Tiram o bode da sala, colocam Vélez Rodriguez, por Luis Felipe Miguel

Tiram o bode da sala, colocam Vélez Rodriguez

por Luis Felipe Miguel

Numa das postagens que fez para patrocinar a indicação de Ricardo Vélez Rodríguez para o MEC (pois é claro que não basta influenciar, tem que ostentar a influência), Olavo de Carvalho escreveu que ele é “a pessoa que mais entende de pensamento político-social brasileiro – motivo suficiente para que eu o considere o melhor nome para o Ministério da Educação”.

Faz pouco tempo, eu li um paper do futuro ministro sobre pensamento político brasileiro contemporâneo. Era longo, muito longo, mas raso demais, sem qualquer aprofundamento analítico, consistindo sobretudo numa listagem de nomes e obras, encaixados em “correntes” meio bizarras. O grande destaque, obviamente, era Antonio Paim, o patriarca do conservadorismo na filosofia política brasileira. O maior nome vinculado ao pensamento da Escola de Frankfurt no Brasil seria Vamireh Chacon (!) e Demétrio Magnoli era destacado na corrente “social-democrata” (!). O marxismo quase não aparecia, anexado que estava ao “lulopetismo” – sim, uma das correntes do pensamento político brasileiro. O texto mencionava com certeza mais de uma centena de nomes; as mulheres eram talvez uma meia dúzia, não mais que isso.

O paper é tudo o que conheço da obra acadêmica de Vélez Rodríguez. Mas vi pela imprensa trechos do que ele escreve em blogs e quetais: “ciência” é quase uma ofensa em sua boca, “gênero” é uma “invenção deletéria” e a escola precisa é de “comitês de ética” para supervisionar o comportamento dos estudantes. Ele tem ao menos o mérito de assumir sem rodeios o espírito do “Escola Sem Partido” (sic): o ódio à educação, por colocar em xeque os “valores tradicionais da nossa sociedade”.

Vélez Rodríguez não tem o olhar vidrado de Guilherme Schelb, o bode habilmente introduzido na sala pelas especulações de ontem para o MEC. Até onde sei, não se vê como alguém a quem Deus em pessoa confiou a missão de derrotar os ímpios. Uma olhada no seu currículo indica que sempre foi conservador, mas que – coincidência ou não – se radicalizou e assumiu um discurso tão caricato só quando essas posturas começaram a render vantagens.

Mas isso não faz dele uma opção melhor. Um com fanatismo, outro de forma mais calculista, ambos abraçam o mesmo projeto, que é o combate sem tréguas à educação no Brasil.

Luis Felipe Miguel – Doutor em Ciências Sociais pela Unicamp, Professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, onde coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades. Pesquisador do CNPq. Autor de diversos livros, entre eles Democracia e representação: territórios em disputa (Editora Unesp, 2014), Feminismo e política: uma introdução (com Flávia Biroli; Boitempo, 2014).

Luis Felipe Miguel

3 Comentários

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  1. O mundo é um moinho de vento

    Falta entender se a condição de ser cidadão colombiano tem algum “valor agregado”, considerando que a Colômbia é a embaixada dos USA na América Latina (e o Charlatão também indicou o ministro das Relações Alienígenas, digo, Exteriores, e tem pretensões diplomáticas ele próprio, o Bannon tupiniquim tão repulsivo quanto o original) – não entrou na OTAN por acaso no ano passado – em que se planeja outra proxy war USeira (guerra intermediária, por procuração) no mundo (as mais sanguinolentas atingem a Síria e o Iêmen no Oriente Médio, e já duram vários anos como são as ocupações USeiras na sua Guerra Sem Fim pelo mundo, que pretende replicar na América Latina), a envolver a Venezuela, que fica exatamente na fronteira amazônica – sinal vermelho para as comunidades indígenas. Sempre o maldito petróleo e a luta USeira contra a Eurásia a dirigir os falcões USeiros, o que  sempre nos recoloca no mapa mundial como terra de ninguém que os USA invadem como posseiros, latifundiários mundiais com sua gangue de capangas e matadores profissionais.  

    USA, os maiores terroristas do mundo, precisam ser descolonizados do poder corporativo  e militar (que nos USA se chama de complexo industrial-militar, em português, a indústria da guerra e da violência que  internamente, lá como aqui, explica o encarceramento em massa) por sua brava sociedade civil progressista. E a luta contra o aquecimento global e as mudanças climáticas, por um mundo mais justo entre os humanos e com a Natureza, será o novo movimento civl revolucionário daquelas terras contraditórias. E do mundo sem fronteiras. 

     

    Sampa/SP, 23/11/2018 – 14:38 (alterado às 14:48). 

  2. NOVO MINISTRO DA EDUCAÇÃO

    Um abraço ao Luis Felipe e a todos e todas.

    Boa tarde.

    Após o anúncio desse indivíduo para gerir a educação do Brasil pensei comigo: imagine se Dilma ou Lula nomeassem um educador cubano ou venezuelano para esse posto !!  Dá para imaginar a reação da elite, grande mídia, forças armadas, ministério público, juízes, etc. ?

    A desgraça só começou. Um cargo  que foi ocupado por Fernando Haddad, Renato Janine Ribeiro, Tarso Genro … agora temos essa pessoa.

    O novo governo, obviamente, não tem plano nenhum para melhorar a educação do país. O eleito, seus apoiadores da elite e da classe média pouco estão preocupados com esse setor tão estratégico. Qualquer lixo serve. Era melhor até nomear um programa de computador qualquer para cuidar dessa questão chamada educação.

    Li ontem, na mídia, que a pessoa indicada elogia as idéias de Anísio Teixeira !!!!! Inacreditável. O grande educador, referência para Darcy Ribeiro e para todos nós (juntamente com Paulo Freire), ao que tudo indica, foi assassinado pela ditatura militar, que não foi bem uma ditadura mas UM MOVIMENTO, e que cometeu, segundo o novo ministro, apenas alguns excessos !!! 

    E assim prosseguimos, correndo, para um novo e mais elevado estágio de nossa barbárie.

    Um abraço e vamos à luta.

  3. A guerra híbrida continua

    As ações e declarações aparentemente ‘desencontradas’ têm método e cálculo. Os golpistas continuam usando a guerra híbrida, para confundir a tola ‘esquerda progressista’ que cai nessas cialdas como pata amarela da FIESP. Enquanto forem eficazes, os bodes nas salas e os desmandos aparentes serão usados.

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