A política monetária não convencional em “pernas de pau”, por Nouriel Roubini

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Regras não usuais tem se tornado comuns, e quadro não deve mudar por enquanto

Jornal GGN – Com a maior parte dos países desenvolvidos experimentando processos anêmicos de recuperação após a crise de 2008, os Bancos Centrais se viram obrigados a alterar sua forma convencional de política monetária, como redução das taxas de juros através da compra de títulos do governo de curto prazo no mercado aberto, a um conjunto de políticas não convencionais.

Embora o chamado “nominal zero” ligado aos juros – o que era visto apenas como uma possibilidade teórica – tinha sido alcançado e a política de taxas de juro zero (ZIRP) tinha sido implementada, o crescimento permaneceu anêmico, levando as autoridades monetárias a adotarem mecanismos que sequer faziam parte de seu “kit de ferramentas políticas” há mais de uma década, e estão prestes a faze-lo novamente. A afirmação foi do economista Nouriel Roubini, em artigo publicado no site Project Syndicate.

O articulista ressalta que a lista de medidas não convencionais tem sido expressiva. “Houve flexibilização quantitativa (QE), ou compras de títulos do governo de longo prazo, uma vez que as taxas de curto prazo já foram de zero. Isto foi acompanhado por flexibilização de crédito (CE), que tomou a forma de compras do banco central de ativos privados ou semi-privados – tais como hipotecas e outros títulos garantidos por ativos, obrigações cobertas, obrigações de empresas, fundos fiduciários imobiliários, e até mesmo ações através de fundos negociados em bolsa. O objetivo era reduzir os spreads de crédito privados (a diferença entre os rendimentos em bens privados e aqueles em títulos do governo de maturidade semelhante) e para aumentar, direta e indiretamente, o preço de outros ativos de risco, como ações e imóveis”.

Em seguida, houve “uma orientação para frente” (forward guidance – FG), que é o compromisso de manter as taxas de política em zero por mais tempo do que o justificado pelos fundamentos econômicos, reduzindo ainda mais as taxas de juros de curto prazo. “Por exemplo: comprometendo-se a manter as taxas de política de zero por um período de, digamos, três anos, implica que as taxas de juros dos títulos com uma maturidade de até três anos também deve cair para zero, uma vez que as taxas de juros de médio prazo baseiam-se em expectativas para as taxas de curto prazo ao longo dos próximos três anos”, pontua Roubini.

Tais políticas reduziram as taxas de juros de longo e médio prazo em títulos do governo e títulos de hipoteca, além de reduzirem os spreads de crédito sobre os ativos privados, impulsionarem o mercado de ações, enfraquecendo a moeda e reduzindo as taxas de juros reais, aumentando as expectativas de inflação. Então, eles foram parcialmente eficazes. “Ainda assim, na maioria das economias avançadas, o crescimento (e inflação) manteve-se teimosamente baixa. Não houve falta de razões para isso, dada a desalavancagem a partir de dívidas privadas e públicas elevadas, políticas monetárias não convencionais poderiam impedir recessões graves e deflação; mas eles não podiam trazer um crescimento robusto e 2% de inflação”, pontua Roubini.

O articulista ressalta que a economia política aplicada na maior parte das reformas estruturais implica em um processo demasiadamente lento, ao mesmo tempo em que seu efeito é limitado em diversos países por conta dos elevados níveis de déficit e de dívidas e em outros, como a zona do euro, o Reino Unido e os Estados Unidos, por exemplo, devido a uma reação política contra novos estímulos fiscais, levando a medidas de austeridade que minam o crescimento a curto prazo – e levando os bancos centrais a serem os únicos a darem suporte para a demanda agregada e prevenindo a deflação.

“Como resultado, as políticas monetárias não convencionais – entrincheiradas por quase uma década – têm-se tornado convencionais. E, tendo em vista o crescimento sem brilho persistente e risco de deflação na maioria das economias avançadas, os formuladores de políticas monetárias terão de continuar a sua luta solitária com um novo conjunto de políticas monetárias não convencionais “não convencionais””, diz Roubini, citando as taxas de juros negativas vigentes em países como Suécia, Suíça, Dinamarca, Japão e na zona do euro, onde as reservas excessivas mantidas pelos bancos centrais sejam tributadas com uma taxa negativa. 

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

1 Comentário

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  1. A realidade é a seguinte:

    Política monetária tem que ser feita para o mercado interno. Ficar dependendo do crescimento dos outros países para ir no vácuo é política tupiniquim. 

    Primeiro o BC deve ser totalmente ligado ao governo. Depois a política econômica deve defender a nação. A economia deve privilegiar o crescimento interno, coisa fácil de fazer (aja vista a demanda reprimida gigantesca do mercado interno), mas deve ter o interesse de fazer. O crescimento externo deve vir em segundo plano.

    Um exemplo: O setor de máquinas e implementos, falta máquina em todo lugar o Brasil é um país braçal infelizmente. Outro setor é o de construção cívil. 

    O Brasil é terra virgem uma demanda maior de 5% incrementa na inflação pela incapacidade das industrias em atender a demanda. O governo deu desonerações fiscais mas não fez o dever de casa que é observar a queda dos preços por aumento de produtividade.

    O Brasil é um país continental e ficar chorando a retração da China é o fim…

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