O aparelhamento político e estratégico do governo de SP por Alckmin

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Atualizada em 27/08, com informações da Prodesp

Jornal GGN – Condenar a repartição da máquina pública em lotes que são distribuídos a aliados é algo que fazem frequentemente com Dilma Rousseff (PT), embora a petista não tenha inventado esse modus operandi que se reproduz país afora, há décadas, em várias instâncias do poder, com distintos governantes. Hoje, aliás, é impossível negar que a maioria deles tem tido muito mais sucesso com essa fórmula do que a presidente.

Vejamos o governo estadual paulista. A regra, neste segundo mandato de Geraldo Alckmin, do PSDB, segue a mesma: se a eleição é bem sucedida, a participação é garantida. Os aliados não são esquecidos.

Um exemplo de fidelidade à parceria é o retorno de Soninha Francine ao governo. Em abril, segundo o Diário Oficial, a jornalista e ex-vereadora foi alçada ao Conselho Fiscal da Prodesp (Companhia de Processamento de Dados de São Paulo).

A Prodesp era vinculada à Secretaria de Gestão Pública que, até o ano passado, Alckmin delegava ao partido de Soninha, o PPS. O setor é visado porque, entre outras funções, cuida da construção das unidades do Poupatempo espalhados por São Paulo, servindo de plataforma para um bom relacionamento com prefeitos e, convenhamos, de vitrine em época de eleição.

Um exemplo do uso político da Prodesp pelo PPS é a indicação de Admir Ferro, ex-vereador de São Bernardo do Campo, para atuar na Prodesp, em 2013. Admir, então do PSDB, foi indicado pelo hoje deputado federal Alex Manente (PPS).

Manente e Admir disputaram o Paço de São Bernardo com o atual prefeito, Luiz Marinho, em 2012. Perderam. Mas como a ideia é disputar novamente juntos em 2016, Manente indicou Admir para a Prodesp, e não um nome do próprio PPS. Como há construção de unidades do Poupamento em Mauá e Santo André (cidades vizinhas de São Bernardo), a dupla vinha mantendo a frequência nos jornais da região nos últimos anos.

Admir Ferro hoje está no PTB e ficou sem cargo na Prodesp após a reeleição de Alckmin, pois o governador refez o secretariado com vistas à disputa presidencial de 2018. A Secretaria de Gestão foi extinta e a participação do PPS o governo, um tanto afunilada. O popular-socialista Davi Zaia, ex-secretário de Gestão, virou deputado estadual em outubro passado. A Prodesp foi vinculada à Secretaria de Governo do Estado, agora liderada por Saulo de Castro Abreu Filho, ligado ao PSDB. 

Alckmin empoderou Saulo de Castro com o intuito de concentrar nele a responsabilidade pelas ações estratégicas do governo, incluindo as parceiras com instituições privadas. A ideia é destravar os grandes projetos que ajudarão a pavimentar o caminho de Alckmin até o Palácio do Planalto.

Ao PPS sobrou a inexpressiva Secretaria de Agricultura, entregue ao deputado federal licenciado Arnaldo Jardim.

O caso Prodesp

Saulo de Castro é hoje presidente do Conselho Administrativo da Prodesp, que ainda conta com a participação de Carlos Moretzsohn (engenheiro que coordenou a equipe que inventou a urna eletrônica, em 1996), Célio Bozola (presidente da Prodesp, do ramo de telecomunicações), Moacir Rossetti (secretário-adjunto da Casa Civil, do grupo de Saulo), Daniel Edelmuth (economista, marido da deputada tucana Célia Leão), Emília Ticami (que atua na Fazenda do Estado), José Eduardo Poyares (ex-chefe da Casa Civil do governo Serra), Júlio Semeghini Neto (deputado federal pelo PSDB) e o advogado e assessor de comunicação Márcio Aith (que já foi alvo de artigos aqui).

Responde ao Conselho Administrativo da Prodesp o Conselho Fiscal onde Soninha Francine figura ao lado de outros dois conselheiros: Maria de Fátima Alves Ferreira (do elenco da Fazenda do Estado) e Amauri Gavião Almeida, que já passou pela Secretaria de Habitação, hoje liderada por Rodrigo Garcia, eleito deputado federal e presidente do DEM paulista.

Amauri também acumula a função de chefe de gabinete da Secretaria de Planejamento, comandada por Marcos Antonio Monteiro. Este último, ao lado de Saulo de Castro, compõe o núcleo duro do governo Alckmin.

Em 2014, a Prodesp discutiu a fixação da remuneração dos membros de Conselho Fiscal em R$ 18 mil em dinheiro, mais extras que poderiam chegar a R$ 10 mil. A Profesp informou ao GGN, após a publicação dessa reportagem, que a remuneração máxima por participação em Conselho Fiscal de empresas estaduais paulistas, hoje, é de R$ 4.118,00. “Como empresa de economia mista, a Prodesp segue rigorosamente o Parecer 003/2013, emitido pelo Codec – Conselho de Defesa dos Capitais do Estado, que limita a remuneração dos conselheiros fiscais das estatais paulistas em 20% da remuneração dos diretores dessas empresas, a qual, por sua vez, é limitada pelo subsídio recebido pelo governador.”

O loteamento da Cetesb

Antes de chegar à Prodesp, Soninha Francine (que hoje acumula o posto de conselheira fiscal da Associação dos Artistas Amigos da Praça, instituição que promove ações com a Secretaria de Cultura de Alckmin) também passou, em 2013, pelo Conselho de Administração da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), entidade ligada à Secretaria de Meio Ambiente do Estado.

Quem presidia o Conselho, à época, era Rubens Naman Rizek Junior. Formado em Administração e Direito, atualmente é secretário-adjunto de Agricultura. É filho de Rubens Nanam Rizek, conselheiro vitalício da Fundação Mário Covas, com passagem, ainda, pela Secretaria de Meio Ambiente na época em que o titular era Bruno Covas (PSDB), hoje deputado federal.

O aparelhamento da Secretaria de Meio Ambiente por Covas foi denunciada em reportagem do Estadão, em 2013. Naquele ano, o jornal apontou que ambientalistas estavam preocupados com a demissão em massa de técnicos da área para dar lugar a funcionários comissionados com pouca ou nenhuma experiência no ramo. A própria cúpula da Pasta, segundo o Estadão, estava recheada de advogados.

Primeiro escalão

Se a divisão de poder entre aliados de Alckmin ficar apenas na análise do primeiro escalão do governo, veremos que o governador tucano soube deixar boa parte dos partidos da base feliz.

O PRB tem Jean Madeira na Secretaria de Esportes desde 2014. Antes, a pasta era ocupada por José Auricchio Junior, ex-prefeito de São Caetano do Sul pelo PTB, nome ligado ao presidente estadual do partido, Campos Machado.

Na Justiça, outro nome indicado pelo PTB: o desembargador Aloisio de Toledo Cesar, também próximo de Campos Machado. Abaixo dele, no comando do Ipem (Instituto de Pesos e Medidas), mais uma indicação petebista. O superintendente é Clovis Volpi, ex-prefeito de Ribeirão Pires pelo PV. 

O Solidariedade do deputado federal Paulinho da Força conseguiu emplacar João Dado, também eleito deputado federal, na Secretaria de Emprego e Relações do Trabalho de Alckmin.

O DEM tem sua parcela com o deputado Rodrigo Garcia, presidente estadual da legenda,  no topo da Secretaria de Habitação.

O PSB tem o vice-governador Márcio França desde a reeleição de Alckmin, em 2014. França, presidente estadual do partido, acumula a função de secretário de Desenvolvimento Econômico. Essa semana ele chegou a declarar que a sigla pode deixar de lançar um candidato próprio à eleição municipal para apoiar o candidato do PSDB.

Já o PV ficou com a Secretaria de Turismo, do deputado licenciado Roberto de Lucena.

Como se vê, Alckmin segue reproduzindo em São Paulo o loteamento da máquina a troco de apoio político para governar e vencer eleições. Nada diferente do que fez FHC no plano federal, na década de 1990 – é só resgatar, por exemplo, as reportagens sobre as disputas entre PSDB e aliados em torno das estatais.

A diferença é que, hoje, Alckmin, ao contrário do que tem ocorrido com Dilma, possui controle de seus parceiros políticos na Assembleia Legislativa. Não se vê o governador perdendo os poucos cabelos que lhe restam na cabeça com criações de CPIs indigestas ou problemas sérios de governabilidade. Talvez por isso o aparelhamento de parte do Estado pelo tucano passe despercebido.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

9 Comentários

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  1. Alckmin aparelhou o Estado de

    Alckmin aparelhou o Estado de São Paulo para deixar os paulistas sem água enquanto os lucros da Sabesp são enviados para a Bolsa de New York. Tucanos paulistas realmente acreditam que o Tucanistão é uma espécie de protetorado gringo dentro do Brasil?

  2. Isso sem falar nos 70 paus

    Isso sem falar nos 70 paus mensais para o docinho da Soninha, o tal Gravataí Merengue e seu “Implicante.org”.

  3. olha a familia real das neves no cristo redentor e fundações

    fiquei sabendo que para pegar o bondinho do cristo de graças  é só falar com a prima do das neves na fundação chico mendes e ibama, desde a era fhc…. coixinha e pão de queijo é vip

  4. ESCÂNDALO ESCONDIDO: É DOS TUCANOS!!!

    50 dias após inauguração de obra, rio seca e Sabesp não tem como captar água

    http://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/brasil/2015/08/17/50-dias-apos-inauguracao-de-obra-rio-seca-e-sabesp-nao-tem-como-captar-agua.htm

     São Paulo – Quase 50 dias após a inauguração, o rio onde a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) investiu R$ 28,9 milhões em uma transposição para “garantir o abastecimento hídrico durante o período seco” e socorrer o Sistema Alto Tietê está sem água.

     

    O objetivo da obra emergencial era levar 1 mil litros por segundo do Guaió para a Represa Taiaçupeba, em Suzano, onde fica a estação de tratamento, “beneficiando diretamente mais de 300 mil moradores” da Grande São Paulo. Mas, por causa da estiagem no local, a operação não foi iniciada.

     

    “Não há água para retirar do rio”, admitiu o superintendente de Produção da Sabesp, Marco Antônio Lopez Barros, durante apresentação sobre as obras emergenciais da empresa para o Comitê da Bacia do Alto Tietê, na quinta-feira passada. Segundo ele, a obra do Rio Guaió ainda está em fase de “pré-operação”.

     

    No dia seguinte, a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo visitou as instalações e constatou que as bombas que foram ligadas pessoalmente pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) em um evento para a imprensa no dia 29 de junho estavam desligadas.

     

    Na ocasião, o tucano afirmou que estava “entregando a primeira das três obras importantíssimas para garantir o abastecimento hídrico durante o período seco”, que vai de abril a setembro. As outras duas são a ampliação da capacidade de produção do Sistema Guarapiranga em 1 mil l/s, inaugurada em 20 de julho, mas também em “pré-operação”, e a transposição de 4 mil l/s da Billings para a Taiaçupeba, que está três meses atrasada e só deve entrar em operação em outubro.

     

    “Já era sabido que no período de estiagem não teria essa vazão que eles anunciaram. Com essa seca no Alto Tietê, então, o Guaió não tem nem metade dessa água”, afirma o engenheiro José Roberto Kachel, ex-funcionário da Sabesp e integrante do comitê do Alto Tietê. Ele já havia alertado para esse risco em março. Para Kachel, a obra no rio não vai resolver o problema da região. “Venderam para a população que iam bombear continuamente mil litros por segundo, mas não estão bombeando nada”, diz o engenheiro.

     

    Adutora

     

    O Guaió é um pequeno rio que nasce em Mauá, no ABC, e deságua no Rio Tietê, no limite de Poá com Suzano, após percorrer 20 quilômetros. A Sabesp construiu 9 quilômetros de adutoras para levar água dele até o Ribeirão dos Moraes, um córrego que termina no Rio Taiaçupeba-Mirim, afluente da Represa Taiaçupeba, onde está a estação de tratamento do Sistema Alto Tietê.

     

    Hoje, o manancial que abastece 4,5 milhões de pessoas na porção leste da Grande São Paulo é o que está mais próximo do colapso, com apenas 15,9% da capacidade.

     

    À época da inauguração, a Sabesp afirmou em nota que a obra era “essencial para garantir o abastecimento da população no período de estiagem, que vai até o fim de setembro”. Desde a entrega da estrutura, porém, o Alto Tietê perdeu 25,6 bilhões de litros, ou 4,5% da capacidade. Na sexta-feira, 14, por exemplo, a entrada total de água na Represa Taiaçupeba foi de apenas 660 litros por segundo, abaixo dos 1 mil l/s prometidos.

     

    Agora, a Sabesp afirma que as obras emergenciais “foram concebidas para aumentar a resiliência do sistema produtor de água, ou seja, para captar água onde estiver chovendo e armazenar onde for possível”. Segundo a companhia, “por causa disso, as estruturas não funcionam a toda carga todo tempo”. A empresa afirma que “a previsão de retirada do Guaió para o Alto Tietê, conforme a outorga, é de uma média anual de até 1 mil l/s”, mas “isso não significa que a vazão se mantenha constante nesse valor”.

     

    A reportagem questionou a razão de a transposição do Guaió ainda estar em fase de pré-operação quase 50 dias após a inauguração e qual o volume diário retirado do rio para abastecer o Alto Tietê, mas a Sabesp não respondeu. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

    Leia mais em: http://zip.net/bjrQhJ

     

  5. O POVÃO NÃO FICA SABENDO

    porque a grande imprensa está no bolso do Governador. Ele distribui muita grana para os principais jornais, revistas, TVs e é tudo publicado no Diário Oficial. Homem honesto taí.

  6. Agora à noite estava no

    Agora à noite estava no dentista e ouvi alguém falar “olha a Soninha do PPS na televisão”…quanta gente sabe que ela deve mamar por baixo uns 30 mil reais do nosso dinheiro ? Acho que praticamente ninguém.

    A verdade é que o estado de São Paulo está sendo saqueado há pelo menos 20 anos por uma quadrilha. Não duvido nada que, por exemplo, o “lucro” da Sabesp reverta ao menos parcialmente para a quadrilha tucana. E com todo seu “republicanismo” o PT está marcado indelevelmente como corrupto e Lula está praticamente às portas da cadeia.

  7. Onde estão os que criticam o governo federal de aparelhador?

    Sim, vocês mesmos que frequentam este blog e vez por outra vêm aqui chamar o governo federal de aparelhador. Ou esquecem quando é conveniente?

  8. Bela matéria. Faltou

    Bela matéria. Faltou aprofundar para compreender como se dá a distribuição dos quase 15 mil cargos comissionados no Estado e um balanço geral sobre a ocupação ou distribuição política das 29 Secretarias de Estado.

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