A fumaça da guerra na Síria, por Fábio de Oliveira Ribeiro

A fumaça da guerra na Síria, por Fábio de Oliveira Ribeiro

480 aC, um pelotão de 300 espartanos são derrotados nas Termópilas pelo imenso exército de Xérxes. Exauridas pela travessia dos Alpes e em menor número, as tropas de Aníbal Barca derrotam um exército romano maior e melhor equipado em 218 aC nas imediações do rio Ticino. Usando duas bombas atômicas, os EUA derrotam o Japão em agosto de 1945. Em abril daquele mesmo ano o III Reich é derrotado na Europa pela URSS.

Citei esses quatro exemplos por uma razão absolutamente simples. Não existe dúvida de que eles representam respectivamente o que poderíamos chamar de derrota honrosa, vitória gloriosa e inútil, vitória desonrosa e derrota humilhante.

O exemplo de coragem dos soldados de Leônidas inspirou as cidades estados gregas a se unirem para derrotar os persas. O sucesso de Aníbal não acarretou o colapso total de Roma, apenas adiou a derrota de Cartago. O extermínio de centenas de milhares de velhos, mulheres e crianças em duas cidades sem importância militar envergonhará para sempre os norte-americanos. Os nazistas alemães diziam que eram superiores aos outros povos e foram derrotados pelos eslavos que eles acreditavam ser inferiores.

Ontem três potências ocidentais atacaram a Síria. Mas não podemos encaixar o que ocorreu em nenhuma das categorias citadas. EUA, Inglaterra e França não obtiveram uma vitória, pois o regime de Assad continua existindo e saiu moralmente fortalecido em razão dos agressores terem violado a Lei Internacional. A Síria, porém, foi um pouco mais devastada e não está em condições de tirar proveito da vitória moral.

Nem guerra decisiva, nem impasse sem hostilidades. O que nós vimos ontem foi uma exibição de armamentos norte-americanos, ingleses, franceses e russos. Os verdadeiros inimigos não se enfrentaram. Os agressores tomaram o cuidado de não atacar soldados da Rússia na Síria e esses não revidaram o ataque ao seu aliado sírio.

Na Antiguidade a guerra era um fenômeno político desencadeado pela cobiça. O objetivo era destruir o inimigo para obter o que ele podia proporcionar: territórios, minas de metais preciosos, riquezas armazenadas, tributos, escravos, etc… Até a II Guerra Mundial esse padrão seguiu inalterado. O conflito que vimos ontem tem uma natureza diferente.

Encerradas as hostilidades, os dois lados que não se enfrentaram iniciam a guerra de palavras. EUA, Inglaterra e França comemorarem o sucesso da operação. A Rússia afirma que 70% dos mísseis ocidentais foram destruídos pelos sistemas de defesa da Síria, frisando que eles foram fabricados pela URSS durante a Guerra Fria.

Destruídos pelo uso, os armamentos utilizados em 13 de abril de 2018 terão que ser repostos. Isso assegurará os lucros das indústrias de defesa nos EUA, Inglaterra, França e Rússia. A guerra deixa, portanto, de ser um meio para alcançar um fim e se transforma num fim em si mesmo.

Leônidas e Aníbal Barca compartilhavam os mesmos riscos que os seus soldados em batalhas em que o cheiro do suor do inimigo podia ser sentido. À milhares de quilômetros do teatro de operações, Donald Trump, Theresa May e Emmanuel Macron não correram qualquer risco. Há décadas Assad corre o risco de ser morto na Síria. Isso explica porque ele é mais amado pelo seu povo do que os líderes ocidentais por franceses, ingleses e norte-americanos.

Os militares que atacaram a Síria se limitaram a apertar botões, os sistemas automatizados fizeram o resto. Mesmo assim eles dirão aos seus filhos e amigos que estiveram nas Termópilas ou em Ticino. A covardia virou uma virtude produzida e distribuída pelo mercado.

Fábio de Oliveira Ribeiro

10 Comentários

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  1. A China e Rússia devem ter

    A China e Rússia devem ter mirado seus satélites militares para a área e devem ter feito um ensaio de toda telemetria das armas dos EUA, França e Inglaterra.

    Assim eles poderão avaliar melhor suas defesas, melhor para os Russos do que para os Chineses que puderam analisar tudo a partir do palco de operações, analisaram o tempo de saída e o horário do impacto, o nível de inteligência dos mísseis – os comandantes das duas forças já devem ter o relatório até com o número de série dos mísseis, com tudo o que precisam fazer para melhorar suas defesas anti-aéreas!

    Não pense que eles ficaram esperando notícias vindas da mídia sobre o ataque…

    A Síria é que não tem essas parafernálias…

    Agora se o Trump não tiver armas mais modernas e continuar atirando para fazer mídia devia se preocupar um pouco mais ou então pedir aos russos e chineses, para devolver a gentileza e atirar alguns misseis para assim eles poderem testar suas defesas anti-aéreas!

    Ou o Trump escondeu armas, usando misseis mais antigos ou é muito burro!

    1. É que os russos, incapazes

      É que os russos, incapazes pelo porte de sua economia menor, de “casar” o poderio aéreo norte-americano em quantidade, trataram de desenvolver os melhores sistemas de defesa aérea do mundo. Não é burrice da OTAN, visto que esses sistemas vem mantendo uma média de abate em torno de 60%. Não foi atôa que Israel perdeu um F-16 num ataque ao território sírio, e, num segundo ataque, usou o espaço aéreo libanês. Dos oito mísseis lançados 60% foram abatidos.

  2. Macron decidiu ir à guerra

    Macron decidiu ir à guerra porque todo o establishment francês apoia essa ideia. Se você pegar os editorais dos jornais franceses, todos pedem o fim do martirio na Siria pelos ataques quimicos de Bashar Al Assad. Essa é a visão publicada em toda Europa ocidental. E a Russia de Putin é em definitivo a grande vilã desses tempos. Acho que so perdem para os terroristas islamistas. E para ter uma conversa minimamente correta sobre esse assunto so com algum profundo conhecedor da geopolitica. A população esta contaminada com a ideia de que essa triade vai salvar a Siria. A unica concessão, pelo menos até o inicio desses ataques, é à saida de Bashar que ja não é mais uma chantagem franco-britanico-americana. 

    1. Robert Fisk

      Prezada Maria Luisa,

      Uma mui honrosa exceção na imprensa européia é o britânico Robert Fisk, que escreve no The Independent. Hoje mesmo ele escreveu de Damasco. O seu penultimo artigo ele cita Macron e a May e os porquês. Talvez não há outro repórter que entenda tanto de Oriente Médio como ele. Ele é autor do fantástico livro A Grande Guerra da Civilização.

      Saudações.

  3. de ontem para hoje…

    ou da derrota para o Vietnã até o 11 de setembo

    os estados unidos não mudou nada………………………….o comercial sempre à frente do estatégico

    ou da inteligência

    arrisco até a dizer que o que eles chamam de inteligência nada mais é que traidores locais ou infiltrados ou educados

    o que não encontraram no Vietnã, mas muito por aqui e em todas das suas últimas negociatas

    1. Será o mesmo cartel?

      A Rússia, diferentemente dos EUA, faz fronteira com inúmeras nações muçulmanas e é exportadora de petróleo. Um bom livro sobre o assunto é o “A desordem mundial”, do Moniz Bandeira.

  4. Canção pela Paz

    Uma Canção pela Paz

    (Maria Júlia Melo/Claudiney Melo)

     

    Explode uma bomba a cada instante

    Um míssil é disparado do oceano

    Cortando os céus como um raio

    Se dirige para o outro lado do mundo

     

    A consequência é dilacerante

    Tudo começa com um homem insano

    No meio do meu sonho eu desmaio

    E acordo em outro plano num segundo

     

    O barulho ao meu lado é estonteante

    Não posso ouvir mais nada neste plano

    Tento ficar de pé, mas logo caio

    Ao meu lado só um abismo tão profundo

     

    A você que se acha importante

    Ou se considera um simples ser humano

    A tragédia é real não é um ensaio

    Eis o recado que trago para o mundo

     

    Tal qual Moisés falou ao Faraó

    Esta mensagem precisa de atenção

    Só que agora é mais profundo

    Pois o Senhor desta vez não terá dó

     

    É claro, eu sou apenas um louco

    Tudo coisa de uma mente doentia

    Porém o que falei é muito pouco

    Diante de tanta tirania

    É claro, eu sou apenas um louco

    Tudo coisa de uma mente doentia

    Porém o que falei é muito pouco

    Diante de tanta tirania

     

    Esses que se dizem nossos líderes

    Que se auto proclamam governantes

    São pouco mais do que títeres

    Já não valem mais agora do que antes

     

    Assad, Merkhel, Trump, Putin e Erdogan

    Kim Jon-un, Macron, Akihito, Tereza May

    Narendra Modi, Netanyahu e bin Salman

    Papa Francisco, Xi Jinping, Khamenei

     

    Estado Islâmico e Boko Haram

    FARC, Al-Kaeda, Hesbolah e Talibã

    Nações Unidas, Liga Árabe e OTAN

    Não queiram estragar meu amanhã

     

    Síria, Ucrânia e Curdistão

    Médio oriente é sempre discussão

    Venezuela e no Afeganistão

    Irã, Iraque, não ficam fora não

     

    Turquia, Egito, Índia e Paquistão

    Líbia, Iemen e em qualquer outra nação

    Nigéria, Congo, Etiópia e Sudão

    Israel e Palestina, quanta confusão

     

    Seja em Meca, Riad, Abu-Dhabi ou Teerã

    Nova Delhi, Istambul, Bruxelas e San Juán

    Moscou, Damasco, Jerusalém em Canaã

    New York, Seul, Montreal, Toronto pela manhã

     

    Londres, Paris, Berlim, Lisboa, Amsterdam

    Tóquio, Pequim, Atenas ou San Sebastián

    Buenos Aires, Melborne, LA, Mascate em Omã

    Madri, Rio, Roma, Genebra, que seria a guardiã

     

    Estes versos não são para ser uma canção

    É um alerta para os que ainda tem a paz no coração

    É muito mais que uma mera visão

    Para colocar o mundo todo em oração

     

    Olhos abertos para o alto e de joelhos no chão

    Não demorem muito, não demorem não

    Se arrependam e peçam logo o perdão

    Ao Senhor que é dono de toda a criação

     

    Olhos abertos para o alto e de joelhos no chão

    Não demorem muito, não demorem não

    Se arrependam e peçam logo o perdão

    Ao Senhor que é dono de toda a criação

     

  5. Fake world news

    Trump, Macron e May são criminosos de guerra. Bombardeiam de forma ilegal um país soberano, sem declaração de guerra e sem o consentimento da ONU. 450 mil mortos na Síria e 10 milhões de refugiados (metade da população do país). O ataque providencial, além de enriquecer fabricantes de armamentos, também impede o trabalho de inspetores autônomos que iriam investigar o tal arsenal de armas químicas do Assad. Vê-se, claramente, que a justiça é caolha e está a serviço do capitalismo fim de linha. Lá, na França, EUA e Grã Bretanha, três criminosos impunes. Aqui, um preso sem provas capaz de arrefecer a sanha dos tubarões do mercado. Tudo devidamente chancelado pelas corporações midiáticas, em nossos tempos, figadalmente ligadas aos monopólios que manipulam os fantoches da rede mundial de informática (Google, Youtube, Facebook…).

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