A greve do faz de conta, por Caiubi Miranda

Até o PSTU – que não costuma cair nessas – entrou na esparrela da greve do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em torno da demissão de 800 operários na Volkswagem, apresentando-a como uma vitoria do movimento sindical.

Qual era a situação da Volkswagen no início do ano? Um estoque de 30 mil carros – 2 meses de vendas – e a perspectiva de uma economia, em 2015, com freio de mão puxado pelo ajuste fiscal de Joaquim Levy. Era fundamental, portanto, diminuir o ritmo de produção e desovar os 30 mil carros estocados sem ter que fazer liquidação e prejudicar a margem.

A Volkswagen propôs, então, um programa de demissão incentivada modesto que reduzisse pelo menos 800 empregados. O sindicato, inocentemente, recusou-se a permitir o programa. Era exatamente o que a Volkswagen queria. Com a recusa do sindicato, ela se sentiu à vontade para demitir, por telegrama, 800 operários não deixando ao sindicato alternativa além de uma greve geral.

Tudo perfeito, conforme os planos da montadora. Os estoques existentes abasteceriam as montadoras sem perda de margem e de market share e, sem produção, não haveria salários a pagar. Uma regra de ouro das relações trabalhistas é que se negocia qualquer coisa, menos o pagamento dos dias parados.

Logo o sindicato percebeu que entrara numa roubada. Na situação que estava, quanto mais tempo durasse a greve, melhor para a empresa. Por isso não havia, por parte da Volkswagen, nenhum interesse em negociar o término greve: mercado abastecido e sem produção e, portanto, sem custos de salários, transporte, alimentação, energia…

O sindicato não conseguiria sustentar a greve por muito tempo. Sem salários, a base começou a ficar inquieta e forçou a sindicato a negociar qualquer coisa. A Volkswagen aceitou cancelar as demissões desde que pudesse conduzir o programa de demissão incentivada como era seu desejo inicial.

A readmissão dos 800 foi a saída honrosa dos sindicalistas junto a opinião pública mas pouca gente mencionou a autorização para a condução do programa de demissão incentivada que era só o que a fábrica queria. Com a greve de faz-de-conta conseguiu reduzir significativamente o seu estoque de carros prontos, além de uma bela economia na folha de pagamento e nos custos diretos de produção.

Quem acompanha o movimento sindical estranhou a greve nesse momento. É ingênuo fazer greve numa montadora que está com os pátios lotados. A greve faz pressão quando faz a empresa perder vendas e participação no mercado. Alguns até sugerem que não foi ingenuidade mas tudo um grande faz-de-conta…

Caiubi Miranda

Redação

30 Comentários

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  1. só faltou os dados pra

    só faltou os dados pra comprovar a tese: Quantos carros foram desovados nesse período; Quanto foi a economia durante a greve; Quantos irão aceitar a demissão voluntaria; Entre outras coisas.

     

     

  2. Pensei outra coisa

    Pensei tambem que a grve foi um jogo de cena, de cartas marcadas, mas entre a empresa e a direção do sindicato, para forçar o governo a manter o IPI reduzido. Assim a empresa demitiria os 800, o sindicato vai a greve contra as demissões e força o governo a manter  a redução do IPI se a montadora recuar nas demissões.

    Resumo da Opera: Ganha a montadora, ganha os metalurgicos, perde o governo.

    1. Redução de IPI

      Muita gente pensou isso. Mas o governo não teria chance de reduzir IPI sem por em polvorosa os demais segmentos que vão ser afetados pelo ajuste fiscal. 2015 é considerado por todos um ano perdido.

    2. Redução de IPI

      Muita gente pensou isso. Mas o governo não teria chance de reduzir IPI sem por em polvorosa os demais segmentos que vão ser afetados pelo ajuste fiscal. 2015 é considerado por todos um ano perdido.

      1. : Bem vindo ao debate

        Mas veja bem o que eu coloquei: não se trata de “reduzir o IPI”, pois ele já foi reduzido. Trata-se de chantagear o governo que já anuncioiu que vai por fim ao subsidio para as montadoras, que tambem se estende a linha branca, fogões geladeiras…, no sentido de manter a redução. Isso vai ser uma briga de cachorro grande, envolvendo industria e trabalhadores contra o governo, que vem protelando, prorrogando o IPI reduzido.

  3. Estabilidade no emprego até
    Estabilidade no emprego até 2019. Antecipação do abono salarial para 20/01. Inpc+1% em 2016, 17, 18 e 19. Investimentos na planta. 800 famílias sorrindo. Tudo isso será mesmo um faz de conta?

    1. estabilidade no emprego

      Os 800 empregados demitidos tinham estabilidade até 2016, negociado em acordo anterior. Os detalhes dessas estabilidades no emprego acordadas pressupõe uma quantidade enorme de “ses”. Se as condições de mercado não se alterarem, se as taxas de câmbio… e por aí afora. Em 2015 não tem aumento. De 2016 a 2019, 1% de aumento real te parece grande coisa? As demissões dos 800 operários vão ocorrer via programa de demissão voluntária. Se não houver adesões suficientes, as demissões serão compulsórias, não ha margem para o turnover da fábrica. A abono pago agora esvazia a negociação de novembro. Novembro será zero%.
      Tô prá ver negociação pior.

       

  4. Metalúrgicos perdidos no tempo

    A economia nacional não pode apenas girar ao redor do carro. Parecia uma fórmula perfeita, privilegiando sindicatos metalúrgicos e mantendo a economia relativamente aquecida, mas, abusaram demais. Já era para ter mudado com Dilma a matriz de transporte urbano nacional.

    Simplesmente o Brasil já não comporta mais carros e, se comportar, não será por muito tempo, ainda sacrificando a nossa qualidade de vida e o tempo e estresse gasto no trânsito. O dilema é a matriz de transporte, que deveria ser orientada para trem de ferro (carga e passageiros), metrô, trens de alta velocidade, transporte fluvial (rios e costeira), no campo e na cidade.

    A economia familiar não pode girar apenas em função do pagamento da casa própria e do carro, que consome a grande maioria da renda do brasileiro de classe média. O foco no transporte coletivo de qualidade irá desonerar o bolso dos brasileiros e permitirá que uma boa parte da sua renda seja dirigida ao lazer, cultura, turismo, gastronomia, esporte e outras atividades, que possuem maior capilaridade na distribuição dos recursos dentro do país.

    Os metalúrgicos? Vão trabalhar na Santa Matilde (ou similar) revitalizada, fazendo locomotivas e vagões.

  5. E a experiência, ficou guardada na gaveta ?

    Caiubi,

    É difícil acreditar, em função de anos e anos de experiência em negociações com montadoras, que estas posições assumidas pelo Sindicato diante da Volkswagen tenham sido à vera.

    Um PDV de 800 funcionários não é algo desprezível, e nada indica que estes funcionários consigam novo emprego em breve. O governo federal, quando concedeu isenções $$$ ao setor, não exigiu nenhuma contrapartida ( as isenções fiscais sequer foram repassadas para o preço final) e poderia ter negociado um período mínimo de permanência dos funcionários. 

    Acredito que a relação veículo produzido/ nº de funcionários tenha caído bastante, e entendo que cairá ainda mais em função dos novos métodos de produção, portanto, olho vivo. 

  6. Desculpem o desconhecimento,

    Desculpem o desconhecimento, mas quem é o autor do texro? No meu tempo, finalzinho dos anos 1970, e depois nos anos 1980, várias vezes, em greves bancárias, não me recordo de ter os dias parados descontados… talvez uma ou outra vez, mas não foi a regra, visto que serem foram bem negociados pelo Sindicato  

    1. desconto dos dias parados

      No sistena bancário e na área de serviços en geral, os dias paeados são compensados por acrescimos nas jornadas diárias por um determinado periodo.O tempo de acréscimo na jornada diária não é pago.

       

  7. claro, melhor mesmo seria ter

    claro, melhor mesmo seria ter aceitado o ataque da empresa contra o emprego dos trabalhadores. Isso sim teria sido uma boa estratégia do sindicato, segundo a visão do governista de plantão. Afinal, trabalhador organizado é sempre uma dor de cabeça, faz-se necessário sempre ter bons lideres sindicais ligados ao governo para controlar essas desviações.

  8. Tá difícil não notar a

    Tá difícil não notar a avalanche de comerciais desesperados anunciando os “últimos” carros sem IPI. E com preço de nota fical de fábrica, emplacamento, juro zero etc

    Fico imaginando os chefões da indústria automobilística vendo/ouvindo os economistas-urubus detonando qualquer expectativa positiva para a economia do país. Concessionárias vazias, pátios cheios e o brasileiro comum sendo estimulado a fugir de compras e financiamentos como o diabo da cruz pela Míriam e correlatos..kkkkkkkkk. São uns “jênios”.

    1. sabe de nada inocente

      Vivemos num regime capitalista.O capital em primeiro lugar. Tem nada não, na China comunista também é assim.Não tem venda não tem emprego.Na antiga URSS não foi assim, mas Stalin não era eterno.

  9. Ingenuidade

    Enquanto a industria e o setor de serviços tem que suar a camisa pra fazer receita, o mercado financeiro nada de costas não tem risco nem problema social, não tem pressão sindical, que a bem da verdade somente favorece a categoria que lhe interessa, prejudicando o resto da nação, consequencia das leis demagogicas levada a cabo por politicos oportunistas.

    Porque não pressionam o governo e todo o complexo sistema financeiro pra favorecer a area que realmente produz e gera empregos? O rentismo vive de sugar o sangue dauqles que produz e ninguem fala nada.

    Não adianta pressionar mais ainda os patrões, os grandes empresarios tercerizam a mão de obra e se safam destas leis oportunistas.

    Pode crer, se pressionarem alem do razoavel a wolksvagem, mais cedo ou mais tarde ela vai terceirizar mais ainda a mão de obra.

    Estão matando a galinha dos ovos de ouro. Como desenvolver um mercado forte e os empregos se a maioria das empresas que ficaram com o pepino da terceirização são cada vez mais sufocadas e inviabilizadas de se manterem em atividade. No Brasil o empresario é visto como bandido e não como aquele que gera oportunidade de prosperidade e empregos.

    Enquanto o mercado financeiro gera lucro cada vez maior para os rentistas o emprego diminui e as empresas se enfraquecem.

    Nação forte é mercado interno forte, a ganancia do grande capital vem patrocinando a verdadeira guerra mundial, não admitem dispor um centavo sequer da imensa fortuna acumulada.

    Chega a ser crueldade, não distribuem, não produzem, não geram atividade alguma que favoreça as estruturas economicas.

    1. não me lembro o autor mas a

      não me lembro o autor mas a frase é a seguinte….o capitalismo lida com dinheiro não com seres humanos.  

      Mexa em tudo menos no bolso de um rentista…..esse é nosso maior dilema.  Tenta aprovar imposto para os mais ricos?  Me lembro quando o brasileiro saiu às ruas comemorando a queda da CPMF….inocentes, não sabem de nada. O imposto mais justo que já foi criado nesse país o problema é que ele pegava todos…..aí, mancomunados com o PIG, a casa grande arregimentou aqueles de sempre para detonar a CPMF.  Os idiotas ainda bateram palma ao final sem nem se darem conta que acabaram com o imposto que pegava os ricos e não os pobres pois afinal 0,38% em cima de pouca coisa, era quase nada mas em cima de milhões, era uma boa fortuna.  E pobre tem milhões??  Taí…..é phoderoso o negócio todo.  Enquanto o povo for mal informado, fica difícil demais fazer qualquer coisa.  O mal informado aplaude e apoia seu próprio algoz.  

      1. Imposto?

        Minha cara, o problema com a CPMF não era o valor irrisório, de 0,38%.  O problema era com o imposto de renda e outros mais.  Como explicar que vc. se declarava isento do imposto de renda, quando sua movimentação financeira era de milhões? A CPMF, do inolvidável Adib Jatene, rastreava o dinheiro…

  10. dados

    Os carros desovados será fácil de ver pelos relatórios da Anfavea. Tudo que foi vendido  estava em estoque não  houve produção. Os outros dados serão dificéis de obter. 

  11. dados

    Os carros desovados será fácil de ver pelos relatórios da Anfavea. Tudo que foi vendido  estava em estoque não  houve produção. Os outros dados serão dificéis de obter. 

  12. dados

    Os carros desovados será fácil de ver nos relatório da anfavea que são publicados todo mês. A rigor, o que foi vendido no período da greve é o que sairá do estoque. Os outros dados… podemos mandar e-mail pedindo mas já sabemos a resposta.

  13. dados

    Os carros desovados será fácil de ver nos relatório da anfavea que são publicados todo mês. A rigor, o que foi vendido no período da greve é o que sairá do estoque. Os outros dados… podemos mandar e-mail pedindo mas já sabemos a resposta.

  14. ao contrári, acho que os

    ao contrári, acho que os trbalhadores conseguiiram manter o

    que foi acertado antes com as montadoras, que tentaram

    simplesmente descumpri-lo….

  15. Os Vilões do Movimento

    Os Vilões do Movimento Sindical… a vilanização do movimento do ABC parte dos “ultras” (que sempre estão acima do bem e do mal) cheios de virtudes fazem conjecturas que não correspondem nem a realidade, imaginar que se esvaziou o pátio da montadora resolvendo todos os problemas e reduzir o debate a pó, fácil pra quem não tá na pele… usar de ortodoxia com duas pitadas de números econômicos esdrúxulos, greve de faz de conta que desconta os dias parados segundo o texto, o impacto é foi tão grande que não se perdeu margem e market share então o ilusionismo e uma obra de quem escreveu, porque houve efeitos práticos e os companheiros do ABC bancaram uma greve num quadro delicado, mesmo tiveram êxito e os ultras ficaram novamente com dor de cotovelo…

    Falso moralismo farsesco, que é avalista desse pensamento de sociedade fast food consumista. A agenda atrasada dos defensores do mercado… que usam o discurso pré acabado da estagnação do modelo onde a alternativa é virar hipongas vivendo de artesanato sutentavel ou entraremos na agenda da inovação vendo bugiganas digitais, tava tão combinado que precisa-se publicar uma critica tacanha e cheia de preconceitos, nivelando todos como se fossemos idiotas.

    1. Os vilões do movimento

      Só discurso. Que vantagem tiveram os metalúrgicos? Perderam os 800 postos de trabalho via demissão incentivada, perderan 1/3 do salário de janeiro, ajudaram a montadora  a resuzir seus estoques e contribuiram para que a multinacional passasse um recadinho para o governo: “não mexam comigo”.

    2. Aliás, a imprensa tem esse vício de simplificar

      Belluzzo – Isso está no escopo da guerra patrimonialista. Cerca de 50% dos empregados da Mercedes e da Volks que foram demitidos não têm ainda condições de adquirir o seguro-desemprego porque estão há menos tempo empregados. Estes vão para casa e dizem o que? Vou assaltar na rua, ou vender alguma coisa nas esquinas, por que vai sobreviver como? Essas questões não entram no debate. Se um programa para proteger essas pessoas é criado, vai contra o ajuste fiscal. Outro dia, o Elio Gaspari escreveu na Folha [de S. Paulo] que se estava criando “a bolsa metalúrgico”. Isso é porque ele não é metalúrgico. Ele ganha dinheiro da Folha de S. Paulo, deve ganhar um bom salário, então é fácil, de cima, falar isso. Como ele gosta muito dos Estados Unidos, fico surpreso dele não saber que o Obama fez um programa para proteger a GM e a Ford – na verdade, estatizou as duas. Lá tem “bolsa automóvel”. Me dou bem com ele, gosto dele, mas é preciso ter cuidado com as coisas que a gente fala para não simplificar.

      Aliás, a imprensa tem esse vício de simplificar

  16. “A Volkswagen aceitou

    “A Volkswagen aceitou cancelar as demissões desde que pudesse conduzir o programa de demissão incentivada como era seu desejo inicial.”

    Sei não. A triade do movimento sindical é emprego, salário e condições de trabalho; nessa ordem.

    Deixar o 800 desempregados sem defesa não é tática de negociação. Qual seria a outra?

    Dizer que os empregadores tiveram vantagem na negociação não sei se acrescenta muita coisa.

    Tem que “marcar em cima”, sim. E isso está muito longe, muito longe de sequer parecer demagogia.

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