A polêmica sobre a desocupação de casas no Jardim Botânico

Do O Globo

Edson Santos: ‘Não precisamos mais de parques’

Selma Schmidt

Discurso de deputado sobre desocupação de área federal nos limites do Jardim Botânico provoca críticas

Um discurso sobre a desocupação de 621 casas dentro dos limites do Jardim Botânico, feito no último dia 16 pelo deputado federal Edson Santos (PT), está provocando polêmica. Edson disse que o Rio “não precisa mais de parques” e criticou o presidente do Jardim Botânico, Liszt Vieira, que quer liberar a área federal para permitir a expansão das pesquisas do instituto. O deputado classificou a ação de Listz como insana e afirmou que ele “está levando em conta apenas o seu desejo de ver o Jardim Botânico se transformar num Hyde Park ou num Central Park”.

“O Rio de Janeiro tem grandes parques: o Aterro do Flamengo, a Quinta da Boa Vista e vários outros parques descentralizados em nossa cidade. Não precisamos mais de parques para o passeio e a circulação de pessoas”, declarou Edson no discurso no plenário da Câmara dos Deputados.

O presidente da ONG Floresta Urbana, Alfredo Piragibe, não tem dúvidas sobre o que o deputado quis dizer:

– Ele tem parentes morando dentro do parque e, agora, declara que não precisamos do parque Jardim Botânico.

Liszt: “decisão é do TCU”

Liszt Vieira afirmou que a decisão sobre a desocupação da área federal é do Tribunal de Contas da União (TCU):

– O que me cabe é cumprir a decisão. Mas gostaria de lembrar uma frase antiga que diz que “a ignorância é atrevida, porque ela desconhece o quanto ela ignora”.

Já o presidente da Associação de Moradores do Jardim Botânico, João Senise, classificou o discurso de Edson como descabido e infeliz. Advogada da entidade, Regina Carquejo afirmou que o deputado está distorcendo a lei:

– Há uma legislação ambiental que tem de ser cumprida.

Ontem, Edson alegou que, ao citar o Central Park e o Hyde Park, estava se referindo ao voto do ministro do TCU Walton Alencar, que declarou que a sociedade deve se mobilizar pela defesa do Jardim Botânico, assim como fazem os estrangeiros pelos seus parques.

– O Jardim Botânico não é como o Aterro ou o Central Park, que são abertos. É fechado e cobra ingresso dos visitantes. É também um instituto de pesquisas – acrescentou.

Explicações à parte, a deputada estadual Aspásia Camargo (PV) lembrou que a cidade recebeu, em julho, o título de Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural Urbana e que, cumprindo um compromisso com a Unesco, locais como o Jardim Botânico têm de ser alvo de ações visando à sua preservação. Para ela, não é admissível fazer regularização fundiária em área de parque:

– Os que estão em locais de risco deveriam ter prioridade. E há solução: construir moradias na Vila Castorina (localidade no próprio Horto).

Luis Nassif

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