Professores sofrem na readaptação ao estado

Jornal GGN – O número de professores trabalhando fora da sala de aula na rede estadual de São Paulo cresceu 25% de 2011 para 2013. Desde dezembro de 2013, esses profissionais se encontram em fóruns na internet para compartilhar experiências, dificuldades e informações. Sem função clara na escola, esses docentes estão fazendo serviços de telefonia e secretaria. Eles relatam casos de preconceito e assédio moral.

Enviado por Gão

‘Sinto que o Estado quer me enterrar viva’, diz professora readaptada

Por Cristiane Capuchinho

Do iG

Professores readaptados relatam o sentimento de inutilidade e contam casos de assédio moral e de preconceito na escola

Desde dezembro de 2013, professores readaptados da rede estadual se reúnem pela internet para compartilhar experiências, dificuldades e informações sobre sua categoria. Readaptados são professores que deixaram a escola por problemas como depressão ou doenças ortopédicas e, por não terem condições de voltar à sala de aula, são recolocados na escola para outros trabalhos.

Na rede estadual de São Paulo, 14.340 professores estavam fora das salas de aula em maio de 2013. O número de docentes readaptados após licença médica cresceu 25% em 2 anos: eram 11.872 em 2011. O problema se repete em redes municipais e também em outras redes estaduais do país. No caso da cidade de São Paulo, 5.647 docentes – o que corresponde a 9,7% da rede – estavam readaptados em março de 2012, segundo o Atlas Municipal de Gestão de Pessoas da Prefeitura de São Paulo 2013.

Sem função clara dentro da escola, os docentes relatam cumprir serviços de telefonista e de secretária, sofrerem preconceito e até assédio moral. O iG conversou com algumas das professoras para saber quais os principais problemas que enfrentam. Confira abaixo.

‘Me sentia deslocada, como um peixe fora d’água’

A professora Glizélia Gonçalves, 34, está readaptada em escola estadual da capital paulista desde 2012 por problemas na coluna que a obrigam a usar bengala. Trabalhando em uma escola cheia de escadas, a professora conta que só restou a ela ficar na secretaria da escola.

“Eu me sentia deslocada, como um peixe fora d’água. Nunca tive pretensão de fazer trabalho burocrático. Sem falar que o problema na coluna me deixa muito limitada quanto a fazer esforços físicos, isso passa a impressão para os gestores da escola de que não quero trabalhar.”

Nesse período, Glizélia conta ter sido vítima de assédio moral. “Pegava dois ônibus para ir trabalhar, machucando a coluna no trajeto, para chegar lá e ouvir que eu não servia para nada. Ouvir a vice-diretora gritar comigo, como se eu tivesse culpa por ter ficado doente. Eu superei muitas coisas na minha vida, mas não sobrevivi à readaptação. Às vezes, eu sinto que o Estado quer me enterrar viva.”

Após isso, a professora diz que desenvolveu síndrome do pânico. “[A vice-diretora] não aceitava minhas limitações físicas. Às vezes, fazia até piadinhas pelo fato de eu não ser tão ágil quanto elas. Dava a impressão que ela odiava conviver com uma pessoa doente ou limitada. Comecei a passar muito mal no horário de ir trabalhar, tinha crise de falta de ar, palpitações etc.”

Hoje, Glizélia está afastada após perder a visão de um dos olhos e aguarda cirurgia no Sistema Único de Saúde.

‘Perdemos nossa identidade, não sabemos mais quem nós somos’

Professora em Santo André, Maria do Socorro Silva, 50, teve que se afastar da sala de aula por causa de problemas ortopédicos. Desde 2006 faz parte da categoria de readaptados. Ao longo de oito anos, a professora conta que desempenhou diversas atividades ligadas aos alunos: “trabalhei na biblioteca, na sala de informática, organizava as festas dos alunos”.

Após um desentendimento com o diretor da escola em dezembro de 2013, a professora conta que ficou sem função dentro da escola. “Sofri assédio moral. Sofri perseguição. E cada dia que eu ia para a escola e não me era atribuída uma função, eu registrava”, conta.

“Quando eu estava trabalhando com a parte pedagógica, eu tinha estímulo para estar lá, eu ia trabalhar feliz. Nesse período desde dezembro, eu lutei diariamente para não entrar em depressão.” O que Maria do Socorro quer é uma função na área pedagógica para que possa aproveitar seus conhecimentos no ensino. “O limbo é exatamente onde estamos. Nós perdemos nossa identidade, não sabemos mais quem nós somos.”

‘Sinceramente, não sei o que faço na escola’

Com problemas ortopédicos por conta de obesidade mórbida, diabetes e tomando antidepressivos, a professora K. Silva, 53, tem experiências bastante diferentes entre dois momentos em que foi readaptada na rede estadual de São Paulo.

“Na primeira readaptação, ajudava na secretaria, na biblioteca, junto à direção e à coordenação. Elaborava excursões, festas e passeios, e ajudava a fazer, por exemplo, o Plano de Gestão da Escola. Me sentia bem útil. Quando voltei desta vez a ser readaptada, me sinto inútil, pois não tenho uma função estipulada. Hoje sinceramente não sei o que faço na escola. Procuro atividades que possam auxiliar minhas colegas em sala de aula. Ligo e desligo datashow, abro a biblioteca pela manhã”, afirma.

K. diz que gostaria de voltar a ajudar professoras, mas é impedida pela equipe gestora da unidade. “A pior coisa é levantar cedo e não ter nada para fazer ao certo.” “Poderia auxiliar mais as professoras na parte pedagógica, pesquisando temas que elas necessitassem em suas aulas. Sei da grande dificuldade que é estarmos lecionando e ainda termos tempo para pesquisar novas atividades, recursos para melhorarmos nossas aulas”, sugere.

Redação

6 Comentários

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  1. Isso é o choque de gestão dos tucanalhas

    A Educação já sofre um apagão em SP. Agora o apagão é no fornecimento de água para a população. Os próximos apagões serão na segurança pública e no transporte público.

    Parabéns para os paulista que são bem INFORMADOS mantém os tucanalhas no poder em SP há mais de 20 anos.

     

     

  2. O ensino do Estado de São

    O ensino do Estado de São Paulo é um dos piores do país: os professores têm uma remuneração ridícula, sofrem ameaças, etc. Esta matéria só demonstra a falta de sensibilidade do governador Alckmin para com os professores.

    Agora fica a pergunta: será que a maioria dos professores do estado votou no Alckmin?

  3. O serviço público no Estado de SP é inferior…

    Todo o serviço público em SP está inferior, saúde, educação, agricultura estão as mínguas.

    Mas o povo o reelegeu com 60% dos votos.

    O Governo de SP está certo.

  4. Apoio irrestrito aos professores readaptados.
    Bom dia aos produtores e leitores dessa reportagem, é com grande satisfação que começo a ver os READAPTADOS terem notoriedade na mídia, esse já é um grande passo, pois estamos esquecidos, desde o companheiro de trabalho que está ao seu lado se encontra com todas as capacidades laborais e assim sucessivamente até o Governo do Estado, tendo cada posição acima, menos atenção aos servidores em geral, muito menos os que estão com suas capacidades físicas ou mentais limitadas. Estou dando esse depoimento, porque desde o ínicio do grupo dos professores readaptados acompanho suas atividades dando o meu apoio. Contudo, não sou professor, mas um Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária (Infelizmente Readaptado), da Secretaria de Administração Penitenciária.
    Todas as reclamações que as nobres colegas relatam nos depoimentos, em nossa atividade não é muito diferente, pois o descaso, o isolamento, a falta de um rol específico para cada caso de limitação, determinação exata do trabalho a ser desenvolvido. No nosso caso, para adequar o trabalho à condição do servidor, tem que exercer atividades administrativas (Baixo Esforço), pois nosso trabalho é totalmente operacional.
    Além do mais, que tange no nosso Estatuto que a readaptação não pode diminuir e nem aumentar os vencimentos, esse cruel Estado, reduziu em R$ 408,00 nosso Adicional de Insalubridade, justificando apenas por estar readaptado. Se quiserem saber mais acessem o Blog http://www.nascerdenovoem2010.blogspot.com.br.
    Digo a todos, que a condição da readaptação é uma farsa. Ao invés de aplicar os princípios que esse instituto prega que é adequação da limitação, retorno ao convívio social do trabalho para aumentar a auto estima e a satisfação em estar sendo útil outra vez, mesmo que de forma diversa, esses preceitos são feitos todos ao contrário. Se possível, abrir um espaço para a minha narração do tema, desde o que me levou a essa condição, até hoje estar isolado em uma sala, “Sem nada para fazer”, a cada dia me sentindo mais inútil, fazendo acompanhamento neurológico e psiquiátrico. Não tenho gosto nenhum em ser apenas um peso, sem nenhuma atribuição. Um abraço a todos.
    “Tudo Posso Naquele Que Me Fortalece”

    1. Obrigada pelo Apoio

      Somos um  grupo  no Facebook , com mais de 500 membros,  onde  nos unimos para enfrentar o  “descaso” que sofremos  por  parte d e quem deveria cuidar da nossa  saúde. 

      Muito s de nós fomos  adoentados no exercício de  nossas funções no magistério, como é meu caso.

      Hoje as licenças saúde   são  negadas, não só a readaptados, mas  a todos os colegas do magistério,  até para professores internados. Um verdadeiro descaso. 

      Nós readaptados  temos ainda  as perícias médicas de  Reavaliação longe da nossas  casas e  sofremos humilhações do DPME. E  ainda  corremos o risco de  ter  a Readapatção cessada  sem condições   de  saúde para retornar ao trabalho.

      Quem deveria  cuidar  de  nossa  Saúde; “Governo  do Estado”,  está piorando o quadro de  saúde, pois vivendo uma  verdadeira  “tortura psicológica “quando precisamos passar por “peritos”  que  chegam a fazer  “Gozações conforme  relatórios” . 

      Uma  grande  ironia,  sabendo que a Formação do nosso Governador é  a” Medicina”

      Venha participar  conosco;

      https://www.facebook.com/groups/professoresreadaptados.sp.gov/

      Rosi Tomura

      Presidente  do  Grupo “Fórum dos Professores Readaptados do Governo do Estado de SP”

  5. Fórum dos professores Readaptados do Governos do ESP

    Somos um  grupo  no Facebook , com mais de 500 membros,  onde  nos unimos para enfrentar o  “descaso” que sofremos  por  parte d e quem deveria cuidar da nossa  saúde. 

    Muito s de nós fomos  adoentados no exercício de  nossas funções no magistério, como é meu caso.

    Hoje as licenças saúde   são  negadas, não só a readaptados, mas  a todos os colegas do magistério,  até para professores internados. Um verdadeiro descaso. 

    Nós readaptados  temos ainda  as perícias médicas de  Reavaliação longe da nossas  casas e  sofremos humilhações do DPME. E  ainda  corremos o risco de  ter  a Readapatção cessada  sem condições   de  saúde para retornar ao trabalho.

    Quem deveria  cuidar  de  nossa  Saúde; “Governo  do Estado”,  está piorando o quadro de  saúde, pois vivendo uma  verdadeira  “tortura psicológica “quando precisamos passar por “peritos”  que  chegam a fazer  “Gozações conforme  relatórios” .

    Uma  grande  ironia,  sabendo que a Formação do nosso Governandor é  a” Medicina”

    Venha participar  conosco;

    https://www.facebook.com/groups/professoresreadaptados.sp.gov/

    Rosi Tomura

    Presidente  do  Grupo “Fórum dos Professores Readaptados do Governo do Estado de SP”

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