O grande Mikhail Botvinnik

Nos tempos em que cultivava mais o xadrez, uma das grandes incógnitas, para mim, era o grande mestre soviético Mikhail Botvinnik.

Foi pai da moderna escola soviética de xadrez, que dominou o xadrez mundial no pós-guerra, o primeiro grande jogador depois da era Alexander Alekhine (que era russo branco).

Que foi grande professor, não se discute. Dizem, também, que grande físico.

Mas seu longo reinado, como Campeão Mundial, perdeu duas vezes o título – e, depois, o recuperou. Uma delas, para Mikhail Tal, meu ídolo maior. Outra, para Vasily Smyslov, em cujo livro de xadrez estudei.

Gostava das lendas do xadrez mas me faltava conhecimento para avaliar o talento dos jogadores. Bobby Fischer costumava dizer que Tal era um gênio imperfeito: construía jogadas complexas, porém falsas. Vencia quando os adversários não conseguiam encontrar a solução a tempo.

O mesmo se dizia de Alekhine. Não tinha o gênio e a racionalidade do cubano José Raúl Capablanca , mas sabia construir edificações complexas, que acabam enredando o adversário.

Ainda espero algum comentarista do ramo me decifrar melhor o grande Botvinikk.

Por Daniel Mendes

Para o xadrez, talvez não haja ninguém mais influente que Mikhail Botvinnik. Como fundador da escola soviética, foi decisivo para a consolidação do esporte. Não há um só campeão mundial, nos últimos 50 anos, que não deva alguma coisa, direta ou indiretamente, a ele. De certo modo, foi o primus inter pares, a figura que dominou a cena da evolução do jogo nas últimas décadas.

Talvez pela sua relevância enquanto divulgador (diria até evangelista) do xadrez é que as suas façanhas como enxadrista tenham ficado sombreadas. Ele parece estar sempre num ponto cego quando olhamos pelo retrovisor da história. Difícil, mesmo, decifrá-lo.

O que ressalta em sua carreira é a sua apaixonada defesa da racionalidade do jogo, da disciplina pessoal com que selou sua visão de que o xadrez seria uma espécie de engenharia do intelecto. Daí sua paixão pela escola, não apenas para formar jogadores,mas para demonstrar a supremacia do seu método de ensino baseado em princípios de rigor, estudo e permanente auto-avaliação. Ficou famoso pela maneira com que exigia dos seus alunos uma incansável investigação sobre os erros, os pontos fracos, as insuficiências no entendimento. Foi um mestre posicional, pois acreditava justamente na supremacia do melhor plano, quase como uma demonstração matemática. Era o oposto de Tal, o tático, o ilusionista.

Desenvolveu um faro agudo para identificar os gênios, ainda em estado larvar. Descobria as pedras que transformava em gemas. Foi o Spinoza do xadrez, o geômetra da construção da vitória como um teorema. Daí ter sido pioneiro também no desenvolvimento dos primeiros computadores. Tinha, para mim, algo de monástico. O xadrez foi seu nirvana pessoal. 

Luis Nassif

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