Eduardo Paes descarta demolição do Elevado do Joá

Do O Globo

Problemas no Joá: empresa que projetou via responsabiliza construção

Carla Rocha

RIO — Após recomendação da Coppe/UFRJ, que apontou a reconstrução do Elevado do Joá como a solução definitiva para os graves problemas da via, o proprietário da Proenge Engenharia (empresa que projetou o Elevado do Joá), Walter Braga, negou na terça-feira que tenha havido falha de projeto. Para ele, os problemas crônicos estão ligados à construção. Ele disse que a empreiteira que ganhou o contrato passava por dificuldades financeiras e, em alguns momentos, ficou sem engenheiros para acompanhar a obra. Além disso, a fiscalização do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) era deficiente.

— Na fase em que eles construíam as pistas superiores (em direção à Barra), não havia engenheiros acompanhando a obra. Eu não analisei os estudos para opinar se a estrutura terá ou não que ser reconstruída. Mas, se eu tivesse que começar uma reforma geral, começaria pela parte superior — disse Walter Braga.

O engenheiro acrescentou que a grande reforma de 1988 teve de ser feita devido aos problemas na construção. Segundo ele, como não foi usado o volume de concreto necessário para proteger as partes metálicas, isso acelerou o processo de corrosão. O GLOBO não conseguiu encontrar representantes da empreiteira responsável pela construção da via. O Joá foi aberto parcialmente em 1971, mas só começou a operar plenamente em 1974.

Apesar da recomendação da Coppe/UFRJ que apontou a reconstrução do Elevado do Joá como a solução definitiva para os graves problemas da via, o prefeito Eduardo Paes descartou ontem a demolição da estrutura. Mas ele disse que o elevado terá que passar por obras emergenciais para recuperar partes com sinais de corrosão visíveis. Ao todo, a reforma de 23 dentes Gerber – estruturas de concreto armado que sustentam a pista – custará R$ 7 milhões e será feita sem licitação. O prefeito disse não ver necessidade de intervenções mais radicais. Foi a própria prefeitura que contratou a Coppe para uma análise técnica da situação do elevado.

– Eu já acatei o relatório A única coisa que não vou fazer, que sugere o relatório, é demolir o viaduto inteiro para fazer um novo – disse o prefeito pela manhã. – Reconstruir um novo elevado não é a forma mais sustentável para resolver o problema. Não há provas de que o Joá tenha que ser interditado imediatamente. É muito mais econômico e menos oneroso para a cidade que a prefeitura faça as obras de manutenção que, ao longo do tempo, forem apontadas como necessárias.

Paes, entretanto, afirmou que analisará com mais cuidado o estudo da Coppe que recomenda a proibição do tráfego de caminhões de carga no local e também a redução do limite de velocidade 80km/h para 60km/h como formas de reduzir os riscos. Hoje, os caminhões só são proibidos de circular no Joá nos horários de rush (das 6h às 10h e das 17h20m às 20h).

Obras devem exigir interdições

As obras serão feitas pelo consórcio Concrejato/Geomecânica, que este ano concluiu obras de recuperação dos pilares do elevado e apontou a necessidade de recuperar 23 dentes Gerber. Segundo a Secretaria municipal de Obras, os serviços, que deverão começar até janeiro, serão feitos de madrugada. Com isso, serão necessárias interdições noturnas no trânsito. O prazo e a extensão das interdições ainda serão negociados com a CET-Rio.

Ontem, o professor Eduardo Miranda Batista, especialista em estruturas do Programa de Engenharia Civil da Coppe, fez uma detalhada apresentação do relatório das inspeções feitas no Joá, com fotos e desenhos, no Clube de Engenharia. Ele explicou como foram abertas “janelas” na estrutura que deram acesso ao interior dos dentes, que foram avaliados com a ajuda de câmeras. De um total de 1.996 faces desses dentes, foi possível vistoriar 840, cerca de 43%, por limitações técnicas. Do total vistoriado, 10%, de acordo com o relatório da Coppe entregue à prefeitura, apresentavam grave estado de degradação estrutural. As corrosões são provocadas, principalmente, pela água da chuva que entra pelas juntas de dilatação da pistas, muito deterioradas. Eduardo voltou a defender a demolição do tabuleiro do elevado – as pistas -, que ficam vulneráveis devido ao problema. Ele disse que as análises fazem supor que o restante dos dentes Gerber que não pode ser vistoriado esteja na mesma situação.

– A palavra-chave para o viaduto é incerteza. Antes, por falta de investigação. Agora, depois de termos investigado, ainda há incertezas, mas com grande possibilidade que que haja corrosão em todo o resto da estrutura que não pode ser vistoriado – afirmou. – Devido a uma falha nos dentes Gerber, o Faria Timbó caiu. O tabuleiro do Joá oferece risco potencial, e não pode conviver mais com a incerteza da corrosão, tanto na pista superior quanto na inferior. Por mais doloroso e traumático que seja, e eu compreendo a dificuldade da intervenção que será necessária, ela é prioritária. Pode acontecer um acidente no viaduto sim. Em quanto tempo isso pode acontecer? Isso é impossível afirmar.

Presidente de associação está preocupado

O presidente da Associação de Moradores do Recreio, Edson Reis, considerou a situação do Joá um absurdo, tendo em vista a importância da via para o deslocamento Barra-Zona Sul:

– A manutenção da via deixa a desejar. Sentimos que está meio abandonada, mas não acho que a prefeitura deixaria a situação se deteriorar a ponto de colocar em risco a vida de quem passa por ali. Pelo menos, é o que esperamos, embora as notícias nos deixem preocupados.

O novo contrato que a prefeitura pretende fazer vai elevar para R$ 17 milhões os gastos com manutenção, reparos e estudos técnicos no Joá desde 2009. Até hoje, foram investidos R$ 10 milhões. As obras de recuperação ocorrerão em meio aos preparativos da prefeitura para duplicar o Elevado do Joá em direção à Barra.


Luis Nassif

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