A OIT, o risco de turbulência social e o modelo brasileiro

Por Marco Antonio L.

Da Carta Capital

Não se justifica – por Delfim Netto

Na véspera do 1º de Maio, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou relatório sobre o crescimento do risco de turbulência social na Europa, no Oriente Médio e na África do Norte e Subsaariana, devido ao desemprego que mantém 50 milhões de trabalhadores em estado de angústia, desde o início da crise dos mercados financeiros, em 2008.

Dos 106 países pesquisados na preparação de um “índice de inquietação social” (“social unrest index”, na versão inglesa), em nada menos que 57 deles o desemprego aumentou em 2011, em relação ao ano anterior. A situação é mais angustiante na Europa, mesmo depois de algumas economias conseguirem evitar a “morte súbita” anunciada em 2010. Isso porque, apesar da aparente melhora, o desemprego continuou a crescer em dois terços dos países, desde então.

No competente relato enviado de Genebra para a edição de 1º de maio no jornal Valor, o correspondente Assis Moreira informa que, para a OIT, o desemprego nos países europeus entrou em uma nova fase, tornou-se estrutural e mais difícil de ser reduzido. Aumenta o desalento na medida em que os desempregados há mais tempo entendem que não conseguirão obter novo trabalho nem mesmo com a recuperação das economias. Na Espanha, a situação é de extrema dramaticidade, com um trabalhador em cada quatro sem oportunidade de emprego. E segue crítica no mundo árabe e na África, o que só amplia a perspectiva de atritos mais graves nos movimentos de migração.

O relatório aponta para o contraste entre o que acontece nessas regiões e a diminuição dos riscos de turbulência em países como Brasil e Austrália, que realizam políticas bem-sucedidas de proteção social. O caso brasileiro é especialmente emblemático, onde um trabalhador metalúrgico eleito presidente ensinou, em 2008, aos Ph.Ds. do planeta como enfrentar a crise econômica, criando empregos e reduzindo as desigualdades sociais.

Na visão da OIT, as políticas adotadas nos países ricos não ajudarão a relançar o crescimento nem o emprego no curto prazo. O importante é restaurar o crédito e aumentar os estímulos para o desenvolvimento das pequenas e médias empresas. Fundamental é ter estratégias claras de crescimento e criação de empregos. E que os governos se recusem a deixar o setor financeiro comandar as políticas econômicas.

As conclusões do relatório divulgado pela OIT vieram ao encontro da mensagem da presidenta Dilma -Rousseff, transmitida aos brasileiros também na véspera do Dia do Trabalho, durante o “horário nobre” da tevê, quando exortou o sistema financeiro “a somar esforços com o governo para reduzir os juros, pois a economia brasileira só será plenamente competitiva quando nossas taxas se igualarem às que são praticadas no mercado internacional”.

De todas as manifestações públicas a que assisti desde que assumiu a chefia do governo, esta foi a mais oportuna, contundente e republicana que a presidenta Dilma dirigiu aos brasileiros. Para o nosso benefício, vale a pena reproduzir alguns de seus itens:

1. Nos últimos anos, o nosso sistema bancário tem sido um dos mais sólidos do mundo. Está entre os que mais lucraram. Isso lhes tem dado força e estabilidade, o que é bom para a economia. Isso também permite que deem crédito melhor e mais barato aos brasileiros. É inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com um dos juros mais altos do mundo. Esses valores não podem continuar tão altos. O Brasil de hoje não justifica isso.

2. Os bancos não podem continuar cobrando os mesmos juros para empresas e para o consumidor, enquanto a taxa Selic cai, a economia se mantém estável e a maioria esmagadora dos brasileiros honra com presteza e honestidade os seus compromissos. O setor financeiro não tem, portanto, como explicar essa lógica perversa aos brasileiros.

3. A Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil escolheram o caminho do bom exemplo e da saudável concorrência de mercado, provando que é possível baixar os juros cobrados de seus clientes em empréstimos, cartões, cheque especial e no crédito consignado. É importante que os bancos privados acompanhem essa iniciativa, para que o Brasil tenha uma economia mais saudável e moderna.

A virtude está -exatamente em respeitar e proteger a -solidez do sistema -financeiro brasileiro, mas não consentir em deixá-lo ditar o tom da -política econômica.

Luis Nassif

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