De olho na maioria do Congresso, Bolsonaro começa articulação com parlamentares

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Somente nesta semana, futuro mandatário receberá mais de 100 parlamentares do MDB, PSDB, PRB e PR
 

Foto: Agência Câmara
 
Jornal GGN – A primeira semana de janeiro para o presidente eleito Jair Bolsonaro será de negociações com diversos partidos políticos. Apesar de defender incisivamente durante a sua campanha que não irá ceder a pressões ou a tratativas com partidos políticos, de olho na governabilidade pelo Congresso a partir de 2019, Bolsonaro irá receber mais de 100 parlamentares somente nesta semana.
 
Do gabinete de transição, em Brasília, Bolsonaro terá a presença de deputados e senadores do MDB, PRB, PR e PSDB, em visitas que foram intermediadas pelo futuro ministro da Casa Civil, Onys Lorenzoni (DEM-RS), que atualmente é o coordenador da transição de gestões.
 
Nesse contexto, até agora, evitando a repercussão negativa sobre as negociações com partidos que foram amplamente criticados por ele mesmo durante a sua campanha eleitoral, o futuro presidente havia mantendo o diálogo com as bancadas de interesses de sua gestão, como a da bala e a ruralista. 
 
Agora, contudo, começam as interlocuções para garantir apoio e maioria no Congresso, aonde suas propostas devem ser aprovadas para passarem a valer. Na última sexta, Lorenzoni afirmou que, para isso, seriam recebidos parlamentares de “todas as bancadas do nosso campo político”.
 
Em contradição, o coordenador da transição e braço direito de Bolsonaro, Onyz Lorenzoni, justificou que as conversas serão “sem ‘toma-lá-dá-cá’, ponto fundamental para a gente”. Por outro lado, contradiz a campanha defendida durante as eleições: “O presidente vai receber, de terça da semana que vem até perto do Natal, todas as bancadas do nosso campo político. Nós vamos ter uma base aí superando 350 parlamentares”, admitiu.
 
Entre as siglas, o PSDB que foi amplamente isolado pelos demais partidos da direita, incluindo o próprio Bolsonaro, estará no diálogo desta semana. Se o então candidato ao Planalto pela sigla, Geraldo Alckmin, foi combativo contra a candidatura de Bolsonaro, a sigla liberou seus diretórios estaduais a escolher apoio no segundo turno, o que ocorreu, por exemplo, com o governador eleito de São Paulo, João Dória.
 
Tentando a neutralidade, o MDB, pela gestão de Michel Temer, foi alvo de críticas de Bolsonaro também durante a campanha, apresentando-se como a figura do “novo” na política. Mas agora, o partido de Temer mostra-se um grande aliado do futuro governo de Jair Bolsonaro.
 
Já o PRB e o PR integram partidos menores que liberaram seus filiados a decidirem o apoio, ou não, a Bolsonaro no segundo turno, mas integram os ideias mais conservadores dentro do Congresso.
 
Quando a notícia dos encontros foi repercutida, Onyx negou que o diálogo com as bancadas seja relacionada a cargos. Ao responder sobre as críticas, disse que “estamos criando uma nova forma de relacionamento, inventando uma fórmula, que não tem cargos”.
 
Apesar de outros partidos não estarem dos mais de 100 parlamentares da agenda de Bolsonaro desta semana, o futuro ministro da Casa Civil disse que se trata de “dialogar com todos”, “respeitando” líderes partidários. 
 
“Foi esta prática [a de negociação por cargos] que trouxe o Brasil para o momento que ele está hoje. Não vai ter cargos, estamos conversando com as bancadas. Os líderes gostaram. Vamos cuidar dos parlamentares, eles serão respeitados”, afirmou.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

3 Comentários

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  1. Aprisionado na própria narrativa

    Como um instrumento para destruir o PT, e os partidos políticos, a narrativa que  criminalizou toda e qualquer articulação política, funcionou midiaticamente. Desconsiderar a política se tornou o discurso para enganar o eleitor.  Criminalizou-se a articulação política por tudo, menos pelo golpe. O golpe gestado a partir da maior articulação política fraudulenta, como já confessado, foi pago por muito dinheiro, para que Cunha alçasse ao cargo máximo da Câmara, afim de alcançar o impeachment de Dilma.  Mas esta articulação é bem recebida pelos golpistas. Na ânsia de tudo criminalizar reduziram o PSDB e MDB e Dem a grupos tímidos diante de um centrão cada vez mais ousado, e agora fantasiado de PSL. O PSL por sua vez é um monte de bancadas com interesses bastante particulares e com grandes ambições pelos cargos. Não sei se se  contentarão com o segundo escalão, mas no momento terão que se submeter. Bolsonaro vai conversar com PSDB,MDB e Dem, talvez pensando que tenha todo o PSL na mão.  Isto trará mais ciumeira, afinal todos do centrão sentem que agora é a vez deles. E todos já sonhavam com o poder da caneta do primeiro escalão. Bolsonaro talvez não saiba mas os velhos partidos tem ainda o poder da máquina, pois tem o poder dos cargos que  mantiveram por anos e anos . Este poder se espalha por todos os escalões e estão organica, e hereditariamente incrustados nas instituições. Bolsonaro vem atacando  uma casta poderosa e antiga ao mexer tanto no perfil dos ministérios. Aprisionado na narrativa, Bolsonaro continua no palanque sem perceber a nuvem de tempestade que se aproxima. A narrativa destruiu os velhos partidos, mas não os extirpou das instituições.  E a casta incrustada nas  instituições apenas espera pacientemente pelo momento do troco.  Foi assim que golpearam o PT.

  2. A negociação com parlamentares não envolverá cargos, diz Bolsa

    Se a negociação com parlamentares envolverá cargos, o que tal negociação envolverá?

  3. A política do Bolsonaro consiste ‘dá cá, toma no c*’.

    A política do Bolsonaro não será na base do ‘toma lá, dá cá’, mas na base do ‘dá cá, toma no c*’.

    Essa política de mão única dará certo?

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