O time que acabou com o Santos de Pelé

 

14/12/2010 10h38 – Atualizado em 14/12/2010 14h56

Reconhecimento do título de 1966 lembra geração de ouro do Cruzeiro

http://globoesporte.globo.com/futebol/times/cruzeiro/noticia/2010/12/reconhecimento-do-titulo-de-1966-lembra-geracao-de-ouro-do-cruzeiro.html

Vitória sobre Santos de Pelé é considerada uma das maiores da história

Por Marco Antônio Astoni Belo Horizonte

Os torcedores mais antigos e os historiadores do Cruzeiro são unânimes em afirmar que a conquista da Taça Brasil de 1966 e a inauguração do Mineirão, um ano antes, são os dois marcos transformadores do clube. Se antes o Cruzeiro era uma força regional, depois de Tostão, Dirceu Lopes e companhia virou uma grande potência nacional.

O título de 1966, conquistado com duas inesquecíveis vitórias sobre o Santos de Pelé, foi reconhecido pela CBF como equivalente ao Campeonato Brasileiro, disputado a partir de 1971. Com isso, o Cruzeiro passa a ser bicampeão brasileiro. Os dois títulos, somados a quatro conquistas da Copa do Brasil, fazem o clube mineiro ser um dos maiores vencedores de taças do país em todos os tempos.

Veja, acima, vídeo com entrevista de Piazza, integrante do time campeão de 1966.

TostãoPara Tostão, oficialização do título de 66 é
importante para o clube (Foto: Arquivo Pessoal)

Para Tostão, um dos maiores ídolos cruzeirenses, o reconhecimento apenas oficializa uma conquista que ele já comemorava desde os anos 60.

– Para mim, não muda nada. Eu me sinto campeão brasileiro desde 1966, já que era o título mais importante disputado no Brasil. Além disso, ganhamos do melhor time do mundo, que era o Santos. De qualquer maneira, é importante para o clube a oficialização do título.

Palco

O Rio de Janeiro já tinha o Maracanã desde 1950. E São Paulo, desde 1940, já contava com o charme e o conforto do Pacaembu, cravado no coração da cidade. Belo Horizonte, na época dividida entre a força de América, Atlético e Cruzeiro, tinha o Independência como seu principal palco para o futebol. A capital mineira anseava por um estádio que comportasse maior público e, embalado pelas construções faraônicas da época da ditadura militar no Brasil, o governo de Minas ergueu o Mineirão.

A construção do novo estádio coincidiu com o surgimento de uma geração fantástica de craques no Cruzeiro, que somada a uma base sólida, tricampeã mineira entre 1959 e 1961, formou um dos times mais fantásticos da história do futebol brasileiro.

Esquadrão

Historicamente, o grande clássico mineiro era disputado entre América e Atlético, até os anos 1950. O Cruzeiro, fundado pela colônia italiana de Belo Horizonte como Palestra Itália, em 1921, surgiu como terceira força da cidade e, aos poucos, foi conquistando torcedores, ganhando espaço e conquistando títulos.

A fabulosa geração composta por Tostão, Dirceu Lopes, Piazza e Natal, em meados dos anos 1960, se uniu a nomes já sólidos no clube como Procópio e Hilton Oliveira, tricampeões em 1961. E reforços vindos de fora do estado, como Raul e Evaldo, acabaram formando um time fabuloso.

1966

A Taça Brasil era o único torneio brasileiro que reunia equipes de todo o país. Disputada pelos campeões estaduais do ano anterior, era dividida em chaves regionais. Em 1966, 22 clubes participaram da competição, que contou com times tradicionais como Fluminense, Grêmio, Palmeiras e Náutico, e pequenos como Internacional de Lages, de Santa Catarina, e Anápolis, de Goiás. Clubes que já não existem mais como Rabello, de Brasília, e Ferroviário, de Curitiba – um dos sub-embriões do Paraná Clube -, também disputaram a Taça Brasil naquele ano.

Na primeira fase, o Cruzeiro enfrentou o Americano, campeão do extinto estado da Guanabara. Com duas goleadas (4 a 0 e 6 a 1), o Cruzeiro se classificou para pegar o Grêmio. Após um empate por 0 a 0 em Porto Alegre, o Cruzeiro fez 2 a 1 no Mineirão e avançou para as semifinais da competição.

O próximo adversário foi o Fluminense, que seria solenemente ignorado. O Cruzeiro venceu o atual campeão brasileiro duas vezes. No Mineirão, um magro 1 a 0, mas, no Maracanã, convincentes 3 a 1 começaram a chamar a atenção do país para o jovem time mineiro.

Grande final

Na final do torneio, o Cruzeiro enfrentaria simplesmente o Santos, então pentacampeão da Taça Brasil. O Peixe tinha em seus quadros, entre outros, Pelé, Zito, Mengálvio e Edu, alguns dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos.

Se vencer o time praiano era uma tarefa difícil para a turma de Tostão e Dirceu Lopes, aplicar 6 a 2, com 5 a 0 só no primeiro tempo, parecia história de conto de fadas. E foi exatamente o que aconteceu. Numa noite pra lá de inspirada, o Cruzeiro goleou o Santos impiedosamente, e levou para o jogo de volta, no Pacaembu, o direito de jogar pelo empate. Qualquer vitória do Santos provocaria uma terceira partida.

Em São Paulo, o Santos entrou mais ligado no jogo e terminou o primeiro tempo com 2 a 0 de vantagem, o que gerou uma das grandes histórias folclóricas ligadas à conquista do Cruzeiro. No intervalo do jogo, o presidente da Federação Paulista de Futebol, Mendonça Falcão, teria procurado o presidente do Cruzeiro, Felício Brandi, para acertar os detalhes da realização do terceiro jogo, em campo neutro. O dirigente cruzeirense, segundo relatos da época, expulsou Falcão do vestiário aos berros.

Lenda ou verdade, o fato é que o Cruzeiro, mais uma vez, fez o que parecia impossível: virou o jogo e saiu do Pacaembu com a Taça Brasil de 1966 nas mãos. Os 3 a 2 sobre o Santos de Pelé, em São Paulo, são considerados, até hoje, uma das maiores vitórias do Cruzeiro em todos os tempos.

Hino para os campeões

Do time titular do Cruzeiro em 1966, apenas Hilton Oliveira não poderá receber as prováveis homenagens que o Cruzeiro e a torcida devem fazer aos ex-atletas. O ponta-esquerda da conquista faleceu em março de 2006, vítima de uma pneumonia. Todos os outros titulares estão vivos.

O fantástico time, que também venceu cinco campeonatos mineiros (1965/1969), e foi a base para a conquista de mais quatro (1972/1975), além da Taça Libertadores de 1976, foi eternizado em uma música, que virou uma espécie de segundo hino do clube, na época da vitória sobre o Santos. A música é lembrada até hoje pelos torcedores mais fanáticos.

“Ê Cruzeiro, você foi campeão do Brasil
Honrando sua cor azul anil
Venceu o Santos de Pelé
Mostrou que é bom, e deu olé

Ê Cruzeiro, você traz alegria
Mostrando à massa
A sua academia

Raul na meta
Procópio e Neco
William, Pedro Paulo, Piazza e Natal
Dirceu Lopes, o furacão
E o grande artilheiro Tostão
Evaldo que não é de brincadeira
E lá na ponta corre o Hilton Oliveira”

Por Edson Joanni

Luis Nassif

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