para homens e mulheres alfabetizados. e também estabeleceu o voto obrigatório para os maiores de 18 anos. e  a constituição de 1988 estabeleu o sufragio universal. mas o direito de voto para os não alfabetizados é facultativo…parece brincadeira mas não é!

  7. O governo militar acabou em

    O governo militar acabou em 1985, porque os posteriores nada melhoraram a educação? Tiveram duas gerações.

    1. Em parte como consequência de algo bom em si mesmo…

      A educaçao que era para a minoria da minoria quase que se universalizou (hoje mais de 90% das crianças estao na escola). Ruim talvez, mas para todos. Com isso, diminuíram os salários dos professores, o que tornou a profissao indesejada por pessoas com boa escolaridade anterior, o que teve inúmeras consequências. Mas a universalizaçao, em si mesma, foi boa. 

    2. Mota Araujo, nesta voce errou

      Mota Araujo, nesta voce errou feio. Pisou na bola e só pode ser de proposito. Para começar a ‘manchete’ está errada. “O impacto do golpe de 64 sobre a educação brasileira’. Está errada porque no artigo só comenta e superficialmente o impacto sobre a alfabetização do adulto. Faltou falar sobre o impato em TODO o nosso ensino. Mas aí precisaria escrever vários livros porque o impacto foi GRANDE, ENORME. Para lembrar basta lembrar o tal reforma (?) MEC/USAID. E isto é só um deles.

      Depois voce sabe que educação/ensino não se trata de reposição de estoque. Tá faltando ‘mercadoria’ então é só comprar na esquina e repor o estoque. Qualquer medida errada nessa area – e todas as medidas do golpe nessa area foram erradas – só se ‘conserta’ depois de anos e anos de boa politica e administração. E nem isso se teve. Basta lembrar que uma das medidas seria os CIEPs com o ensino integral e de qualidade mas que foi combatido e descontinuado.

      Não esquecer que o ensino público não pode melhor muito porque o ensino privado vai perder a clientela e o Estado não tem condições de absorver toda a clientela/estudantes.

      Não tem nada a ver, mas pode-se dizer que o mesmo acontece com a saude. Se o SUS melhorar muito – e não está longe disso – esses planos de saude picaretas vão perder sua clientela. Assim é o Brasil.

  8. Fora o impacto sobre o ensino

    Fora o impacto sobre o ensino superior. Quando estive na bolsa sanduíche na Inglaterra meu orientador lá disse que durante as décadas de 60, 70 e 80 países como Austrália, Nova Zelândia e China faziam ótimas propostas de emprego para, nas palavras dele, atrair as “melhores mentes” européias e ajudar na consolidação de suas universidades. Daí eu disse pra ele que nesta época o Brasil estava era expulsando suas “melhores mentes” do país por causa da ditadura. Josué de Castro foi um dos grandes que foram exilados. Agora é correr atrás do tempo perdido, o que o ciências sem fronteiras tem ajudado muito.

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