Pré-sal é fronteira do conhecimento em P&G

Planejamento será fundamental para consolidar indústria brasileira no mercado mundial de petróleo e gás natural

Lilian Milena, Do Brasilianas.org

A indústria do gás e petróleo se encontra hoje no nível de fronteira do conhecimento que levará a exploração e comercialização das reservas petrolíferas localizadas na camada pré-sal, entre mil e dois mil metros de profundidade do nível do mar. 

O momento exige esforços financeiros por parte do poder publico e de empresas privadas de olho nos benefícios futuros da reserva identificada a 300 quilômetros da costa brasileira. 

Não à toa as multinacionais Schlumberger, FMC Technologies, Baker Hugues e GE iniciaram investimentos na instalação de laboratórios consolidando assim o Parque Tecnológico da Ilha do Fundão (RJ), adjacente à Cidade Universitária da UFRJ e onde também se encontra o principal centro de pesquisa da Petrobras. 

Para debater os desafios de inovação, sobretudo entre as pequenas, médias e micro empresas (PMEs), que representam 85% dos prestadores de serviços e equipamentos na cadeia de gás e petróleo, a Agência Dinheiro Vivo realizou, na última quinta-feira (27) em São Paulo, o 39º Fórum de Debates Brasilianas.org. 

Segundo levantamentos feitos pelo Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), os principais gargalos à inovação no país apontados por empresários são elevada tributação; falta de mão de obra qualificada; elevado custo de capital; burocracia para realizar negócios no país; falta de acesso à tecnologia e máquinas de ponta e acesso difícil a créditos.


Claudio Makarovsky Foto: Ignacio Lemus/ADV

Para o presidente do Conselho de Óleo e Gás da Abimaq (Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos), Claudio Makarovsky, que participou da abertura do evento, os financiamentos para promover pesquisa e inovação não são mais um problema para o empresário brasileiro. Hoje existem linhas disponíveis a juros baixos e tempo de carência e de pagamento consideráveis ofertados pela Finep e BNDES. O porta-voz da Abimaq também não acredita mais em apagão de mão de obra, tendo em vista a rapidez do volume de pessoas (cerca de 150 mil) formadas nos últimos dez anos. 

Já para Pedro Pino Véliz, presidente da Rede Petro do Rio de Janeiro, é preciso flexibilizar um pouco mais o acesso ao mercado para as PMEs. “A realidade que temos é que a grande maioria das nossas empresas tem algum tipo de problema, o que as excluem de qualquer um dos programas apresentados”, afirmou. Por outro lado, Véliz reconheceu que pequenos empresários ainda estão relutantes em “tomar recursos de terceiros” para investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D), ainda pelo trauma de políticas econômicas que não duraram muito. 

Makarovsky, por sua vez, indicou o planejamento como atual gargalo do desenvolvimento do setor. “Nós seríamos mais competitivos se tivéssemos claras as demandas com datas marcadas para acontecerem. Temos alguns exemplos que caíram no esquecimento, como as refinarias Premium I e Premium II, que deveriam estar a pleno vapor, mas foram paralisadas porque estão revendo seus estudos de viabilidade técnica e econômica, como chama a Petrobras”. 

O representante da Abimaq destacou que existem cases que comprovam que o engajamento em pesquisa e inovação no início de um projeto básico pode reduzir o tempo de implementação de um empreendimento em até 15% e os custos de 8% a 15%. Ele completou, ainda, que o grupo de empresas mais suscetíveis aos problemas decorrentes do mau planejamento no setor de gás e petróleo são as upstream (parte da cadeia produtiva que antecede o refino).

Financiamento para inovação

A Abimaq possui atualmente 1500 associados, 70% PMEs. Segundo Makarovsky, um dos impeditivos que limitavam os projetos de inovação nas empresas, detectado pela Abimaq, é o desconhecimento que essas tinham sobre as linhas de fomento e crédito disponíveis. 

Em pesquisa recente realizada, menos de 20% das associadas à Abimaq tinham utilizado as linhas de financiamento do Progredir, programa que permite que empresas que integram a cadeia de suprimentos da Petrobras obtenham empréstimos junto aos bancos parceiros com base nos contratos de fornecimento de bens e serviços assinados com a Companhia.

Já, para Véliz, presidente da Rede Petro do Rio, o Progredir dificulta a participação das PMEs, isso porque para integrar o “cadastro Petrobras”, a empresa precisa realizar cerca de “40 processos”, o que acaba excluindo muitas por excesso de burocracia. 

O porta-voz da Abimaq mostrou que o setor privado tem feito sua parte para fomentar pesquisa e inovação entre as empresas nacionais. Há cerca de dez anos a associação patronal criou o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Máquinas e Equipamentos (IPDMAQ) que funciona da mesma forma que o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), criado pelo Ministério de Minas e Energia e patrocinado pela Petrobras, também há dez anos.

A diferença entre o IPDMAQ e o Prominp, é que o instituto privado cobre não só setor de gás e petróleo, mas toda a cadeia de bens de capita. Entretanto, em função das demandas atuais do setor petrolífero as principais ações do IPDMAQ têm sido voltadas ao gás e petróleo. 

Eduardo Soriano Lousada, Coordenador Geral de Tecnologias Setoriais, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), também palestrante no fórum Brasilianas.org, apontou que 76% dos fornecedores de equipamentos e serviços no Brasil concentram suas vendas para o mercado doméstico o que, invariavelmente, reduz seus desafios em aprimorar a inovação. 

Ele destacou ações de governo realizadas nos últimos anos para reduzir a tributação, sobretudo no âmbito do Plano Inova Empresa que integra vários agentes e instituições de fomento (Finep, BNDES, ANP, Aneel e Sebrae) com recursos que totalizam R$ 32,9 bilhões, sendo R$ 1,8 bilhões às pequenas, médias e microempresas. 

Entre 2000 e 2012, as operações da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, vinculada ao MCTI), aumentaram em 400%, passando de R$ 933 milhões por ano para R$ 3,68 bilhões por ano. José da Gama Malcher, analista do Departamento de Petróleo e Gás e da Indústria Naval da Finep, também palestrante do fórum, explicou que na última década a conceito de apoio da instituição também mudou.

“Saímos do tradicional apoio a projetos de P&D, um conceito mais limitado, para fomentar grandes propostas que incluem não só projetos, mas toda a infraestrutura de aprendizagem para a fabricação de uma primeira sonda, por exemplo”. Hoje a faixa média de uma operação da Finep é de 250 milhões de dólares, contra 10 milhões de dólares há uma década. 

Malcher admitiu que a financiadora se encontra no limite em termos de recursos disponíveis para investir em todos os projetos de pesquisa e inovação que chegam a sua porta. “Hoje a Finep está num ponto paradoxal, porque teve que crescer e atender diversas empresas, mas os limites de exposição dela já foram atingidos. Logo não podemos financiar determinados grupos econômicos por força das dificuldades que existem no próprio capital da Finep”.

Luis Nassif

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