A educação cubana após a revolução, vista por um consultor do Banco Mundial

Foto: Diário Liberdade.

Por Roberto Bitencourt da Silva

No primeiro dia do ano, Cuba celebrou o 57º aniversário da sua revolução popular, nacionalista, anti-imperialista e socialista. Em que pesem limitações e problemas de natureza política e econômica, inegavelmente o povo cubano tem muito o que celebrar, especialmente em relação à educação proporcionada pelo Estado.

Recente e esclarecedor estudo produzido por Aviva Chomsky (“História da revolução cubana”, editora Veneta, 2015) destaca os esforços de erradicação do analfabetismo, imediatamente após a ascensão dos revolucionários, liderados por Fidel Castro, ao poder.

Sob o slogan “O caminho para sair do subdesenvolvimento é a educação”, a revolução promoveu imensuráveis esforços para superar o analfabetismo, democratizar o ensino e promover níveis elevados de escolarização.

Um dos frutos legados pela prioridade concedida à educação, conforme a historiadora, é que “em termos de aproveitamento escolar e oportunidade profissional, a desigualdade entre raças diminuiu ou desapareceu em Cuba, ao passo que ainda parece intransponível nos Estados Unidos e no Brasil”.

Ademais, qualquer pessoa que simpatize com algumas iniciativas sociais desenvolvidas pela revolução cubana, ou que seja minimamente iniciada em sociologia, sabe, ou ao menos intui, que ações de caráter distributivo e de bem-estar social – fatores externos à escola – guardam forte e positiva incidência sobre a qualidade do ensino e a aprendizagem na escola. 

Como raras são as análises empíricas disponíveis em nosso país, a respeito do caso cubano, não deixa de ser bastante interessante um estudo realizado, há poucos anos, por um prestigioso consultor do Banco Mundial, o economista Martin Carnoy ( “A vantagem acadêmica de Cuba”, editora Ediouro/Fundação Lemann, 2009).

Diga-se, Banco Mundial, uma das principais instituições que regulam os processos decisórios em escala internacional, sob a bandeira da “superioridade do mercado na oferta dos bens e insumos públicos”. Organismo multilateral que conforma um dos eixos do poder norte-americano, dos bancos e das corporações multinacionais sobre o mundo.

Comparando o modelo abertamente privatista do Chile e semiprivatista do Brasil – ambos modelos assentados em grotescas desigualdades sociais – com o padrão estatista e igualitário cubano, Carnoy chega à conclusão de que o “capital social” – isto é, qualidade de vida e rede estatal, comunitária e familiar de suporte aos/às alunos/as – consiste em variável principal para a boa aprendizagem das crianças cubanas.

Questionando o que entende configurar embaraços ao exercício das liberdades individuais e políticas dos adultos, não deixa, contudo, de frisar a prevalência do respeito aos direitos humanos das crianças e dos jovens em Cuba, em comparação com demais sociedades americanas (EUA e América Latina). 

Baixa relação quantitativa professor/aluno (15 alunos por turma no primeiro segmento do ensino fundamental e 20 no segundo segmento); alto prestígio profissional dos/as professores/as na sociedade cubana – e remuneratório, para os padrões do país; mães, pais e responsáveis escolarizados/as e que valorizam a educação, eis alguns dos “segredos” cubanos para o sucesso, de acordo com o economista do Banco Mundial.

Desempenho superior em linguagem e matemática, menores índices de brigas escolares e hábito mais recorrente de leitura em casa, estes são alguns resultados da pesquisa empreendida por Carnoy, ao comparar a educação cubana com a de Argentina, Brasil, Colômbia e México.

É sempre bom frisar, apesar do silêncio natural de Carnoy a respeito: tratam-se de números e realidades sociais alcançadas sob severo e duradouro embargo econômico imposto pelos EUA. Adicionalmente, Cuba sofreu com ações militares, no passado remoto, diretas/indiretas e sabotagens norte-americanas.

Em período mais recente, também com atentados terroristas financiados por grupos mafiosos instalados no “grande irmão”. É o que oportunamente chamam a atenção Aviva Chomsky e Fernando Morais (“Os últimos soldados da guerra fria”, editora Companhia das Letras, 2011).

Convenhamos, não é pouca coisa. O povo cubano tem muito o que comemorar e com que se orgulhar.

Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político.

Redação

5 Comentários

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  1. cinemas e igrejas


    há alguns anos, li frase (fernando moraes?) que resume a grande diferença entre brasil e cuba: enquanto nesta instalam-se cinemas no lugar das igrejas, naquele instalam-se igrejas no lugar dos “sinemas”.

  2. NOTICIA MAIS FALSA QUE NOTA DE 3 REAIS

    Cuba era um país bem melhor antes dos socialistas, tinha grandes lucros com os Estados Unidos, porém entrou esse governo socialista horrível que corroeu o cérebro dos estudantes e faliu o país, e senhora Dilma ajudando a construir portos lá enquanto os nossos estão todos quebrados.

  3. Mesmo que seja verdade que a

    Mesmo que seja verdade que a educação cubana seja tudo isso.

    valeira a pena perder a liberdade por ela?

    Uma boa educação é melhor do que o meu direito de ir e vir:

    Qual boa educação tlhe tira o direita de migrar dentro de seu prórpio país?

    Qual boa educaão não lhe permite visitar outros países?

    Vc sabia que um cubano não pode migrar de Havana para Santiago como eu posso sair de Fotaleza e ir para Blumenau? Vc sabe o que são os orientales em Cuba?

    Será que pela boa educação cubana já há três cinco décadas que cubans se aventuram a fugir da ilha em barcos improvisados?

    Não meun irmão, a LIBERDADE é tudo, é a essencia do Humano, várias engenheiros sociais já tentaram matar, a URSS, A China de Mao, todos falharam, todos falharam em controlar a natureza humana.

    Não,

    Vc  que critica a ditadura de Médice e de Pinochet, vc não tem direito de aceitar a ditadura de Fidel Castro, a mais duradoura do continente. Senão é hipocrisia.

     

     

     

     

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