Cheney e Obama: primos que se beijam

Por John Hemingway

Montréal (Canadá) – Todos que acompanharam a eleição presidencial dos EUA sabem, ou deveriam saber, que Barack Obama e Dick Cheney são parentes distantes (primos em oitavo grau), mas aparentemente eles têm mais em comum do que apenas o ancestral francês huguenote que colonizou Maryland nos 1600s. Adicionando seu nome à crescente lista de neoconservadores que admiram o presidente eleito, o vice-presidente Cheney (o “Dark Lord” e o cérebro por trás das atrocidades e crimes de guerra da administração Bush) declarou em recente entrevista à ABC News que Obama escolheu uma “equipe muito boa” para cuidar da segurança nacional.

Numa conversa surpreendentemente franca e aberta, Cheney defendeu com veemência a invasão preventiva do Iraque, justificou as técnicas de tortura por afogamento na “guerra ao terror” como necessárias em determinados momentos e se opôs ao fechamento da prisão de Guantânamo Bay, Cuba. Mas, mais do que qualquer outra coisa, elogiou Obama.

No programa “Good Morning America” de terça-feira, Cheney admitiu que as escolhas de Obama eram conservadoras: “Não estou perto de Barack Obama, obviamente”, mas “a idéia de manter o [Robert] Gates na defesa é excelente. Acho que Jim Jones (general aposentado) será muito eficiente como conselheiro de segurança nacional “. Cheney disse também que embora ” não nomeasse Hillary Rodham Clinton para a secretaria de Estado, reconheço que ela trabalha duro e é muito inteligente, pode revelar-se exatamente o que o presidente Obama precisa”.

O vice-presidente parecia não ter mais do que coisas boas a dizer sobre a futura administração e por que não? Bob Gates como secretário da Defesa de Bush foi o encarregado de implementar as famigeradas “ondas” no Iraque, uma operação anti-insurgência que foi (nas palavras de Obama) um sucesso “para além dos nossos sonhos”, em parte devido aos bombardeios selvagens (um flagrante crime de guerra) realizados pelos aviões de guerra americanos sobre a população xiita de Bagdá e outras cidades iraquianas.

O general aposentado Jim Jones, que Obama queria originalmente não para a segurança nacional, mas como seu companheiro de chapa, na vice-presidência, tem uma longa folha de serviços prestados aos republicanos. Apoiou McCain durante a campanha e, em diversas ocasiões, manifestou apoio ao candidato republicano sobre a necessidade de uma vitória na guerra do Iraque.

A senadora Clinton vai ter que se aliar aos neocons e aos sionistas na política externa, por isso não é supresa que Cheney a considere uma boa escolha de Obama. Ela votou a favor da invasão do Iraque em 2003 e durante a campanha presidencial fez de tudo para cair nas graças dos homens de Bush e do Pentágono. Tudo calculadamente, para ela ganhar a eleição em 2008. Mas, infelizmente para Hillary Clinton, ela concorreu com um candidato que era mais cínico e politicamente mais maquiavélico do que ela, em sua habilidade de apresentar-se ao público americano como sendo a única opção de conseguir a paz no Médio Oriente e um mundo melhor. Claro, agora ela faz parte da equipe de Obama e o presidente eleito está se mostrando menos pacifista do que imaginavam os liberais que o apoiaram.

Bem, Dick Cheney deve estar muito aliviado ao ver que ele está deixando a Casa Branca em mãos confiáveis e ideologicamente semelhantes. Agora, ele pode finalmente se aposentar e mudar-se para o Colorado, onde costuma atirar em codornas e pombas ou em um de seus parceiros caça, e nunca mais terá que se preocupar com o homem que vai ocupar o lugar de W Bush no Salão Oval da Casa Branca. Nada vai mudar.

Luis Nassif

11 Comentários

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  1. Nada muda nos EUA.

    Em
    Nada muda nos EUA.

    Em controle do rumo das coisas estão os mesmos grupos de poder.

    Nada muda em Israel (ou alguem acredita que os líderes israelenses não sabem que esses ataques fortalecem o Hamas e preparam a região para um conflito maior?). É o que desejam. É o grande negócio.

  2. Ora, com o enorme respeito
    Ora, com o enorme respeito que tenho pelo John Hemingway e conhecendo sua posição arguta sobre a política de seu país, acho que o Chenney puxar o saco do Barack Obama é uma esperteza natural.
    Chenney é um dos maiores bandidos da política norte-americana na era Bush. Suas empresas ganharam dinheiro adiantado (fala-se em 80 Bilhões de dólares) para reconstruir o Iraque, enquanto ele, na Casa Branca, mandava junto com Bush e os generais destruir mais! Um negócio como este nunca se viu no mundo!
    Eu quebro as suas janelas, e ganho mais se quebrar mais, porque sou eu que vou repô-las. . . Tem business melhor que este?
    O fato deste criminoso de guerra (Haia está à espera, demora mas acontece…) elogiar a nova equipe de governo não compromete Obama, mas mostra a malandragem de quem sabe que, mais cedo ou mais tarde, pode ser incriminado pela próxima administração.

  3. Nao eh bom sinal, muito pelo
    Nao eh bom sinal, muito pelo contrario. Os neocons sao integralmente toxicos.

    Eles ainda estao procurando o lugar de enterrar uma faca nas costas de Obama.

  4. Não tem como resistir ao “eu
    Não tem como resistir ao “eu não disse?”. O projeto de manutenção da hegemonia dos EUA é suprapartidário. Tanto faz Obama como Clinton, Bush como McCain.

    Se ainda fosse necessário algum exemplo, vejamos a invasão da faixa de Gaza por Israel, ora em curso. O “proxy” dos EUA começou a perceber que está se fechando a janela de tempo para um conflito regional que possa ser enfrentado e vencido militarmente. Procura forçá-lo tentando atrair o Líbano/Hezbollah, a Síria e o Irã para a guerra total, daí estar se apresentando, até o momento, particularmente refratário à pressão internacional. Obama apóia francamente Israel, e não faz nenhum pronunciamento sobre a invasão apenas porque lhe é cômodo manter, neste momento, a impressão de que poderá atuar como alguma espécie de moderador. Mas, quem teve a pachorra de acompanhar a campanha deste falcão há de se lembrar de seu pronunciamento feito à AIPAC (cf.
    http://www.youtube.com/watch?v=0cOJNC2EuJw). Esse discurso é absolutamente didático e resume a visão “institucional” da política estadunidense para o Oriente Médio.

    De resto, caminhamos para um dos períodos mais perigosos da História contemporânea. Não vejo como escapar de nova guerra mundial dentro dos próximos 20, 25 anos. Seja pela necessidade de nova definição das relações mundiais de poder – e os EUA se sentirão mais tentados a precipitar o conflito quanto mais agudamente percebam a possibilidade de perda da hegemonia que ora detêm – seja pelo aumento da intensidade e alastramento generalizado das guerras urbanas previstas por Mike Davis em seu “Planeta Favela”.

  5. “Não tem como resistir ao “eu
    “Não tem como resistir ao “eu não disse?”. O projeto de manutenção da hegemonia dos EUA é suprapartidário. Tanto faz Obama como Clinton, Bush como McCain”: verdade pura. Nao existe esquerda e direita nos EUA porque somente existe um projeto de poder.

  6. Eu acho que não é bem assim !
    Eu acho que não é bem assim ! Chenney pode ter uma surpresa “desagradavel ” para ele. Apesar de ter se cercado de pessoas conservadoras, Obama tem luz própria. Ele dará a palavra final, e pela formação moral e intelectual do mesmo, ele caminha pelo lado oposto de Chenney!

  7. Ah, entendi o link,
    Ah, entendi o link, enfim…

    Obama não é inocente. Apesar da formação familiar humanista, ele não poderá ser moderador para a paz com os nomeados no setor da Defesa. Não existe milagre.

    Da mesma forma, Lula tem uma formação evidente junto às classes trabalhistas e no entanto nomeia Henrique Meirelles para presidente do Banco Central, cujas ações são contrárias às origens de Lula. Não existe milagre.

  8. Tdo depende d quais as
    Tdo depende d quais as pretensões d Obama…
    Apenas ser Presidente ou Agente d mudança
    Todos sabemos q, Se for o segundo caso e não quiser terminar nem morto nem frustrado, vai ter d jogar muito mas muuuuito Xadrez político

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