Por Jorge Alexandre Neves
O que já foi ruim no passado recente deu um jeito de ficar pior. Em fevereiro de 2019, escrevi um artigo para o GGN (1) no qual mostrava a bobagem expressada pelo então ministro da educação sobre a universidade dever ser reservada para uma elite apenas. Agora, o atual ocupante da pasta vem com a mesma conversa, ao afirmar que as universidades devem ser reservadas para poucos (2).
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Este, por sua vez, se arriscou a tentar dar sustentação empírica à sua afirmação furada, recomendando que deveríamos seguir o exemplo da Alemanha, onde ocorreria o que propõe, a universidade para poucos. Como é comum no governo Bolsonaro, também o atual ministro da educação é ignorante ou mentiroso (ressaltando-se que o “ou” em questão não diz respeito a eventos excludentes).
O gráfico abaixo, com base em dados do Banco Mundial (3), mostra as taxas brutas de matrícula no ensino superior em oito países (4), incluindo o Brasil, e na OCDE (o chamado “clube dos países ricos”, no qual o governo Bolsonaro tanto sonha em colocar o Brasil). Observe-se que todos os países (bem como a OCDE) têm taxas de matrícula bem mais elevadas do que a brasileira.
O gráfico também mostra que todos os demais países formam claramente um conglomerado de elevado padrão (em torno de 60% ou mais de taxa bruta de matrícula), enquanto o Brasil, neste conjunto, fica isolado logo acima dos 40%. É importante, também, ressaltar que o Brasil passou por um expressivo crescimento da taxa de matrícula durante a década de 2000 e início da década de 2010 (algo que ressaltei no meu artigo anterior do GGN, citado na nota 1).
Não vou neste artigo me debruçar outra vez sobre a recusa à teoria do capital humano (uma abordagem econômica ortodoxa), por parte das elites tupiniquins, como fiz do artigo de 2019. Encerro ressaltando o claro viés “restaurador” que está por trás desse desejo das elites conservadoras brasileiras.
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Como ficou claro no meu último artigo aqui no GGN (5), uma elite estamental precisa desesperadamente ter o monopólio das melhores oportunidades educacionais. São as vozes do atraso tentando recuperar os privilégios da exclusão absoluta do povo que foram perdidos com os governos progressistas.
- https://jornalggn.com.br/noticia/universidade-para-quem-e-para-que-por-jorge-alexandre-neves/.
- https://g1.globo.com/google/amp/educacao/noticia/2021/08/10/ministro-da-educacao-defende-que-universidade-seja-para-poucos.ghtml?__twitter_impression=true.
- https://ourworldindata.org/grapher/gross-enrollment-ratio-in-tertiary-education?time=1999..latest&country=BRA~ARG~CHL~FIN~OECD+members~KOR~USA~DEU~AUT.
- Os países foram escolhidos pelas seguintes razões: a) Finlândia, EUA e Coreia do Sul por serem exemplos, em três diferentes continentes, de países com elevados níveis de inovação tecnológica; b) Argentina e Chile por serem dois dos países mais desenvolvidos da América do Sul; c) a Alemanha por ter sido o país citado pelo ministro e a Áustria por ter um sistema de integração do ensino técnico com a indústria semelhante ao da Alemanha, tendo um conjunto de dados para uma série temporal bem maior (infelizmente, como pode ser visto no gráfico, só há dados em dois anos, para a Alemanha.
Jorge Alexandre Barbosa Neves – Ph.D, University of Wisconsin – Madison, 1997. Pesquisador PQ do CNPq. Pesquisador Visitante University of Texas – Austin. Professor Titular do Departamento de Sociologia – UFMG – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN
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