Temer na gangorra da disputa Padilha-Meirelles

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Diante das necessidades da agenda econômica para a sobrevivência de seu governo, o presidente interino Michel Temer garante ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que a sua palavra será a final. Mas, nos corredores da equipe econômica, o interino dá sinais de fazer jogo duplo, dando suporte para o ministro-chefe da Casa Civil e um de seus braços do governo, Eliseu Padilha, conter a escalada de Meirelles.
 
Foi nesta semana que a frase “Meirelles sempre vai ganhar qualquer discussão econômica” soou como estratégia de Temer para rebater questionamentos ou opiniões divergentes da Fazenda. 
 
Nessa linha, já é dada como certa, por exemplo, a transferência da Secretaria de Orçamento Federal do Ministério do Planejamento para a Fazenda, um pedido de Meirelles para angariar maior controle sobre as finanças do país.
 
Enquanto que o Planejamento é responsável pela gestão orçamentária, dando limites para os gastos, a Fazenda gere as finanças por meio do Tesouro. No embate da condução de quem fica com a política fiscal, o ministro teria conseguido apoio irrestrito de Temer para seguir sua agenda.
 
Segundo reportagem de O Globo, o presidente interino até sinalizou a ministros, recentemente, não comprarem embates em áreas econômicas com Meirelles, a fim de evitar bolas divididas. O recado claro foi para Eliseu Padilha.
 
Mas paralelamente a essa demonstração de apoio total, nesta quarta (03), o Painel da Folha divulgou que o Banco Central soltou um comunicado circular informando que todas as nomeações deverão passar pela Casa Civil.
 
Apesar do, a priori, conflito de questionar a independência do BC, vista como uma intervenção desnecessária do Planalto na instituição de servidores de carreira, a notícia traz efeito além. 
 
A relação entre Padilha, ministro-chefe da Casa Civil, e o Banco Central, traz um enredo desde o início do governo interino. Um dia antes, por exemplo, de o BC decidir manter inalterada a taxa básica de juros, no dia 20 de julho, o ministro contrariou, afirmando que agradaria a Temer a queda dos juros. 
 
Horas depois, o interino divulgou nota desautorizando Padilha a interferir no tema e que a autonomia era do Banco Central em decidir sobre o assunto, tendo em vista que o combate à inflação era a sua prioridade. O comunicado foi interpretado como um recado público de que o poder estava nas mãos de Meirelles.
 
Mas, apesar de Padilha encontrar-se aparentemente isolado na defesa da liberação de gastos, a entrada do peemedebista para a equipe do governo teve como objetivo conter a visão de que existe na gestão Temer um superministro e que este seria a Fazenda. 
 
Em coluna de Vicente Nunes, em julho deste ano, o jornalista já adiantava: “O certo é que Padilha e Meirelles são vaidosos demais. Não há como um deles abandonar as armas na queda de braço que travam. Um problemão para a retomada da confiança. Em público, continuarão posando de excelentes amigos e parceiros de governo. Nos bastidores, porém, já avisaram: é guerra”. 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

3 Comentários

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  1. À direita e à esquerda, a regra é torrar grana o máximo possível

    Basta ver as exceções à responsabilidade fiscal feita ao judiciário dos estados. Apesar do nosso judiciário ter o gasto com folha de pagamentos mais caro do mundo, o serviço é péssimo, como todos sabemos. À esquerda e à direita, a regra geral no país é torrar dinheiro público da maneira mais ineficiente possível para a população. 

  2. A carta branquissima à

    A carta branquissima à Meirelles é o maior erro que esse Governo poderá cometer. Meirelles é um mero delegado do mercado financeiro, não tem qualquer conexão com a economia produtiva dos empregos e crescimento.

    O mercado financeiro NÃO VAI TIRAR O PAIS DA RECESSÃO, seus interesses são de manter o rentismo e atrair capital estrangeiro para arbitragem de juros e cambio e não para a produção. Meirelles não tem visão nacional , é apenas um banqueiro internacional de passagem pelo Brasil, sua base é Nova York, onde tem residencia.

    1. Você sinceramente acha que

      Você sinceramente acha que esse governo está preocupado com isso ??

      O interesse desse governo se resume a ficar fora da cadeia e fazer toda pilhagem possível até 2018.

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