A encruzilhada das estatais chinesas, por A.Sheng e X.Geng

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Para articulistas, estrutura estatal chinesa mostra dificuldades em lidar com novos modelos de negócio

Jornal GGN – A China tem sido alvo de diversas críticas por conta do direcionamento das reformas de empresas estatais, em especial o fortalecimento do papel dos comitês do Partido Comunista na gestão das companhias públicas. Enquanto isso pode parecer um retrocesso para as reformas voltadas ao mercado chinês, existem razões que justificam o aumento da fiscalização. Diante das mudanças do país para uma economia orientada para a inovação, com base no conhecimento, e serviços, os líderes deverão pensar sobre como reformar as empresas públicas para que possam colaborar com a nova economia.

“No passado, o papel das estatais era claro”, explicam Andrew Sheng, membro do Asia Global Institute da Universidade de Hong Kong, e Xiao Geng, professor da Universidade de Hong Kong, em artigo publicado no site Project Syndicate. “Ao longo das últimas três décadas, elas sustentavam a emergência da China como potência global de fabricação, por liderarem a construção da infraestrutura do país. No processo, elas se tornaram dominantes especialmente nos setores propensos a monopólios naturais (como telecomunicações e energia) e setores estratégicos (como aço, carvão e bancos)”.

Contudo, os tradicionais mercados “single-sided” estão sendo substituídos por novas empresas de tecnologia, que atravessam os diversos lados de produção, logística e distribuição, com o uso de plataformas unificadas que são favorecidas pela economia de escala. Os articulistas ressaltam que, diante da criação de plataformas para os consumidores e produtores de pequena escala – o que é essencialmente infraestrutura pública – tais empresas têm desafiado o modelo de negócio das empresas públicas.

Sheng e Geng ressaltam que o modelo de negócios das estatais faz com que seja mais difícil identificar e responder às oportunidades no fornecimento de bens públicos em uma economia em processo de mutação – bancos e empresas de telecomunicações sob gestão estatal não conseguiram responder aos desafios propostos. “Mesmo as empresas tradicionais privadas poderiam ter feito muito melhor, ajustando-se e deslocando a demanda dos consumidores e mudando o custo de produtos para se reequipar o mais rapidamente possível – comprando, por exemplo, tecnologia robótica e design de produtos do Ocidente”.

Tal dado mostra-se particularmente crítico quando, segundo os economistas, “a lógica inexorável do progresso tecnológico está exigindo uma transformação do modelo de crescimento da China”. Diante da queda de demanda por hardware e bens de consumo duráveis, o país deve começar a desenvolver seus próprios produtos de maior tecnologia e construir um setor de serviços forte. Com as exportações de bens em declínio – seja ciclicamente, ou como resultado da desaceleração do crescimento nas economias avançadas – a China deve ativar sua base consumidora doméstica”.

Na década de 1990, as listas públicas de empresas estatais tiveram os benefícios individuais de captação de novos recursos para combater as perdas de legado e impulsionando governança e ganhos de produtividade. Hoje, no entanto, plataformas de tecnologia de propriedade privada, muitas dos quais listados no exterior, capturaram a maior parte dos ganhos de valorização da nova economia. Como resultado, os formuladores de políticas tentam encontrar uma maneira de financiar a “destruição criativa” das estatais afetadas pela dívida, o excesso de capacidade e equipamento obsoleto.

“Tal incerteza tem estimulado as autoridades a repensar os planos de reforma, inicialmente mais agressivos. “Eles reconhecem que, quando os sistemas econômicos e financeiros compreendem complexas redes e uma variedade de elementos de bloqueio interdependentes, a mudança de um componente – especialmente um tão dominante como o setor estatal da China – pode ter consequências de longo alcance. Com os recentes ajustes na estratégia de reforma, os líderes da China conseguiram algum tempo para descobrir onde as estatais podem caber na nova economia”, dizem os articulistas.

 

 

(Tradução livre por Tatiane Correia)

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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