Como financiar a retomada econômica global, por Andrew Sheng, et al

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Para articulistas, falta vontade em resolver questão da demanda reduzida nos países avançados

Jornal GGN – Existe uma percepção crescente de que, no mundo globalizado atual, os mercados financeiros estão além do controle dos formuladores de políticas nacionais. Enquanto algumas economias podem moldar os mercados globais de forma interconectada, elas enfrentam uma série de limitações políticas e econômicas. Como resultado, a economia global está preso em um ciclo financeiro pró-cíclica, com poucas opções para escapar.

“Como Claudio Borio apontou anos atrás, o ciclo financeiro global é mais longo e maior do que os ciclos econômicos reais, e está intimamente associado com o valor flutuante da moeda de reserva dominante, o dólar americano. Quando o dólar está fraco, os fluxos de capitais dos Estados Unidos vão para outros países, onde se estimula o crescimento por meio do aumento de crédito”, dizem os economistas Andrew Sheng (colaborador do Asia Global Institute da Universidade de Hong Kong) e Xiao Geng (diretor do IFF e professor da Universidade de Hong Kong), em artigo publicado no site Project Syndicate.

Infelizmente para estes países, normalmente localizados no mundo emergente, as entradas também estimulam a inflação, bolhas de ativos e valorização da moeda. O resultado está no aumento do risco financeiro e geopolítico, o que faz com que o dólar norte-americano seja atraente para os investidores. Como os fluxos de capital estão voltando para os Estados Unidos, os ganhos obtidos com a moeda aumentam enquanto as economias emergentes precisam lidar com consequências como desvalorização da moeda e estouro de bolhas de ativos.

“Em um mundo de taxa de juro zero, um dólar forte desempenha o mesmo papel de deflação nos mercados globais, assim como o padrão ouro fez durante os anos 1930. Os EUA é, portanto, a economia que é melhor equipada para tirar o mundo da deflação secular. Mas isso requer vontade de resolver o chamado dilema de Triffin – o conflito entre interesses internacionais de longo prazo e os interesses nacionais de curto prazo que os emitentes de moedas de reserva enfrentam – executando déficits em conta corrente cada vez maiores, que permitem que os EUA atendam a demanda global por liquidez”, pontuam os analistas.

Isso parece improvável, não só para os EUA mas também para outros países emissores de reserva no resto do mundo avançado. A estagnação do crescimento econômico e os altos encargos na Europa e no Japão têm afetado a vontade política em aumentar os impostos ou pedir por mais espaço para expansão fiscal.

Como resultado, a política monetária em todo o mundo desenvolvido tornou-se “severamente sobrecarregada”: de 2007 a 2014, os bancos centrais das quatro economias emissoras de reserva (Estados Unidos, a zona do euro, o Reino Unido e Japão) expandiram seus balanços em US$ 7,2 trilhões. Enquanto isso, a oferta de dinheiro aumentou em US$ 9 trilhões, ao passo que o crédito do setor privado cresceu US$ 1,8 trilhão, em uma “falha grave” na transmissão da política monetária não convencional para a economia real.

“Na verdade, embora as taxas de juros próximas de zero têm reduzido os custos do serviço da dívida, a carga real da dívida tem realmente aumentado nos últimos anos, devido à inflação em declínio. Enquanto as famílias e as empresas continuam a se concentrar em desalavancagem, esses países continuarão a enfrentar recessões de balanço”, dizem os articulistas.

No mundo em desenvolvimento, a China é o único candidato para a emissão de liquidez, mas seu crescimento antes espetacular está desacelerando, sem fim à desaceleração à vista – e isso está gerando bastante incerteza, mantendo os políticos chineses preocupados com os desafios domésticos.

De acordo com os articulistas, o grande problema hoje é a falta de vontade, e não de oportunidades, para fazer o que é preciso para impulsionar a demanda. “Na verdade, o investimento em bens públicos globais – ou seja, a infraestrutura necessária para atender às necessidades do mundo em desenvolvimento e para mitigar a mudança climática – poderia estimular a reativação global”. Uma estimativa indica que seriam necessários cerca de US$ 6 trilhões em investimentos de infraestrutura ao ano nos próximos 15 anos apenas para enfrentar o aquecimento global. Além disso, o G30 estima que seria preciso um adicional de US$ 7,1 trilhão em investimentos anuais pelas nove maiores economias – que respondem por 60% da produção mundial – apenas para sustentar o crescimento global moderado.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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