Carros de ativistas alemães e austríacos cruzam fronteira para ajudar imigrantes

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Enviado por Vânia

É muita tristeza… Ufa!

Comentário Marly

Emocionante a atitude dos que correm em socorro. Um alívio para os que têm essa oportunidade. A impotência nos domina ao assistir esses seres humanos caminhando, deixando toda uma vida para trás. E a morte sempre presente nessa fuga. Não há palavras para descrever essa tragédia. Um crime o que fizeram com esses países!

Comboio

Da BBC

 

Um comboio de dezenas de carros dirigidos por ativistas alemães e austríacos cruzou a fronteira da Hungria para dar carona a imigrantes e ajudá-los a chegar à Europa Ocidental.

A iniciativa foi chamada de “comboio dos refugiados”. Até a tarde deste domingo 140 carros já haviam deixado Viena com o objetivo de buscar imigrantes na capital húngara, Budapeste.

Desde que a Hungria abriu as suas fronteiras, na sexta-feira, após dias de caos e confronto, milhares de refugiados – a maior parte deles vindos da Síria – decidiram deixar o país em direção a Áustria ou Alemanha.

Muitos, frustrados por terem sido impedidos de embarcar em trens em Budapeste, começaram a caminhar ao longo de uma estrada para a Áustria – daí a iniciativa do comboio.

“Acho que esse é meu dever. Sou mãe e não posso mais fechar os olhos (para o que está acontecendo)”, disse à BBC a ativista austríaca Angelika Neuwirth. “Somos todos seres humanos. Ninguém é ilegal.”

Alguns ônibus e trens também foram disponibilizados para levar os refugiados da fronteira da Hungria até Viena ou a Alemanha.’

Não está claro como a polícia húngara deve responder à iniciativa do comboio. Segundo sua porta-voz, Viktoria Csiszer-Kovacs, quem atravessar a fronteira levando imigrantes estará violando a lei.

Na semana passada, quatro ativistas austríacos que tentaram dar carona a refugiados foram detidos acusados de tráfico de pessoas, mas acabaram sendo liberados pouco depois.

Nas últimas horas, alguns ativistas conseguiram transportar imigrantes sem serem parados pela polícia.

Papa

Enquanto o comboio de alemães e austríacos se dirigia a Budapeste, no Vaticano, o Papa Francisco exortou os católicos de toda a Europa a ajudar a resolver a crise dos imigrantes.

Segundo o pontífice “cada paróquia católica, cada comunidade religiosa, cada mosteiro e cada santuário na Europa” deveria hospedar uma família de imigrantes.

Papa (AFP)

“E isso deve começar por minha diocese em Roma”, disse.

Autoridades alemãs dizem que 11 mil pessoas chegaram ao país para pedir asilo no sábado e mais 10 mil estavam sendo esperadas para este domingo.

Segundo autoridades da Alemanha, Áustria e Hungria a decisão de permitir que os imigrantes atravessem suas fronteiras tem como objetivo evitar uma crise humanitária, mas não cria um precedente.

Na tarde deste domingo, o chanceler da Áustria, Werner Faymann, já anunciou que as medidas de emergência adotadas para lidar com a crise dos refugiados começariam a ser removidas de forma gradual.

“Sempre dissemos que essa era uma situação de emergência em que devíamos agir rápido e de forma humana”, disse Faymann. “Ajudamos mais de 12 mil pessoas em situação grave. Agora, temos de caminhar passo a passo para sair dessa situação de emergência para uma normalidade.”

Pelas regras da União Européia, os refugiados precisam pedir asilo ao primeiro país do bloco em que colocam os pés – embora haja quem defenda uma revisão desta norma.

Em agosto, a Alemanha já havia flexibilizado essa regra ao permitir que os Sírios registrem seu pedido de asilo no país, independentemente de como tenham entrado na Europa.

Ainda neste domingo, uma cerimônia foi realizada em Vancouver, no Canadá para lembrar o menino sírio Alan Kurdi, sua mãe e seu irmão, que morreram tentando atravessar o Mar Mediterrâneo para fugir para a Europa.

A foto do corpo de Alan numa praia da Turquia causou grande impacto e consternação ao redor do mundo.

O menino tinha uma tia no Canadá, Tima Kurdi, mas o país havia rejeitado um pedido de asilo para a família.

Tima diz que agora está preocupada com o pai das crianças, Abdullah, que sobreviveu à tragédia e enterrou a família na Síria na sexta-feira.

“Ele não quer deixar os túmulos. Está dormindo há três dias no chão, ao lado deles”, conta Tima.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

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  1. Crise patrocinada

    Os cinco grandes financiando tiranos locais e a consequente crise popular sob a desculpa de livrar os povos da tirania dos antigos governantes. Aqueles que democráticos ou não, os desagradavam porque tentavam dar uma agenda própria a seus países.

    Enquanto isso, os países onde a tirania é muito pior, Arábia Saudita, Omã, Abu Dhabi e outros, tentam destruir a economia russa via baixa do preço do petróleo. E dane-se se arrasta várias nações ditas “aliadas” (toda a América Latina fica aí).

    Por outro lado, a concentração de renda no primeiro mundo já alcança os mesmos níveis do início do século XX (movimento se iniciou nos anos 90). E os ricos seguem financiando a ideologia da migração da renda para os seus bolsos, via paraísos fiscais, desregulamentação, baixa de impostos, enfraquecimento dos governos e de tudo que é público. Cada vez mais se fazem leis que garantem a liberdade do capital e em contrapartida aprovam-se leis que restringem direitos universais.

    A grande imprensa faz o trabalho da devida justificação ideológica, embaralhando as questões, fazendo com que a maioria do populacho não consiga saber nem quais são perguntas, o que dirá conhecer as respostas. Eles sabem, isto já foi estudado, que as pessoas não querem o conhecimento, mas sim certezas (Bertrand Russel), e desde a formação inicial familiar, necessitam de símbolos e ídolos para seguir acriticamente… O senso comum sempre é “aprendido”…

    Só falta agora a promoção de uma guerra em escala mundial, sob a desculpa da garantia da “liberdade”… Aí teremos o de sempre… Gente que não se conhece matando uns aos outros, para garantir o dinheiro e poder de gente que se conhece muito bem.

    Um abraço.

    1. Ótimas considerações.

      Ótimas considerações. O que se vê é um festival de hipocrisia, por sobre o sofrimento de tanta gente. E nunca as potências europeias (que colonizaram o mundo), os Estados Unidos (formados por imigrantes) e seus aliados no Oriente Médio assumem sua responsabilidade sobre a desgraça na Síria, no Iraque, no Afeganistão, na Líbia, em outros países da África, etc. Agora têm lidar com as grandes migrações em território europeu. Na grande mídia também não se toca nisso, para além do apelo sentimental na exploração da miséria alheia. No mais, pessoas individualmente e organizações sociais europeias se mobilizam para ajudar os pobres imigrantes, enquanto a direita já começa a atacá-los. Abração.

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=jjK5nPbg258%5D

      1. Claro!

        Claro Jair, a grande imprensa ao mesmo tempo que faz o trabalho de “capitão do mato” da elite, é parte interessada no processo. Ela coloca o problema apenas sob o ponto de vista emocional e esconde o problema estrutural, ou seja, ela é participe dessa desgraceira toda e esconde isso incensando o senso comum emocional sem contexto das massas acríticas.

        Obrigado pelas palavras… Um abraço. 

    2. sim, claro!

      Tem toda razão, Sergio. Aliás, tem um artigo bem interessante na Carta Maior, fazendo essas mesmas considerações.

      abraço!

      Segue:

      Quem é responsável pela crise de refugiados na Europa?

      A crise é o trágico subproduto de uma política criminosa de guerras e de intervenções para mudança de regime, implementadas pelos EUA e pela Europa.

      Bill Van Auken – Global Research

       The U.S Army / Flickr

       

      As imagens angustiantes do menino sírio de três anos de idade, primeiro deitado de barriga para baixo, morto, na areia de uma praia turca, em seguida o corpo sem vida embalado por um agente de salvamento, parecem ter aberto os olhos do mundo para a desesperadora crise que tem acontecido diariamente nas fronteiras da Europa.
       
      A família do menino, que se chamava Alan Kurdi, vinha de Kobani, fugindo junto com centenas de milhares de outros sírios. O cerco prolongado do Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS) e uma intensa campanha de bombardeios dos Estados Unidos deixou a cidade no norte da Síria em ruínas: casas, sistema de abastecimento de água, eletricidade, saneamento e infraestrutura médica, tudo foi destruído. O menino, sua mãe e seu irmão de cinco anos estavam entre os 12 sírios que se afogaram na tentativa de chegar à Grécia. Destruído psicologicamente, seu pai, o único sobrevivente da família, disse que voltaria para a Síria com os corpos, tendo afirmado a parentes que gostaria de morrer e ser enterrado ao lado deles.
       
      Há muitos culpados por essas mortes, que são apenas algumas das milhares de pessoas que perderam as vidas tentando atravessar o Mediterrâneo ou morreram sufocadas após se espremer em vans como sardinhas.
       
      O Governo do Canadá ignorou o pedido feito em junho pela tia do menino, que vive na Columbia Britânica, para conceder asilo à família de Alan.
       
      Os países da União Europeia têm tratado a onda de refugiados com repressão e dissuasão, construindo novas cercas, criando verdadeiros campos de concentração e mobilizando a polícia de choque, para erguer uma Europa fortificada, para manter bem longe famílias desesperadas como a de Alan mesmo que seja preciso condenar milhares e milhares à morte.
       
      E os EUA? Os políticos e a mídia americana continuam convenientemente mudos sobre o papel central de Washington na criação desta tragédia que assistimos em diversas fronteiras da Europa.
       
      O Washington Post, por exemplo, publicou um editorial no início da semana afirmando que “não se pode esperar que a Europa consiga resolver sozinha um problema originado no Afeganistão, no Sudão, na Líbia e, acima de tudo, na Síria”. O New York Times usou o mesmo raciocínio, escrevendo: “As raízes desta catástrofe estão em crises que a União Europeia não pode resolver sozinha: as guerras na Síria e no Iraque, o caos na Líbia…”
       
      Quais são, por sua vez, as “raízes” das crises nestes países, que deram origem a esta “catástrofe”? A resposta a esta pergunta é apenas um retumbante silêncio.
       
      Qualquer consideração séria do que está por trás da onda de refugiados dirigindo-se para a Europa leva à conclusão inevitável de que se trata não apenas de uma tragédia, mas de um crime. Mais precisamente, a crise é o trágico subproduto de uma política criminosa de guerras e de intervenções para mudança de regime, implementadas sistematicamente pelo imperialismo norte-americano com a ajuda e a cumplicidade de seus aliados da Europa Ocidental ao longo de quase 25 anos.
       
      Com a dissolução da União Soviética, em 1991, a elite governante dos EUA concluiu que estava livre para explorar o incomparável poderio militar do país como forma de compensar o processo de declínio econômico do capitalismo americano. Por meio de agressão militar, Washington embarcou na estratégia de estabelecer sua hegemonia sobre os principais mercados e fontes de matérias-primas, começando pelas regiões ricas em energia do Oriente Médio e da Ásia Central.
       
      A estratégia foi resumida de forma simplificada numa frase do Wall Street Journal, logo após a primeira guerra contra o Iraque, em 1991: “O uso da força funciona”.
       
      O que o mundo testemunha hoje, com os milhares de refugiados desesperados na tentativa de chegar à Europa, é efeito desta política, mantida desde então.
       
      Em mais de uma década, as guerras do Afeganistão e do Iraque, travadas com o pretexto de serem “contra o terrorismo”, e justificadas com mentiras infames sobre “armas iraquianas de destruição em massa”, só foram capazes de devastar sociedades inteiras, matando centenas de milhares de homens, mulheres e crianças.
       
      A estas guerras seguiu-se a guerra por mudança de regime – liderada pelos EUA e OTAN – que derrubou o governo de Muammar Gaddafi e transformou a Líbia em um arremedo de país, arruinado pela luta contínua entre milícias rivais. Então veio a guerra civil síria – alimentada, armada e financiada pelo imperialismo norte-americano e seus aliados, com o objetivo de derrubar Bashar Al-Assad e substituí-lo por um fantoche obediente às ordens ocidentais.
       
      As intervenções predatórias na Líbia e na Síria foram feitas em nome dos “direitos humanos” e da “democracia”, recebendo o apoio de uma série de organizações de pseudo-esquerda que representam camadas privilegiadas da classe média – o Partido da Esquerda, na Alemanha, o Novo Partido Anticapitalista (NPA), na França, a Organização Internacional Socialista, nos EUA, entre outros. Alguns chegaram a saudar as ações de milícias islamistas armadas e financiadas pela CIA e chamá-las de “revoluções”.
       
      A situação atual e a pressão insuportável de morte e destruição que leva centenas de milhares de pessoas à fuga desesperada e fatal representam a confluência de todos estes crimes do imperialismo. A ascensão do ISIS e as guerras civis sectárias e sangrentas em curso no Iraque e na Síria são o produto da devastação do Iraque pelos EUA, seguida do apoio da CIA e dos aliados regionais do imperialismo americano ao ISIS e às milícias islamistas semelhantes na Síria.
       
      Ninguém foi responsabilizado por esses crimes. Bush, Cheney, Rumsfeld, Rice, Powell e outros do Governo Bush, que travaram uma guerra de agressão no Iraque com base em mentiras continuam totalmente impunes. No Governo atual, de Obama para baixo, ainda precisam dar explicações pelas catástrofes que desencadearam na Líbia e na Síria. Os cúmplices são muitos, do Congresso dos Estados Unidos, que tem atuado como um carneirinho no que diz respeito às políticas de guerra, a uma mídia chapa branca, que ajuda a legitimar perante o público americano guerras baseadas em mentiras, passando pelos pseudo-esquerdistas que atribuem um papel progressista ao imperialismo dos EUA e suas “intervenções humanitárias”.
       
      Juntos, são responsáveis %u20B%u20Bpelo que acontece hoje nas fronteiras da Europa, que deve ser visto, mais do que uma tragédia, como um prolongado e contínuo crime de guerra.
       
      Tradução de Clarisse Meireles

        http://cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FInternacional%2FQuem-e-responsavel-pela-crise-de-refugiados-na-Europa-%2F6%2F34421

       

      1. Ótimo

        Texto certeiro Vânia!

        Desvenda a óbvia hipocrisia mundial… Digo mundial, porque mesmo países que não tem responsabilidade direta pela situação ficam caladinhos (Brasil no meio)… Sacumé, chutar o balde, chamar os responsáveis “às falas”, aumenta bastante o risco desse tipo de “patrocínio” ocorrer no seu próprio país…

        Um abração.

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